Ontem choveu e não pude voltar à romaria. Não deu para sequer para sair às ruas e passear por São José dos Campos. Fiquei dentro do quarto do hotel numa penitência que não estava no programa. Olhando a bela vista pela janela confessei a mim mesmo meus próprios pecados. Nada de novo, só que desta vez fui sincero. Upa! Terei sido?
Os ponteiros do relógio correm, envelhecemos, o tempo passa, e tudo que que parece óbvio deveria permanecer igual. Definitivamente não é assim. Tudo muda. Estar aqui quase não faz sentido. Fez das vezes passadas.
A fé, em outras palavras o "vai dar certo", é tão cega quanto aquelas dezenas de anos que trabalhamos com gosto e sem parar pelos mais diversos motivos, principalmente a esperança é a última que morre. Não, não largue o trabalho, não chute tudo para cima, não creia que a piração é o caminho para a liberdade. Não é isto, não é. É um pouquinho mais complicado, sutileza que precisa de uma romaria de quietude e nada pensar para abrir olhos e mente. Enquanto isso, dígito para desabafar, pensar e me auto confessar. E tento ficar em silêncio comigo mesmo, este sim seria um milagre.
Confessar, ajoelhar e rezar. Amém!
Cordeiro de Deus, vós que tirais os pecados do mundo daí-nos a paz. Enquanto o cordeiro não vem nem liga para mim, ligo a TV. Fuga. Por um tempo não penso em nada. Falso alívio. Mentira.
Intervalo do seriado, olho pela janela. Não chove mais. Mais uma vez esta é a última noite de uma minha romaria e fuga. Mais uma vez quero que esta noite não acabe, mas também que o dia seguinte chegue logo e eu siga na romaria.
O povo segue caminhando no acostamento da rodovia em romaria por uma fé, mas qual é? A dor faz parte. A dor faz parte? Faz parte.
Em Aparecida segue uma missa atrás da outra, assim como na rodoviária parte um ônibus após o outro. Faz sentido? Faz sentido. A fé que vem, vai, volta para casa, e na segunda-feira tudo voltará ao de sempre.
Eu não mais. Eu nunca mais. Amanhã, já na bela Basílica, vou saber como ficarei. A certeza de chegar lá é que nos move. O que me move é olhar e ver os caminhos, o da paisagem e dos meus interiores. Nos dois me dói não ver, perceber, aprender e aproveitar tudo. Cada vez que passo pela Dutra em Romaria descubro uma novidade, da mesma forma quando me olho no espelho.
Descalço desci até o térreo, saí e fui até a rua. O céu está limpo. Dá vontade de fugir pela noite, mas não se pode ter tudo de uma vez só. Aliás, não se pode ter tudo. Descobri tarde que ter é o que crucifica. Quero ser.
Deitado na cama termino esta confissão. Não vou precisar rezar nada porque nem Deus entendeu. Não me importa, eu entendi, acho eu. Pelo menos estou mais leve. Devo dormir tranquilo. Até amanhã.
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