Ontem fiz um teste importante para ver como está minha saúde física e mental: vim pedalando de São Paulo para São José dos Campos. Nova romaria para Aparecida? Bom, esta foi a alegação para não assustar a família, lorota convincente. Estou tendo um pós-Covid que não acaba, melhorou muito, mas ainda falta e não sei quanto, em parte pela insegurança, a incerteza que consiga voltar a fazer o que era capaz a dois anos, daí esta "romaria".
Confesso aqui que o plano inicial era fazer uma boa parte da estrada ainda de noite, um pouco mais além do trecho que é iluminado e termina em Guarulhos. Piração total. Inseguro, confesso que não fazia ideia de até onde conseguiria chegar e em que condição física iria parar. Minha cabeça pediu uma resposta: ou vai ou racha. Fui, para minha completa surpresa, e cheguei bem.
Saí depois do almoço, 12:45h, horário pouco recomendável, sol quente e calor, pedalando com raro cuidado. Primeira parada depois de 2 horas pedalando, segunda com quase mais duas horas, e para meu espanto consegui chegar a Jacareí ainda com um fim de luz do dia. Um pouquinho depois do pôr do sol já estava em São José dos Campos, muito melhor do que eu esperava.
De quebra, muito feliz e curtindo tudo passei batido pela passarela onde deveria ter cruzado a Dutra o que me obrigou a pedalar uns 2 km na estrada, melhor, no acostamento, a noite, um velho desejo realizado, completamente imbecil diga-se de passagem. Para completar os imprevistos adolescentes quando cruzei a Dutra e peguei o caminho urbano para entrar em São José dos Campos as ruas não tinham iluminação, breu total. Ou seja, meus últimos 10km demoraram uns 45 minutos ou mais.
Sem faltar mais nada, pizza que veio diferente da que pedi. Nada que um chope de brinde não tenha resolvido.
Sai de São Paulo com reserva só para o dia seguinte. Tudo lotado, congresso religioso. Pizza na boca, feliz da vida, já estava preparado para dormir... sei lá onde. Debaixo do viaduto? Uai, pode ser. Minha sorte sorriu e consegui hotel para dormir e tomar banho, ah! bainho quentinho. Demorei para pegar no sono. Continuei viajando na Dutra lotada de romeiros, linda, linda. Nunca tinha visto tantos caminhando. Emocionante. Ciclistas? Só encontrei cinco, sendo uma menina que estava mais morta que ciclista.
Uns dias antes desta romaria fiz uma série de exames, incluindo tomografia de pulmão. Ainda está manchado, mas segundo meu médico, Bettarello, muito melhor que o que se via na tomo anterior. A sensação horrorosa de dor no peito já não acontece mais com a mesma intensidade e frequência. Pedalando pela Dutra a senti uma única vez muito suave, diminui o ritmo e voltei ao normal. Cheguei com a musculatura cansada, mas sem caimbras.
Quando eu tinha uns 20 e poucos anos tive um apagão completo, uma pequena morte, que redirecionou minha vida. O pós Covid está tendo o mesmo efeito, mas com uma dimensão maior. As incertezas não são só minhas, mas da humanidade.
Me joguei na estrada como um adolescente inconsequente, o que confesso foi maravilhoso, talvez uma saída deste beco.
Banho tomado, alimentado e me sentido em paz olhei pela janela do confortável quarto a mesma paisagem que sempre me acalmou, só que não desta vez. Ótimo, ser inconsequente e mais atirado pode dar respostas, mas com a mesma paisagem e as mesmas coisas.
Cansei de ser acomodado.
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