segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Buraco na Bela Cintra; e fala de Ricardo Nunes sobre o Plano Diretor

SP Reclama
O Estado de São Paulo

A razão alegada para a demora no término das obras de recuperação das galerias de águas pluviais na rua Bela Cintra com rua Estados Unidos tem tudo para ser pertinente: descobriram interferências no subsolo que não deveriam estar lá. São Paulo não tem mapa de subsolo que seja confiável. A Prefeitura do Município de São Paulo não tem um mapa integrado de tudo que está no subsolo e não cumpre o dever constitucional de fiscalizar, controlar e organizá-lo em nome e pelo bem público. A baderna vai continuar enquanto não se cruzar os mapas das concessionárias e o mapa preciso e definitivo estiver em mãos do poder público, como deve ser. A cidade vai continuar parando e tendo seguidos prejuízos enquanto tudo for na base do mais ou menos aqui. Sobre as galerias pluviais, no caso dos Jardins elas datam da década de 30, ou têm 90 anos, foram projetadas para uma carga completamente diferente da que se tem hoje, seja de águas, seja de pressão de solo provocada pela passagem de veículos muito mais numerosos e pesados. Tive a oportunidade de entrar numa destas galerias pluviais e fiquei admirado como foram bem construídas, mas isto não basta.




Em entrevista na Rádio Eldorado FM, o Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, falou, dentre outros assuntos, em defesa do zoneamento e seus edifícios altos, de certa forma querendo contrapor o crescente movimento que pretende dar um basta ao que vem acontecendo, preservando nossa memória. Ricardo Nunes repetiu a alegação mais usada, o futuro do transporte público, citou um défice de 400 mil moradias e que esta explosão imobiliária faz sentido em razão da questão ambiental, o que, segundo ele, deterá o avanço da cidade sobre áreas verdes, e que os estudos feitos por funcionários públicos validam o que está ocorrendo. Desde 1898 as grandes cidades se reúnem periodicamente para trocar experiências e não resta a mais remota dúvida da importância da preservação da memória como fator de estabilidade e paz social. Se há um défice habitacional este é para que população, em que áreas da cidade, para que nível social e poder aquisitivo? Números de cidades que sofreram rápida transformação urbana como a que está ocorrendo aqui em São Paulo apontam de maneira inequívoca a ruptura do tecido social existente, diminuição da diversidade, aumento da diferença socioeconômica em toda cidade, não só no bairro. O que vem acontecendo em NY é notório e com números para quem quiser ver. Alegar que este "desenvolvimento" deterá o avanço da cidade sobre as áreas verdes não condiz, primeiro pelas razões dadas acima. É nas periferias onde ocorrem os mais frequentes problemas ambientais e estes têm muito a ver com grilagem e "donos do pedaço", em alguns casos com os que mandam e desmandam, conhecidos nomes com processos movidos pelo própria Prefeitura e por outras instâncias. Vastas áreas da cidade estão transformadas em enclaves onde a mesma Prefeitura pouco atuou, por sua responsabilidade ou por impeditivos, mesmo quando ocorrem sérios crimes ambientais. Os exemplos são inúmeros e as histórias são notórias. A construção desordenada de edifícios em si é um problema ambiental sério que vem sendo estudado e os dados estão aí para quem se interessar. Mudança no regime de ventos, sombras, umidade, temperatura, danos a biomas, não esquecendo o aumento de casos relacionados à saúde pública, dentre outros. Apoiar esta concentração de moradias em nome do futuro do transporte serve para incautos pois se há algo que está no campo da incerteza é o que acontecerá com as mobilidades nas cidades, em especial por aqui. De qualquer forma esta loucura especulativa que aí está aposta que as moradias que serão entregues em um ou dois anos terão moradores que esperarão pacientemente cinco, dez, vinte anos para ter um transporte público descente a porta. É, tem tudo para dar certo.

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