sábado, 7 de outubro de 2023

Romaria 2023


O fascínio é pela festa popular em si. Sair para pedalar na Romaria para Aparecida para mim é mais participar da festa do que um ato de fé. Eles lá em cima me entendem. Há uma grande diferença entre acreditar e ser religioso. Eu acredito, ou pelo menos acredito que acredito. Não sou religioso. A diferença é que religiosos tem uma íntima ligação com que dizem em alguma igreja ou templo. Eu preferi ler os manuais de proprietário, leia-se bíblia. Leitura interessante, basta ter conhecimento prévio sobre como ler.
Morei em Olinda, onde as procissões são coisa séria, evento social só menos preparado e comentado que o Carnaval. Eu creio que as procissões são o carnaval dos tímidos. Tímidos? Depende. Fato é que a missa na São Bento, cantada em gregoriano e incensada era uma maravilha. As procissões, interessantes. 
Não sei exatamente o que sinto vendo todo aquele povo caminhando rumo a Aparecida, mas é uma sensação muito boa. Há uma comunhão, e não tome a palavra pelo sentido religioso. Os inúmeros postos de auxílio aos romeiros, com água gelada, café, bananas e laranjas, alguns docinhos e lanches são ofertados com simpatia e boa vontade. Diria união. Unidos venceremos.

De minha parte tem um que de superação. Completar os exatos 100 km entre minha casa e o hotel em São José dos Campos é um feito, pelo menos para minha condição física. Esta é a quarta ou quinta vez que repito o mesmo trajeto, sempre adorando. Queria ter saído a noite para ver como são as ruas e estrada até o apagar das luzes, iluminação pública. Coisas de família me fizeram ficar e ter uma ótima noite de sono e só sai às 8h00. Exausto pelo calor cheguei ás 14h30. Foi a mais dura de todas, longe.

Bicicleta e pedalar tem exatamente a mesma situação que citei aqui, ser religioso ou acreditar. Minha fé é a qualidade e o prazer, é nisto que acredito. Faz muito tempo, em uma corrida eu coloquei meu coração em 100%, uma estupidez sem tamanho, e fico feliz que quando voltei a mim mesmo disse com plena consciência "imbecil, você não é profissional". Não devo nada a ninguém a não ser a mim mesmo; que delícia de crença. Não pertenço a nenhum credo, bicicleta e pedalar não é minha religião. Mas tenho outra crença, inquebrável, unidos venceremos. De certa forma acontece na romaria.

Amadureci, mas ainda faço burradas. Pouco antes das 11h00 parei e almocei um sanduíche. Já tinha feito 45 km e bem. Daí para frente virou quase um pesadelo. Maldito sanduíche, mais justo, maldita burrice. Sem o que aprendi em anos de pedal não teria chegado em São José dos Campos. A técnica de girar os pedais usando o peso das pernas valeu, e como!

Estou tendo câimbras fortes, mas estou feliz. Descanso por um ou dois dias e sigo em frente. Gostaria de conseguir fazer numa tacada só, mas não dá. Gostaria de fazer em dois dias, mas não acho recomendável. Quero pedalar, ver a bagunça, romaria, e mais importante, ficar inteiro.

No meio do caminho parei num posto e restaurante que estava recebendo uns 20 ônibus de excursão cheios de jovens indo para uma festa rave. O zoológico era completo, algumas meninas bem hard core. O idiota aqui não entendeu nada e perguntou a um casal de romeiros se aquele povo estava indo para Aparecida. Eles riram.

O contraste entre as duas tribos foi genial 

Casal de mudança empurrando um carrinho de supermercado pela Dutra com todas suas propriedades. Histórias de um Brasil


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