Começo com o Citröen Ami que se seu conceito colar vai mudar muita coisa no trânsito. Já disse isto mais de uma vez, mas creio que desta vez não pago a boca. Tudo indica que está colando porque o Renault Twizy pelo jeito colou, ou a Citröen não teria lançado o Ami e outras marcas não estariam prestes a lançar os seus. De uma certa forma é a reinvenção, mais uma, do automóvel e de sua potentíssima indústria. Eric Ferreira estava certo: o carro não vai acabar; e pelos sinais não só não acaba como dá a volta por cima.
Neste artigo do The Guardian; Ami, the tiny cube on wheels that French 14-year-olds can drive, já fazem a pergunta: não tem que ir para a ciclovia? Esta e outras perguntas que estão no ar tem que ser respondidas pelos legisladores de trânsito. Não sei se em alguma parte do mundo estabeleceram perante as leis de trânsito o que é um Segway que vai fazer uma década de existência. Acabou circulando em calçadas. Em Paris e várias outras cidades se vê mamãe guia turística sendo seguida pelos patinhos turistas, mas é difícil ver um Segway como modo de transporte individual, talvez pelo preço, muito caro. Tem polícia usando, mas também vão pelas calçadas e em casos especiais pela via. Que diferença faz por onde vão? Toda! Tanto se fala em segurança e acidentes zero, o que é impossível alcançar no meio do caos que vivemos no meio destas novas mobilidades. Sua avó vai ser atropelada por patinete, skate, entregador de aplicativo ou Segway? Coisa mais chique! hoje temos inúmeras alternativas de parar no hospital.
O que está acontecendo só deixa claro que o novíssimo trânsito não é para amanha, já é e ninguém sabe ao certo o que será. E se não regulamentarem vai ficar mais caótico com um "sei lá o que" de quatro rodas que pode ser conduzido por uma criança de 14 anos "sabe-se lá onde". A senhora que circulava a milhão pelas ciclovias de Amsterdam numa cadeira de rodas movida a um possante, barulhento e fedorento motor de 2 tempos era gozada porque era única. Imagina jovens-velhinhos neuróticos acelerando cadeiras de rodas elétricas que fazem de zero a 20 em dois segundos e que tem velocidade final além dos 35 km/h numa ciclovia, isto sem emitir um som, fora o peido do velho?
O controle de trânsito aqui no Brasil está meio que na idade da pedra, controla ou imagina controlar os motorizados, o resto meio que se dane, pedestres que o digam. Como um montão de coisas neste país não fomos capazes de fazer nem as lições primárias de casa e estamos completamente despreparados para uma mudança, qualquer que seja ela. Vide Covid!
Já existem mini mini carrinhos, menores até que este Citröen, circulando pelas cidades europeias, mas com regras e leis claramente estabelecidas e público muito específico; na Holanda especiais para pessoas com deficiência de mobilidade, por exemplo. Que eu saiba mesmo lá não existia um mini carrinho que permitisse uma criança de 14 anos ou qualquer inabilitado ou não autorizado sair dirigindo, o que dizem ser possível com este Ami (amigo em francês). O Renault Twizy, mesmo sendo muito pequeno em comparação aos outros carros, é considerado um automóvel, até mesmo porque tem agilidade para circular no trânsito normal.
Neste vídeo onde é apresentado o Ami vi uma Paris que não conheço, ou melhor, conheço mas está diferente. As imagens vão passando por várias ruas que foram reformadas para tirar o meio fio que separa a calçada da pista para os motorizados, o que está sendo feito mundo afora. O carro vai ficar, mas circulará em outra cidade, a cidade das pessoas.
Perto de casa tem uma locadora de BeepBeep, um simpático Renault Zoe, mini carro elétrico, mas carro, destes que é obrigatório a Carteira de Habilitação. Eles não são completamente silenciosos, fazem um zumbido discreto que serve para avisar pedestres e ciclistas, provavelmente pensado na experiência japonesa onde os elétricos atropelaram um bocado. Inaudíveis! Fiquei 15 dias com um híbrido que bem usado fica só no elétrico e é mudo, por assim dizer; uma delícia perigosa, um fantasma no meio do trânsito.
Os elétricos vão entrando aos poucos no Brasil, e assim vai continuar enquanto o Governo Federal mantiver o imposto alto sobre eles. Pelo jeito Brasil vai continuar sendo o rebotalho da indústria automobilística. Urge que se prepare nossas leis para a chegada eminente destas novidades. Espero que tenhamos aprendido com a pandemia que não fazer nada enquanto não chega é um péssimo negócio.
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