Pare! Olhe para o céu com atenção. Feche os olhos, sinta o cheiro do ar e a umidade do vento. Abra os olhos e num ponto fixo veja como está o movimento das nuvens, a altitude, a cor, como elas passam, de onde vem, para onde vão.
Uma das coisas que a bicicleta me ensinou foi saber com alguma precisão em quanto tempo vem chuva. No passado, em décadas, foram raras as vezes que errei o tempo que ainda tinha para pedalar seco. Hoje mudou, está estranho, mas ainda dá para fazer uma boa ideia.
Estabelecer uma ligação mais direta com a natureza dá a vida um outro sentido, algo muito maior que é difícil de explicar.
Sempre tive inveja de gente que consegue ler a vida, integrar-se com ela. Em Santa Catarina vi um pescador que sabia onde estava o peixe na rebentação da praia em noite completamente escura. Conheci mateiro sabe onde tem o que mata adentro vendo o que ninguém vê. Gente do campo, caipira ou lavrador, que olha calmamente pro céu e sabe o que virá no dia seguinte. Nuno, tio de amigos, homem igual a qualquer animal, que acampado no meio do terreno do Simba Safari conseguiu controlar as brigas dos leões, mãos limpas, simplesmente dando broncas e eventualmente um ponta pé na bunda deles. Os leões nunca reagiram contra ele.
Ler a vida, integrar-se a ela. Em raras experiências de minha vida senti me literalmente vivo. Não dá para explicar, tem que experimentar. Na vida da cidade é olhar para o horizonte...
Olhe o céu.
Passei o fim de semana em São José dos Campos visitando um velho amigo. Pedalamos na sexta-feira à noite um pouco abafado, calor agradável, céu limpo, estrelado e lua crescente, perfeito para rodar por dentro de um bairro residencial calmo. Sábado pedalei só pela manha num calor pesado, depois almoçamos feito esfomeados que tinha acabado de sair do deserto. Iríamos pedalar novamente à noite, mas ainda sofrendo dos efeitos da gula e com um calor infernal, 34º, desistimos.
Domingo, meu último dia, queria ter ficado com ele um pouco mais e dado um forte abraço de Natal antes de voltar para casa, mas olhei o celular e acabei fugindo rapidinho da chuva que eu simplesmente não conseguia ver pela janela do 10º andar do quarto do hotel.
Preparei minhas coisas, olhei de novo a meteorologia no celular e dava chuva em breve. Mudou rápido. Olhei novamente pela janela e vi só algumas nuvens altas, nada de chuva. De qualquer forma me mandei pedalando para a rodoviária, parei um pouco na maravilhosa vista do banhado de São José dos Campos com a Serra da Mantiqueira ao fundo, vista aberta, longa e nenhum sinal de chuva.
Não demorou muito entrei no ônibus, partimos e um pouco a frente apareceram as nuvens pretas e o vidro marcado pelas gotas de chuva. Cheguei em São Paulo e em casa sem chuva, almocei e caiu uma chuva torrencial. A noite deram notícia que a tempestade fez estragos e mortes em Guararema, onde caíram pingos na janela do ônibus, e em alguns bairros por aqui. Conversei com o Zé que contou que também tinha caído o mundo por lá.
Óbvio que a meteorologia do celular mais que ajuda, é precisa, ou pelo menos deveria ser já que vem da interpretação de dados de inúmeras estações meteorológicas espalhadas pelo país. Já fui enganado mais de uma vez pela sofisticada tecnologia que afirmou uma coisa e acaba acontecendo outra. Erro deles? Não. A informação do aplicativo do celular é precisa, mas genérica, tipo 'vai chover' sem dizer exatamente onde. Acontece principalmente se você estiver numa cidade imensa como São Paulo onde ilhas de calor criadas pelo cimento e a falta de verde fazem de previsões algo um tanto imprevisível.
Quando você olha para o céu vê o que vai acontecer com certa precisão no local onde você está. Use seus sensores e volte seco ou molhado para casa, sua opção.
Procure um local de onde tenha uma visão ampla, se possível o mais próximo de 360° que permita enxergar o céu longe. Aí basta olhar, sentir a velocidade do vento, seu cheiro e umidade. Dá uma divina sensação de estar vivo.
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