É muito louco, entrei em casa voltando da romaria e desmontei, acabou a pilha, fim. Impressionante como a cabeça da gente trabalha.
A romaria foi uma romaria? Não, foi um pedalar no meio dos romeiros. Até gostaria de ter assistido uma missa em Aparecida, o que sempre faço quando chego lá, mas quando cheguei estava acabando a última da manhã e depois só bem mais tarde. Ficar em Aparecida e esperar a próxima? Desculpem, mas eu não consigo, a cidade é muito feia, pobre (de espírito), cheia de lojinhas e barraquinhas vendendo bugigangas religiosas e outras porcarias; uma tristeza. O café expresso que era bom e simpático com suas mesas na rua, fechou. Procurar uma nova parada? No caso de Aparecida não sou eu que sou chato, a cidade é que feia, desestimulante, pobre no pior sentido. Sentei num banco ainda dentro do santuário, comi um sanduiche que tinha levado na mochila por precaução e rodoviária. Passagem comprada, fui tomar um sorvete num dos bares e o proprietário, um senhor, não conseguiu fazer R$ 50,00 - R$ 17,00 de cabeça, aliás por muito pouco não conseguiu fazer na calculadora, fora a cara de mau humor com que tratou todos clientes que entraram. Ele e a mulher, uma senhora de sobrancelhas pintadas de preto carvão que apontou para um cartaz colado na parede e disse seca "não está vendo o preço?". Pior, muito pior, o pessoal senta lá e acha normal. Desculpe Aparecida, mas tchau, e já vou tarde.
A Basílica, que é muito bacana por dentro, está sendo decorada por fora. Pena, eu gostava da simplicidade despojada dela, muito mais ligada ao espírito cristão. Estão empetecando as fachadas com mosaicos, uma decoração muito carregada que mais lembra grafite de baixa qualidade ou mesmo pichação. Triste, muito triste, aponta para um baixo que comanda aquela paróquia ou basílica, sei lá, não entendo da hierarquia da igreja.
Quem vem no sentido São Paulo - Rio, depois que passa a reta da Roseira, talvez veja que uma grande escultura da Santa foi colocada em cima do morro. Para dizer a verdade a imagem quase me passou batida, acredito que só vi porque foi noticiado aos sete ventos. Mais, sem graça. Cristo Redentor que o diga. Não sei se está terminada ou vão colocar mosaicos azul marinho no seu manto, o que ajudaria e muito sua visualização pelos viajantes da Dutra. Do jeito que está é meio invisível, sendo justo, é menos visível que a importância que a Santa tem para o povo brasileiro. Por sinal, ela é vazada ou eu enxerguei mal?
Era dia 10 de outubro e Aparecida ainda estava vazia, o ônibus chegou rápido. Sentei junto com um senhor que voltava do trabalho. Conversa vai, conversa vem, ele contou que foi matrizeiro (faz matrizes para estamparia) e que fecharam o setor dele, por isto saiu. Gostava do trabalho, deu para perceber o orgulho. Boa conversa, bom conversar sobre qualidade com quem entende, e a estrada passou rápido.
De volta a São José para mais um dia, não, dois dias. Férias! No dia seguinte saí para pedalar de leve e relaxar as pernas. Enquanto fugia do calor ficava sentado na poltrona ao lado da janela digitando no celular os textos que soltei.
Eu fico no Ibis Colina que está situado entre dois bairros agradáveis e de bons restaurantes, a única coisa é que para lá ou para cá tem uma bela subida. Também dá acesso fácil, pela ciclovia paralela ao rio, à UrbaNova, onde os ciclistas têm uns bons km sinalizados em avenidas como área de treinamento. É um pedal muito agradável, em especial nesta época que se vai ao som muito intenso das cigarras.
Fiquei dois dias em São José na ida e mais dois na volta, os da ida um pouco pelo erro da meteorologia que afirmava que ia cair o mundo o dia todo. Não choveu uma gota e fez um calor dos diabos. Que seja, a vista que ainda se tem do quarto do hotel é maravilhosa. Ainda; estão construindo dois edifícios de luxo que vão fechar a vista inspiradora para a serra lá no fundo. Triste, vai acabar mais uma coisa que me faz feliz, ver o horizonte, verde, de preferência lá longe, bem distante.
Zé, que morava lá, me levou ao Saint Joe Burger, ótimo, parada obrigatória que cumpri ao chegar pedalando de São Paulo, até mesmo antes de ir para o hotel. Vizinho tem uma boa sorveteria, e contornando o edifício tem o Arabíssimo, muito bom, e um pok que Zé gostava, e ele tinha boa boca. O italiano nunca experimentei. Ao lado tem um posto de gasolina com a Padaria Papaya ao fundo. A pizza é boa e as esfirras feitas na hora, só a noite, são memoráveis. Peça o combo, que vem com 6 esfirras, não vai se arrepender. Por perto tem outros restaurantes que nunca entrei, mas ainda vou experimentar. Este pedaço de cidade já vale a visita de São José, e vale muito. Aliás, o bairro todo é muito simpático, tem uma grande praça no meio que é viva, cheia de crianças brincando, pessoas correndo, idosos sentados e caminhando, cachorros, verde, árvores... Os edifícios guardam um bom distanciamento entre eles, o que ajuda muito ser agradável.
Não sou de shopping, mas pelo calor absurdo acabei lá comendo num japonês por quilo na praça de alimentação, e foi muito honesto, bom. Acho que chama Orient Express. E sentar no meio do zoológico do povo da cidade é conhecer outra realidade.
Fim de festa. Peguei o ônibus de volta para São Paulo sem qualquer problema. Sentei junto com um garoto que está fazendo doutorado no ITA, o que não é para qualquer um, e a viagem correu rápida em uma conversa farta e interessante. No retão final para a marginal deu para ver a imensa nuvem pesada que despencou no exato momento que chegamos na rodoviária. Metro então. Que nada, metro fechado, falha técnica. A noite descobri que a falha técnica tem nome: greve. Puta sacanagem parar o metro exatamente num feriado.
Nos dias de romaria não choveu como previsto, a meteorologia do celular não acertou uma. Poderia ter ido para Aparecida depois de descansar um dia, mas acabei ficando um dia a mais em São José porque o brinquedo avisava que iria despencar o mundo, chuva intensa todo dia. O sol foi uma beleza, o calor insuportável.
Muitos romeiros escolhem São José dos Campos como base para suas romarias. Eles caminham e no final do dia são pegos por um carro ou van e levados para dormir lá. Pela primeira vez, quando cheguei em São José tive que procurar hotel. Estavam ou lotados ou quase. Dei sorte e consegui onde passar a primeira noite, mas não vale o risco, reserve com antecedência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário