Muito duro o resultado das urnas, muito duro! Os perdedores precisam aprender com a derrota e os vencedores devem ter a altivez da boa vitória. Vai ser difícil, muito difícil, mas é a única saída. Do contrário "By by Brasil".
O ideal é que todos setores da sociedade estivessem representados, o que definitivamente não acontece. Colocar todos ovos numa única cesta nunca é recomendável, e estamos próximos disto.
Renata Falzoni teve 45.890 votos para Deputada Estadual, creio que contagem fechada. O fato é que não entrou, o que para mim não causa nenhuma surpresa. Vivo o meio da bicicleta faz mais de 40 anos e não tenho a mais remota dúvida que é um setor que não consegue se olhar como uma unidade nem nos pontos onde não há a mais remota possibilidade de discussão. Renata seria uma ferramenta poderosíssima para a bicicleta e os ciclistas, mas nem isto o pessoal consegue entender. "Ah, Renata está num partido de esquerda" ouvi, o que deve ter pesado, mas não creio que tenha sido "o" determinante.
- ciclistas estão divididos entre coxinhas (o apelido não foi dado por mim) e trabalhadores
- eu coloco ainda a categoria coxinha "libelu" (Liberdade e Luta, anos 70), minoria ativa
- e os ciclistas de fim de semana, que são muitos, nas áreas centrais a maioria
- coxinhas e libelu pouco se conversam, libelu faz política,
- trabalhador trabalha, pedala em horário que perante os outros o torna invisível
- minha percepção é cada um no seu canto
- o mercado da bicicleta vai bem porque as bicicletas caras vendem como água
- quem paga uma barbaridade por uma bicicleta quer pedalar sem pensar ou para não pensar
- "tem que ser (uma bicicleta com rodas) 29" diz muito sobre falta de cultura e cidadania
- o setor da bicicleta é fragmentado em nichos e cada um olha para sua sobrevivência
- o setor da bicicleta até hoje não entendeu o que deveria ser valor agregado e perenizar
- ter aumentado muito o número de ciclistas nas ruas não significa ter cidadãos diferentes
- há vários órgãos representativos do setor da bicicleta, até onde sei "não se misturam com politica"
- boa parte dos trabalhadores de baixa renda querem mesmo uma moto
- a qualidade das bicicletas nacionais baratas pode ser traduzido como "bicicleta é coisa de pobre"
- as melhorias introduzidas, incluindo lazer, começaram ou estão em bairros "ricos"
- muito do que temos hoje é a moda da bicicleta: bicicleta é legal, dá status
- a maioria dos ciclistas, e incluo ciclo ativistas, não faz ideia do que é ou deveria ser uma cidade
- ciclovias e ciclofaixas da forma como foram implantadas são conflitantes com os pedestres
- o discurso do ativismo pode até ser correto, mas não conversa com a maioria dos cidadãos
Renata é muito conhecida, destas figuras públicas que se não lembram do nome de imediato quando se fala em bicicleta, ciclista e seu cabelo vermelho a lembrança é imediata com sorrisos de quem gosta, isto em praticamente todos grupos sociais.
O setor da bicicleta não ter um representante no Legislativo resulta não só da posição política ou partido que está, mas é consequência de uma série de fatores que alguns expus acima. Não ter um representante eleito aponta para o não ter interesse em um representante dos ciclistas, da bicicleta e do setor, e aqui não falo sobre Renata especificamente.
Boa parte do Brasil que foi votado agora é de um populismo baixo, medíocre, em boa parte perigoso, muito perigoso. Bicicleta? Bicicleta é de um refinamento civilizatório que nossa falta de cultura e suas consequentes brigas inúteis não conseguem captar. Aliás, não conseguimos captar nem o incêndio queimando nossos pés, o que se dirá dos sons, aromas e acontecimentos agradáveis que uma prática sadia nos dá ou pode trazer.
Confesso que o final de tarde e noite de ontem, momento de contagem de votos desta eleição de 2022, foi um dos mais angustiantes de minha vida. Deprimente. Do fundo do coração espero que eu esteja errado, mas me faltam elementos para ter tal esperança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário