No meio de um trânsito infernal o que me salvou foi o som do carro com Larry Adler com sua mágica gaita acompanhando várias versões de clássicos da música americana. Maravilhoso. Odeio trânsito e minha relação com estar dentro de um carro é cada dia mais precária. Largo o carro na garagem e volto para minha casa pedalando numa das tardes mais quentes da história paulistana. Em ruas onde um dia sonhei que passariam os ciclistas o entupimento está tão grande que tive que seguir pela calçada.
Chego em casa exausto do calor e deito por uns minutos no chão, o local mais fresco de toda a casa. O silêncio não tem preço. Fico com olhos fechados por um bom tempo, mas não cochilo, os pensamentos não param, muito menos as obrigações.
Sinto saudades de minha cidade, esta mesma que vivo hoje e que no maldito que acabo de passar não reconheço mais. É o preço do progresso? Será progresso?
Quero sair de casa para caminhar e fazer umas compras para a geladeira, mas o mar não está para peixe, os ladrões estão em tempo de pescaria, os vizinhos contam um assalto atrás do outro. Não acredito, mas por via das dúvidas é bom ficar em casa.
Quero tirar os 550 milhões na Mega Sena. Quem disser que não quer não está falando a verdade, ou não sabe sobre o que se trata. Vou mudar minha forma de vida? Não. Então para que tanto cacau?
Quero comprar um destes morros carecas cheios de cupins que cansei de ver quando viajava para Cambuquira e reflorestá-lo. A ideia não é idiota, o único problema é que não estarei vivo para ver o resultado. O resto dos desejos sobre o que fazer com os trocados se eu ganhar a Mega Sena são mais banais, mas definitivamente não incluem comprar um carrão. Nada contra carros, muito pelo contrário, mas no meio deste engarrafamento ele não servirá para nada. Prefiro a liberdade, que não tem preço.
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