sexta-feira, 4 de setembro de 2020

gato por lebre; km de ciclovias por ciclistas; cidades inteligentes por emaranhados

O caderno Mobilidades do Estadão tem feito um bom trabalho publicando matérias sobre o assunto, mas dentro do site - https://mobilidade.estadao.com.br/mobilidade-para-que/falar-sobre-mobilidade-em-sao-paulo-e-sempre-citar-numeros-grandiosos/ - tem um dado interessante: 

  • 504 quilômetros é a extensão das vias para trânsito por bicicletas, sendo 473,7km de ciclovias/ciclofaixas e 30,3 km de ciclorrotas

Nunca tinha pensado nisto, mas muito se fala sobre os km de ciclovias / ciclofaixas e ciclorrotas, mas é difícil colocarem o número total de ciclistas circulando na cidade. Nunca vi na grande imprensa dados de ciclistas separados por ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, o que permitiria saber o que está valendo a pena e o que não. Fala-se muito que o número de ciclistas nas ruas vem aumentando, mas também não se detalha, o que é crucial para estabelecer uma boa política não só para a bicicleta, mas para todos os modais ativos. Vou mais longe; crucial para uma política de humanização da cidade.

Esta história me lembra o livro "Como mentir com estatística" de Darrell Huff, 1956 - se não me falha a memória.

A série de debates Retomada Verde do Estadão tem sido interessante. Assisti, dentre outras, Especialistas defendem informação e participação da sociedade no destino das cidades na pós-pandemia, palestra mediada pelo Mauro Calliare e com a participação de Phillip Yang da Urbem; Roberta Kronke da FAU USP; e de Alan Cuperstein  da C40 América Latina; achei interessante, mas rasa. Como todas outras palestras durou 1 hora, o que considero pouco para um tema tão vasto. Acaba caindo num repetitivo. Gostaria que houvesse tempo para detalhar mais, mostrar números, explicar melhor. O Estadão deve saber o público alvo que tem e para o qual se destina. Triste mesmo foi ler alguns comentários nesta e nas outras palestras. 

Há uma pesada aposta em tudo que vai melhor através da Internet, aplicativos, redes sociais, inteligência artificial e que tais. Olhem a foto tirada numa das áreas mais ricas do país e tirem suas conclusões. Para quem não entendeu é a poda de árvores para que os galhos não interfiram com a fiação aérea quando começarem os ventos e tempestades. O PIB e número de empregos gerados por cada uma destas casas é coisa séria. Aliás, não muito longe de onde tirei a foto está a casa de um dos mais importantes empresários  e um dos maiores empregadores do Brasil e além mar. Não faço ideia de quanto custa para o país ele ficar sem comunicação em casa por 8 horas, 12 horas, 24 horas, como já aconteceu mais de uma vez, mas não deve ser pouco. 

Esta segunda foto tirei por causa do simpático edifício feito de containers, é em Socorro, próximo a Represa de Guarapiranga e Interlagos, uma área com um pequeno parque industrial, mas ainda muito importante para a economia e o social. Esqueça o simpático edifício e olhe a baderna de fios. Vira e mexe dá pau. É o mesmo ou pior por toda cidade, digo São Paulo, a mais rica e uma das mais organizadas do Brasil. Será que podemos acreditar em cidades inteligentes? 

Quando fazia Bike Repórter Eldorado fui ameaçado por "estar falando demais sobre postes", que os contava nas esquinas e soltava no ar. Meu irmão, Murillo Marx, também foi ameaçado pelo mesmo motivo quando Diretor do Patrimônio Histórico do Município de São Paulo. 
A quem interessa esta baderna de postes e fios para tudo quanto é lado que nem as próprias prestadoras de serviço sabem bem de quem é? A cidade inteligente tão sonhada passa não só por estes emaranhados sem fim.




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