terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Em que investir? Quando riqueza gera pobreza e quando pobreza gera riqueza

Não apostar em mula manca é uma regra sábia mais velha que o tempo da onça. A questão é que estamos em 2022 e é muito provável que já vá ter quem reclame aos berros contra a expressão "mula manca" que imagino não seja politicamente correta. Talvez o correto seja escrever não apostar no que não dá futuro, mas aposto que também gerará uma saraivada de urros de "não é politicamente correto", porque (ele) não teve as mesmas oportunidades, dentre outras ponderações. Não aposto em politicamente correto porque o inferno está cheio de boas intensões e mula manca não dá futuro.
Investir não tem nada a ver com aposta, com colocar as fichas aleatoriamente ou sob falsas premissas e deixar a sorte rolar.

Sei lá o que pensam ou deixam de pensar, mas eu aprendi muito tarde, não faz muito, a não apostar em mula manca e não apostar no que não dá futuro. Com um forte sentimento de culpa e dor no coração estou aprendendo a deixar para trás o que tem tudo para dar em nada. Estou muito cansado de ser usado por quem não vai retribuir no mesmo grau como é cuidada. Egoísmo? Não. Seleção.
Gente que vale a pena investir é o que não falta. A escolha pode ser emocional ou racional, sendo que a emocional via de regra não costuma dar resultado. A racional também pode dar errado, mas numa escala infinitamente mais baixa com prejuízos muito menores. Mesmo que dê errado um investimento racional, realizado em base sólida, sempre deixa algo positivo para trás, o aprendizado.
 
Entrou o emocional complica. A vida faz que por conta da sobrevivência todos joguem o convívio social, relacionando-se com os outros da forma que mais pareça vantajosa. É uma troca, são investimentos. É incrível a variedade de técnicas de sobrevivência social que fomos capazes de criar.  Tem quem só converse sobre desgraça como fórmula de receber alguma coisa em troca, migalhas que seja. Pensando bem, tem muita gente, a maioria. Desgraça faz sucesso, é rentável, dobra avisados e desavisados, emplaca geral, jogo fácil. Você fica com pena e dá o que ele quer. Mendigos profissionais que o digam, profissionais no literal e mais ainda no figurado. Mesada para o bonitinho comportar-se bem é o que?

Não dê esmolas? Depende de que tipo e para que fim.
Segundo uma entrevista de uma socióloga (desculpem não lembrar o nome) que estudou o ciclo completo das esmolas dadas para pedintes de rua é uma forma importante de transferência de renda que não raro traz benefícios. Sei que tem muito mendigo que conseguiu construir suas casas, sustentar suas famílias, com filhos que se formaram e trabalham para dar aos filhos uma vida bem distante da mendicância. Também há os absurdos como os que estão na segunda geração de pedintes na esquina das av. Brasil com Nove de Julho e que fazem bebes caminharem no meio dos carros para aumentar a renda. É bom que se saiba que são exceção e só estão por aí pela inoperância do poder público.

Como controlar o valor agregado de uma esmola? Exatamente como se deve fazer quando você cede e dá algo para a criança parar de encher o saco. Comparação absurda? Nem tanto, a maioria cede, quer se livrar imediatamente do problema, não controla o pós e depois briga dizendo que quem está criando problema é criança ou quem recebeu a "esmola", se quiser leia "mesada". A possibilidade de virar confusão futura é grande, para não dizer encheção futura líquida e certa. A culpa sempre é do outro?

Então o que se faz, dá esmola ou tira o tapete? A maioria dos que estão pedindo esmolas não sabe sequer o que é um tapete, primeiro erro. O ideal é ajudar procurando gente que conhece e trabalha com o problema. Em outras palavras e mais uma vez: investir com informação, investir racionalmente. 
Esmola pode ser um investimento. Dinheiro para ONGs sérias é investimento. 

Investimento não é aposta, mas se pode investir numa aposta a partir que se tenha números que levem a um processo racional. "Investir em educação..." ninguém discute que é ganha ganha... se for controlado. 

O Brasil tem um grave problema conhecido como "nem nem", nem trabalha, nem estuda. Afeta todos níveis sociais e é uma verdadeira praga, pior que dengue. Não tem absolutamente nada a ver com a besteirada que se ouve por aí. Números oficiais mostram que Bolsa Família no geral é investimento com bons resultados, mas também pode ou não gerar nem nem. Vira baderna se não tiver contrapartida, tempo e escala de desmama, e principalmente controle, o que até as esquerdas concordam. Incluo nesta baderna social uma outra bolsa família, aquela dada por pais, tios, irmãos e avós aos definitivamente não necessitados, os nem nem mas mesada sim. 
Dar ou não dar mesada? O retorno não se vai dar só porque "ele é tão bonzinho..." Recebeu? O que vai dar em troca? Não deu? Se f.....! Tchau!

O país está cheio daquela triste verdade: "avô rico, pai remediado, neto pobre", ou seja, torra tudo, ou ainda, dinheiro improdutivo, dinheiro jogado fora, riqueza que gera pobreza. O triste é que é comum que este processo de degradação financeira de famílias ricas envolve empresas, portanto empregos, terceiros que que pagam o pato sem ter nada a ver com a irresponsabilidade de pais e netos perdulários. O número de empresas familiares brasileiras que afundaram na segunda e terceira geração é grande. Danem-se os funcionários.

Riqueza tem que gerar riqueza, gerar crescimento, progresso, cultura, inteligência, sabedoria, fazer bem, qualidade, liberdade, bem-estar. 
Aliás, o que significa "investimento"?

substantivo masculino
  1. 1.
    aplicação de recursos, tempo, esforço etc. a fim de se obter algo.
    "seu maior i. tem sido em si próprio e em seu talento"
  2. 2.
    ato ou efeito de investir(-se).
 
"No Brasil ser rico é um crime": em certo sentido verdade. "Eu tenho horror de pobre (ou de pobreza)"; estou cansado de ouvir. 
Primeiro, estas duas afirmações dizem respeito a monetário, dinheiro, bens, e aí começam os erros grosseiros em cascata. Riqueza ou pobreza se referem só a dinheiro e bens? Quando a resposta é sim quanta pobreza. Adorei quando ouvi o comentário "pobre rico pobre" sobre um idiota que tem dinheiro e faz tudo errado, fez de sua vida um inferno, fez a vida dos próximos o inferno, imbecil total.

Os judeus estão absolutamente corretos, aprenderam das formas mais duras: só a riqueza da cultura e educação constrói e pode reconstruir o que virou pó. Perde-se o secundário, preserva-se o primário, cultura e educação. A verdadeira riqueza é imaterial e impossível de roubar da pessoa.

Inúmeros sociólogos e estudiosos deste Brasil afirmam que para boa parte de nossa elite não tem consciência da importância do retorno para a sociedade, o bom investimento, o que parece que está mudando aos poucos, mas ainda estamos a um ano luz de outros países.

Como cidadão da melhor idade (- a puta que os pariu! -) como dou retorno ao que recebi? Como invisto no futuro dos outros? Como invisto em mim mesmo para que meus investimentos futuros sejam cada dia mais produtivos? 

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