segunda-feira, 12 de julho de 2021

Padronização como saída social e ambiental

- Não é padronizado. Tem de 1/2, 3/4, 1 polegada, 1.1/2. Precisa tirar e trazer aqui para a gente ver.
- Continua assim, não é padronizado?
- Não é. Não tem nada padronizado. Sem ver não dá para saber o que é; diz rapidamente o vendedor encerrando o assunto.
A conversa foi numa loja de material de construção sobre um registro de coluna de água que estava vazando num apartamento. Aponta para um importante absurdo que passadas décadas ainda temos neste país. Falta de padronização ou padronização precária é um dos principais entraves para a economia do Brasil estabilizar-se e diminuir nosso abismo social.
Melhoramos sem dúvida, mas temos muito a corrigir.

Um dos passos mais importantes na história moderna foi quando os fabricantes de biciclos (roda grande na frente) voltaram-se para a fabricação de bicicletas de segurança, iguais às que temos hoje, duas rodas com diâmetro e largura de pneus iguais e praticamente padronizados por todos fabricantes. Com isto padronizou se medidas e processo de fabricação, o que reduziu e muito custos e preço final, ampliando e muito o mercado. A partir daquele fim de século XIX houve uma revolução de consumo geral o que facilitou uma barbaridade a vida inclusive das camadas mais pobres.

Com a globalização os padrões ficaram mais justos, precisos, e quem não se ajustou está fora ou fadado a ficar fora dos benefícios que a padronização traz. Simples, China está entrando na indústria de quarta geração; traduzindo: com o mais alto grau de precisão. Precisão só existe por causa da padronização (um pouquinho mais complicado que isto, só um pouquinho...).

É impensável, inaceitável para uma economia de um país sério, ver um diretor de produção de uma grande fábrica no balcão de uma loja de parafusos comprando parafusos e porcas fora do padrão de projeto, algo que vivenciei no começo dos anos 90 numa grande loja que existia numa travessa da rua Clodomiro Amazonas, Itaim Bibi. Ele levou todo estoque disponível sem olhar para o lado, para mim, e sem a mínima preocupação com resultados para os consumidores. Por ironia do destino eu sabia quem era a figura, onde trabalhava e onde seriam montados aqueles parafusos fora de medida. Deveriam ser milímetro 'fino' e o diretor estava levando polegada 'grossa'. Acompanhei e sei que os parafusos improvisados deram problema: soltavam com vibração. Que se dane o comprador. Hoje é mais difícil ver uma situação destas, mas quem é detalhista ainda encontra umas estranhezas por aí. Estamos longe, bem longe do século XIX. Especialistas dão conta que nosso setor industrial tem graves problemas.

Unificar processos produtivos tendo como referência conhecimento, tentativa e erro, portanto ciência, é crucial não só para os humanos, mas principalmente para o planeta. Variações de pesos e medidas, para resumir, geram desperdício e e lixo. Desperdício é o que o planeta não aguenta mais. 
Estou usando o exemplo mais simples, que é o da indústria, mas a padronização deve ser regra em tudo. E antes que pensem besteira, falo aqui de padronização em processos produtivos de larga escala.

Mas... nada é tão simples. Afinal, porque estou escrevendo este texto? Simples: fui comprar o registro novo porque todos encanadores chamados afirmaram de pés juntos que só trocando. Até que seu Antônio olhou e disse que "não precisa não" e resolveu o vazamento ajustando o registro. 
Nos falta qualidade na mão de obra, o que só ajuda o não ter uma padronização de qualidade. Educação, treinamento. Pelo outro lado a falta de padronização gera baixa qualidade de trabalho. O ciclo vicioso é bem mais complexo e muito mais deprimente.

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