quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Não odiamos o automóvel; amamos a bicicleta

Até que morte os separe... na vida a dois de vez em quando este juramento acaba se tornando realidade; de vez em quando. Mas... como se costuma dizer, ou casa ou compra uma bicicleta, e vem a piada pronta, mais fácil e seguro comprar uma bicicleta. Aliás, é muito mais provável que você vá terminar uma vida longa, feliz, livre e sadia com ela, a bicicleta, óbvio. Eu disse terminar a vida com ela e não por causa dela, a bicicleta; vale aqui o mesmo que num casamento véu e grinalda.

Na vida real, incluindo a dos casamentos, é muito mais normal passar toda vida num automóvel..., num posto de gasolina..., num congestionamento..., e mesmo quando uma maravilhosa vida de casado os separe, o casal, nem o rabecão, o último automóvel de todo ser humano, escapará do congestionamento.

A verdade é que por mais desejado que seja, por mais difícil que tenha sido pagar, por mais amado enquanto o tanque de gasolina está cheio, a estrada vazia e sem pedágio, é muito raro o casamento com um automóvel acompanhar seu dono até que a vida os separe. Normalmente ele, automóvel, se vai antes. Automóveis, como tudo nesta vida, têm obsolescência programada. Cuidar de um carro por toda a vida, até ele se transformar em chapa preta, ou de colecionador, demanda muitos gastos, muitas horas de dedicadas, muita briga no outro casamento, o de véu e grinalda. 
A bem da verdade se não cuidar qualquer relacionamento também acaba, e rapidinho. Por exemplo, não raro a esposa força a troca do automóvel, e não ouse fazer piada sobre isto ou apanha. Conheço várias histórias de "ou eu ou teu automóvel", com fins diversos.

Desconheço quem realmente odeie o automóvel. Tem muita gente que fala que odeia da boca para fora. Na hora "h" abre a porta e senta feliz e confortável para seguir viagem. Ufa! Não é um amor, até tem quem realmente ame, via de regra são amantes, o dono e o automóvel, aqueles ou aquelas que podendo fecham a porta, ligam o ar-condicionado e estão felizes e afivelados a eles, automóveis, até que a viagem acabe. Parecido com a cerveja gelada entregue no sofá frente a TV. Óbvio que chegando, de automóvel, no bar vai xingar a lata de sardinhas, assim como reclamará da pergunta da esposa em pé ao lado do sofá exatamente na hora do gol. Mas casamento com eles, automóveis, até que a morte os separe, ter um para chamar de seu, só seu!, ter cuidar, lavar, abastecer, polir, fazer balanceamento, trocar filtros, gastar com ele..., upa! gastar, gastar, gastar..., nestes momentos vem o "eu odeio o automóvel". Mais ou menos parecido com o "meu bem, vai rápido, preciso usar o banheiro".

Agora veio esta nova geração que tem outros olhos para todo tipo de casamento, principalmente com o automóvel, cada vez mais utilitário, cada vez menos eu odeio ou amo, mais eu fico, uso e usurpo enquanto preciso. Pode-se dizer "by by american way of life" até mesmo lá, país do automóvel Estados Unidos, onde "o nada vai nos separar", a total dependência do bibi-fonfon, está cada dia sendo mais questionada. 

A relação umbilical de nossa sociedade com o automóvel não é só uma questão de amor e ódio, mas também de pura praticidade. Automóvel funciona. Não funciona, troca, vende ou descarta, mas com um por perto a disposição. Queira ou não queira, automóvel é necessário. Pelo menos não fala. Somos assim, mesmo que neguemos ajoelhados em juras perante o altar, o de véu e grinalda, casamento é bom enquanto dura, ou o saco não estoura. 

Já a relação com as bicicletas, esta é outra história. Se decidimos não trocar alianças com véu e grinalda no altar perante o padre, padrinhos e todos convidados, com certeza alguma vez na vida vamos ter que trocar um pneu furado da bicicleta, que no final das contas tem a mesma forma e simbologia de uma aliança.


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