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O Estado de São Paulo
O plano de emergência se resume a retirar as árvores tombadas e religar a energia elétrica? E o que mais? Aprenderemos algo desta ventania? Aprendemos algo da última? Ou vamos continuar a só retirar árvores e religar a rede elétrica, e cada um que se vire com seu drama pessoal? Que é coletivo de milhões. A verdade é que se o plano de emergência se resume ao que vimos nestes três dias de apagão então não temos praticamente nada que nos salve ou pelo menos ajude. Pior, e não reagimos, aceitamos a limitação.
A ventania da sexta-feira passada deixou pelo menos 2.5 milhões de residências sem energia. Passadas quase 48 horas temos umas 1.5 milhões ainda com problemas e a promessa é que até terça-feira, ou seja, até 96 horas depois, tudo volte ao normal. Na ventania anterior que derrubou centenas de árvores não se resolveu tudo até a data final estabelecida. Estas ventanias estão cada dia mais frequentes e pelo que dizem os especialistas tendem a piorar.
Boa parte da população afetada pelo corte de energia é idosa ou tem necessidades especiais e mora em edifícios, o que dificulta muito qualquer atendimento emergencial. Fora os prejuízos para negócios, empresas e serviços. Eu tenho dificuldade em responsabilizar unicamente Enel, Prefeitura, fiação aérea e as árvores por estes constantes problemas. É inegável a falta de interesse e respeito dos paulistanos por sua cidade, o que pode ser apontado como causa de boa parte destes problemas. Nem o lixo vai para o lixo. Ouve-se e vê-se muitas reclamações e reivindicações pertinentes, mas que relatam problemas imediatos e particulares sem olhar o todo, sem procurar se aprofundar nas causas e possíveis soluções. A baderna pendurada em nossos postes deveria ser inaceitável, até as prestadoras de serviço não aguentam mais. Muito se fala em aterramento da fiação ou em deixar nossas ruas sem árvores. Moro no baixo Pinheiros entre o Largo da Batata e a Estação Terminal Pinheiros, onde a Operação Faria Lima enterrou toda a fiação. Afirmo com todas as letras: também dá problemas e não são raros. Aqui também é frequente tempestades desligarem a telefonia e internet. Segundo reportagem do próprio Estadão, cabeamento subterrâneo custa 20 vezes mais que cabeamento aéreo, isto se não encontrarem pelo caminho o que os mapas não mostram, como aconteceu nas obras da SABESP da rua Bela Cintra e Mercado Municipal, dentre inúmeras outras. Enfim, temos, nós, paulistanos, que viver com que está aí pela simples razão que a cidade, a nossa cidade, São Paulo, não tem dinheiro, capacidade e muito menos organização para fazer de maneira correta o aterramento dos cabos. Que seja aérea, mas que funcione, o que é possível como provam inúmeras cidades pelo mundo. O nosso problema, brasileiros, paulistas e paulistanos, é não termos consciência do que é qualidade, do que é fazer bem feito, de entender o que está acontecendo e como melhorar sem apontar culpados. Os postes que temos estão absurdamente sobrecarregados. É comum encontrar funcionários das prestadoras de serviço de telefonia e internet encontrando fiação aérea que não se sabe a quem pertence e se está conectada. Muitos não têm sequer autorização para estar naqueles postes. Alguém fala uma palavra? Alguém se interessa? Fui Bike Repórter da Rádio Eldorado FM entre 1999 e 2001, comecei a fazer comentários sobre postes e fui ameaçado para valer. Meu irmão, Murillo de Azevedo Marx, lá pelo final dos anos 70, então Diretor do Patrimônio Histórico do Município de São Paulo, tentou mexer com a questão e foi ameaçado de morte, como relatou para família num jantar. Poste e fiação aérea não é para iniciantes. O povo se cala, só fazendo a maior gritaria quando lhes falta luz em casa. E como os postes não vão sair de onde estão a ideia genial é que se derrube as árvores. Muitas caem porque são plantadas em cova rasa ou em local inapropriado. Não quero entrar aqui na questão dos ventos que são acelerados pela turbulência criada por edifícios altos. Estou falando besteira? Procurem e acharão com facilidade simulações matemáticas de ventos em cidades. Ou um documentário sobre a turbulência causada por um edifício construído sem estudo de aerodinâmica urbana que derruba e arrasta pessoas na rua. As razões para a falta de energia ou internet independem de ventanias, como creio que a maioria já tenha percebido, mas quem se interessa? É bom se interessar porque numa economia altamente digitalizada pelo menos o 3G tem que funcionar direito, o que nem isto vem acontecendo. Tenham certeza, vai doer no bolso.
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