Ontem almocei com um amigo e quase caí da cadeira quando ele reconheceu seus próprios erros. Cabeça brilhante, ideias estruturadas, mesmo que fora da curva para os simples mortais, coisas que fazem todo sentido. Os almoços sempre foram sentar e ouvir, e de preferência comer bem devagar porque o parto de tanto ouvir demorava. Ontem ele disse com todas as letras que reconhecia não só minha voz, mas também minhas posições discordantes
Numa sociedade profundamente individualista, como a que estamos vivendo, reconhecer seus próprios erros não é para qualquer um. Numa de suas falas sem papas na língua, Pondé, filósofo, fuzilou: não vamos mudar. Temo fudido! E acredito que mesmo sendo anunciado aos quatro ventos que temos que mudar com urgência, não vamos mudar mesmo. Concordo em grau, gênero e número com ele, caro Pondé.
Não vamos mudar do dia para a noite, como urge. Ou vamos mudar para não mudar nada. Nossos erros atávicos fazem parte essencial do sistema de auto-proteção de nossa individualidade, indispensável para sobreviver socialmente.
Meu caro amigo, aquele do almoço, pensa diferente, e tenho a dizer, pensa correto, por isto assusta os amigos, que sabem que tem que levá-lo a sério, muito a sério, mas não o fazem porque teriam que abdicar de uma montanha de coisas, ideias, princípios. Provavelmente também seriam tidos como exóticos, para dizer o mínimo, talvez o mais assustador. Viver fora da boiada? Nem pensar em pensar diferente. Tá louco?
Para conseguir mudar de fato seria necessário educar estabelecendo dúvidas na cabeça do povo. Iria desmontar um monte de interesses muito bem estabelecidos e perenes. Não vai acontecer.
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