terça-feira, 16 de novembro de 2021

Baldes, lixeira e consciência ambiental


Estou lavando roupa e, como sempre, faço reuso da água que sai da máquina. O processo todo dá para encher bem mais que estes três baldes e a pequena lixeira. O grosso vai para dois toneis ao lado da máquina.
Duas vantagens nesta história, a primeira ambiental, a outra, para mim hoje importantíssima, é que carregar baldes para despejar no vaso sanitário praticamente acabou com minhas dores de coluna. Ufa!

Quando passei agora pelos quatro recipientes senti um delicioso orgulho. O balde grande em alumínio foi comprado. A lixeira cinza de plástico também foi comprada em 1987 quando entrei nesta casa. Vida longa à lixeira! Um dia quebrou uma alça e depois a borda, mesmo assim dei um tapa com um arame e está aí sendo usada. 
O balde pequeno em alumínio estava jogado numa caçamba com um furo pequeno no fundo. Colei uma manta plástica e já perdi a conta de quanto tempo está em uso.
O balde em plástico azul estava jogado no lixo com um pequeno racho no fundo, o que foi resolvido com Araldite. Já não sei mais quando foi. Um dia quebrou a borda e da mesma forma que fiz como a lixeira cinza passei um arame grosso, também encontrado na rua, para reforçar, funcionou e continua funcionando. 
Ora, direis: Que lindo, reciclado! É..., mas não deixa de ser simplório orgulho. 

De grão em grão a galinha não polui o chão. Ok, não faz o mais remoto sentido, talvez para Kafka; mas fica a rima para que se pense num enredo de escola de samba, o que se tratando em proteção ao meio ambiente faz todo sentido. No final das contas nossas ações pelo meio ambiente, mesmo as mais bem-intencionadas, parecem caminhar cambaleantes como o sonho de uma galinha que não cague todo quintal. Vida longa ao poleiro!

Quantas pessoas podem ou têm capacidade para pegar um balde ou qualquer outra coisa estragada e descartada numa caçamba ou lixeira, para dar um jeito e reusá-lo? Quantos têm tempo para isto? Quantos têm espaço para consertar? Quantos têm ferramentas e habilidade? Quantos, quantos, quantos...? 
Quantos cidadãos se deslocam numa velocidade compatível com o olhar calmo e atento para o que está pelas ruas (fora vitrines, carrões, gostosas e gostosos e outras trivialidades sociais)?
Quantos têm coragem, não sentem vergonha, não ficam constrangidos, assumem a estranheza de "catar" um "lixo" da rua?
Só estas perguntas já colocam a questão ambiental em um patamar muito longe da ação necessária para reequilibrar o meio ambiente. 

Uma vez por mês levo um saco grande cheio de embalagens para a reciclagem e disto não tenho tanto orgulho assim, aliás, nenhum orgulho, acho uma vergonha. Correto seria não ter que reciclar, mas não faço a mais remota ideia de como viver neste círculo vicioso da cidade moderna sem comprar produtos embalados ou produtos com vida útil e ou obsolescência programada.

Me considero um cidadão com interesse e alguma atitude em relação ao meio ambiente, mas tenho certeza absoluta de que sou um imbecil funcional para o assunto. 
Tenho um amigo que estuda e trata de ter uma postura de vida de fato ambientalmente correta, mas muitas de suas opções definitivamente não funcionam em larga escala, mesmo sendo corretíssimas.
Outro dia me foi mandado uma charge onde se via um congestionamento de carros com os dizeres "no futuro o congestionamento será de carros elétricos". Define com perfeição o problema que temos. Urge passar de palavras não direto para a ação, mas para a educação, o entendimento, para um projeto com princípio meio e fim. A única saída é o conhecimento. 

"O problema não é o lixo visível..." Amir Klink. 

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