segunda-feira, 9 de novembro de 2020

A perda de Marina Harkot e os comentários sobre o acidente

Recebi a triste notícia da morte de Marina no início da noite de domingo e fui me informar.  UOL: Ciclista de 28 anos morre atropelada em SP; motorista fugiuTerminado a notícia fui para os comentários e fiquei mais triste que estava. O que está acontecendo? Uma coisa é opinião, outra é vomitar achismos e preconceitos. Está difícil ter esperança neste país, muito difícil.
Tive a pachorra de responder a um dos comentários que me causaram profundo assombro e voltei para casa atordoado pedalando numa noite agradabilíssima, cheia de estrelas. Certamente Marina estava por lá.
Muitas horas depois já em casa escrevi um comentário (a seguir) na UOL e tive um ataque de choro que não parou de doer fundo até muito tarde. Foi difícil dormir

Marina querida, fique bem. Carinho.

Comentário
Conversei com Marina uma única vez. De conversa inteligente, interessada e interessante lhe ofereci acesso a minha pequena biblioteca, em particular aos livros sobre a história das mulheres ciclistas e sobre bruxas. Um processo de inquisição no país Basco deu início ao fim a estúpida caça secular às bruxas porque o inquisitor, culto, curioso e inteligente, buscou a verdade dos fatos. Superstições, achismos, crendices perseguiram e seguem perseguindo mulheres e outras minorias, inclusive ciclistas. A saber, quanto o maior número de usuários de bicicleta melhor o IDH e mais rico é o país; quanto menor mais pobre - dados ONU. Muito triste com a perda de Marina e deprimido com os comentários que li. A principal razão para termos um país tão injusto e atrasado está no achismo. As mortes no trânsito são prova cabal disto. Marina optou por ler, estudar, pesquisar, pensar, buscar a verdade, ou seja dar um futuro ao Brasil. Obrigado Marina. Fará muita falta

Comentário do leitor Ronaldo lido logo após o recebimento da notícia:
A grande SP não é local para se andar de bicicleta . Uma somatória de problemas nos leva a essa situação: Geografia da cidade, falta de sinalização, iluminação precária , falta de educação no trãnsito (tanto dos motoristas quanto dos bikers), etc . Não adianta insistir. Quer andar de bike, ser cicloativista ou o que for, saia fora da grande SP. Claro que não se pode tirar a culpa do motorista que fugiu sem prestar socorro, foi errado e deve sofrer as penas pelo erro, mas, volto dizer, a Grande SP não é lugar para Bikes !

Minha resposta ao comentário:
Ronaldo, boa tarde. Sinto pela morte de Marina, quem tive o prazer de conhecer. Só com laudo pericial saberemos o que aconteceu e só assim poderemos evitar outras mortes. A fuga do motorista é inaceitável e nossas leis tem que ser realistas e endurecer. Populismo mata. Obscurantismo mata. A área onde Marina pedalava tem padrões de sinalização muito próximos ou iguais aos de várias capitais europeias. Quem diz que São Paulo não é local para bicicleta desconhece a realidade. Bicicleta, goste ou não sempre foi uma realidade paulistana nas periferias e a única novidade é a classe média pedalando. Nosso trânsito, digo Brasil, é uma carnificina por causa de achismos, da negação da realidade. O princípio básico de qualquer segurança está na ciência, no conhecimento, e principalmente no que for comprovado como realidade dos fatos. Marina lutava justamente para ter uma cidade mais humana, real; lia e não brincava de achismos.

Outros comentários publicados na UOL:
  • Desculpe, mas ela foi extremamente ingênua ao acreditar que andar de bike à noite em SP é minimamente viável. Não é, sem contar o fato de ser mulher e estar sozinha. Nesse caso isso não foi determinante, mas é um fator de risco altíssimo que não deve ser desprezado. Lamento muitíssimo por ela, sua juventude, sua vida ceifada assim tão brusca e violentamente. No entanto, acredito que isso deve servir de alerta para todos os ciclistas.
  • Com tanta pesquisa, não conseguiu descobrir que andar de bicicleta em SP de madrugada é suicidio.
  • Canhotas ciclistas que acham que a bicicleta deve ser acima de motos, ônibus etc. Não respeitam as leis de trânsito e ainda projetam ciclovias sem segurança, onde a bicicleta disputa na rua espaço com carros , caminhões e ônibus. Tá errado e deve se chamar ciclovia da morte
  • etc....
Deprimente o que vivemos. 

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