quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Twzy e Amie, dirigir aos 14, e o futuro das cidades

Renault Twizy

Citroën Ami

São dois mini mini carros, leia-se microcarros, elétricos que não devem ser vistos como automóveis, mas como mobilidade urbana. Ou serão automóveis? O conceito de microcarros definitivamente não é novo, remonta aos primórdios do automóvel, mas estes dois microcarros em particular apontam não só para a salvação de um dos maiores e mais importantes setores industriais e econômicos de nossa era, como também dão um cheque (mate?) no sonho da construção de "cidades sem carro" tão gritada em utopias. Várias razões, mas uma em particular muito simples de entender: na França, país de origem dos dois microcarros, maiores de 14 anos com uma habilitação específica podem conduzir estes carrinhos elétricos. 14 anos? Sim, 14! Cheque mate! 

As micro mobilidades elétricas são apontadas como boa parte da solução para todos males de mobilidade urbana. Não caio nesta. Quem pedalou numa ciclovia cheia de micro mobilidades elétricas, bicicletas, patinetes, skates, pseudoscooters..., sabe o que falo. Vale para países e cidades onde a população respeita para valer as regras de trânsito. Não me sai da cabeça a raiva constante que passei tentando pedalar civilizadamente no centro histórico de Amsterdam. 

Diz-se que estes elétricos são menos poluição, maior rapidez e facilidade nos deslocamentos, menos uso de espaço público... É assim com toda novidade: uma maravilha... até que começam a surgir os porens. É esperar para ver. 

Os dois carrinhos, microcarros ou automóveis, como queira, confesso sem nenhuma vergonha que adoraria tê-los, não sei bem para que, mas tê-los-ia. Quem já dirigiu um carro elétrico ou híbrido sabe a delícia que é. Silêncio total com rapidez e suavidade, reconfortante para o sentimento de culpa de dirigir pelas ruas. Não precisa ir muito longe; estou cansado de ouvir "Você tem que experimentar uma bicicleta elétrica!" dito com um sorriso sincero e estimulante. Bicicleta elétrica: a ordem do dia. Seja elétrico ou você estará mais por fora que umbigo de vedete! Tem que seguir a manada. Desculpem, mas não quero. 

O uso de microcarros é livre na Europa para pessoas com problemas de mobilidade, idosos, cadeirantes e outros. São inúmeros fabricantes, mas todos em pequena escala, até pouco com modelos a combustão, de microcarros a microfurgonetas de diversos tamanhos. A maior furgoneta da Ligier tem um pouco mais de 3 metros, uma gracinha muito prática e eficiente, facilmente vista em capitais europeias. Meu pai quer trocar a Mercedes 4 portas por um destes microcarros ou até um carrinho de golf, mas a legislação brasileira não permite. 

O que Twzy e Ami têm de diferente é que por trás estão gigantes do setor, ou seja, produção em alta escala, custo final mais baixo, acessível. Mais, o Citroen Ami é um projeto modular, de uma simplicidade de construção maravilhosa, inteligentíssima, um caminho que ou a humanidade segue ou segue, ponto. Os pequenos fabricantes trabalharam e seguirão em nichos específicos de mercado. Para os gigantes interessa mercado, o povo, a massa, a cidade grande, capitais, uma escala completamente diferente com um impacto social muito maior, o quanto maior veremos, mas sem dúvida bemmmm maior. 

A verdade é que a mobilidade ativa vai entrar na era da briga de cachorro grande. Ou aprende a brigar ou vai ser do jeito deles. A brincadeira começou pelo "life is to good to drive a French car", soluções inteligentíssimas, mas de origem que traz consigo uma história de nariz torcido. Como será a brincadeira quando entrar urso grande na brincadeira? GM, BMW, VW, Toyota, Honda, Fiat... os chineses, que de urso não são nada panda e estão jogando pesado... 

E a cidade, como ficará? É uma total incógnita. Não depende mais do que pensávamos até pouco, mas desta pandemia e quem sabe de pandemias, se é que virão outras, uma possibilidade aventada por vários cientistas. Em qualquer cenário os microcarros parecem ser a única certeza: oferecem mobilidade com isolamento social; e o automóvel ressurge das cinzas. 

Com a popularização dos microcarros haverá ganhos para a cidade, dentre eles a diminuição do uso do espaço urbano, público e privado. Como são projetados para distâncias mais curtas é certo que a médio prazo modificarão os hábitos da população. E aí vem a pergunta: será mais um carro na garagem? Dependendo da política pública aumentará o abismo social e com ele alguns problemas das cidades. 

Mobilidade ativa é uma coisa, mobilidade elétrica é outra completamente diferente; e microcarro elétrico é automóvel, ponto.

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