sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Turismo a brasileira?

O que conto a seguir parece frescura minha, mas definitivamente não é. É nos detalhes que as coisas deixam de funcionar.

Como regra em hotéis o quarto é do hóspede até que ele faça o check-out. Também via de regra a limpeza do quarto só é realizada depois que o hóspede fez o check-out e deixou o hotel. Arrumar o quarto antes vai ter que fazer duas vezes, o que por diversas razões é ruim para o hotel e de certa forma uma falta de respeito com o trabalho das faxineiras, aliás, uma puta sacanagem. Se o hotel está lotado pior ainda porque as meninas têm que correr para conseguir dar conta do recado. Dito isto...

O que relato aqui foi um problema com uma funcionária, problema este que é reflexo deste Brasil e de seu setor de turismo que não passa nem perto de seu imenso potencial. Por que será?

Ao sair do quarto para meu último café da manhã no hotel em Lages, Santa Catarina, bom hotel, encontrei no corredor a faxineira e avisei, como sempre faço, que estava de saída (check-out do hotel) e que, por favor, só fizesse a limpeza depois que eu voltasse da caminhada. É uma simples questão de respeito com estas trabalhadoras que dão um duro danado. Ela agradeceu.

Passei pela portaria, deixei a chave e saí. Quando voltei minha chave não estava lá. A atendente disse sem levantar a cabeça do que estava fazendo, em tom seco, bem desagradável, que tinha entregado a chave para a limpeza "adiantar o serviço". Subi e já do corredor pude ver toalhas e roupa de cama no chão da porta de meu quarto. A mesma menina a qual tinha dito para não arrumar o quarto disse que não me preocupasse que ela faria a limpeza de novo. "Não está certo. É uma puta sacanagem com o seu trabalho" respondi. O quarto já estava impecável para o próximo hóspede. Não tive nem vontade nem coragem para tomar meu último banho e dar uma cochilada antes do check-out. Fechei a mochila, peguei a bicicleta, entreguei a chave para a atendente grosseira que novamente sequer olhou para mim e saí com a sensação que tinha sido convidado a me retirar do hotel porque já estava chegando o próximo hóspede.

Fato isolado? Sim e não.

Acabo de telefonar para o Hotel Cattoni e falei com um dos donos, por ironia é o rapaz que estava na portaria quando a indelicada me avisou que a chave não estava lá. O dono me agradeceu muito o telefonema e disse que já tinha conversado com a atendente e iria conversar novamente; pediu para eu voltar e me hospedar lá...

Antes de toda esta baderna que estamos vivendo por causa da pandemia quem fazia cálculo na ponta do lápis não tinha dúvida que ir para fora saia muito mais barato e oferecia muitíssimo mais valor agregado. A diferença é absurda.

Lá fora é tudo perfeito? Não, não é, mas os erros e problemas são infinitamente menores e mais difíceis de acontecer que aqui. Lá todos têm consciência plena que turismo é um senhor negócio, que dá muito dinheiro, gera muito emprego, direto e indireto, é bom para todos. No Brasil ainda não há esta consciência, turismo é só um emprego, nada mais. E nossas leis trabalhistas ajudam a melar qualquer negócio e no turismo definitivamente não poderia ser diferente.

Só me lembro de uma situação destas fora do Brasil, em Paris, num pequeno hotel onde a recepcionista foi grossa. Fui reclamar com a gerente, que muito cordial e divertida explicou que a dita estava fazendo uma substituição de emergência e completou: “Vou levar sua reclamação para a mãe dela, que é a dona do hotel. Não vai ser a primeira vez que ela ouvirá reclamação como a sua”. Mimada é assim, fazer o que?

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