sábado, 21 de novembro de 2020

Burrice generalizada no balde de sangue do assassinato de João Beto

O Estado de São Paulo
Fórum do Leitor

O assassinato de um cidadão negro no Carrefour de Porto Alegre disparou uma série de protestos, com os quais concordo. Estou na frente da TV vendo o apedrejamento e parcial destruição do Shopping Jardim Pamplona, na rua Pamplona próximo à rua Estados Unidos, onde há um Carrefour, com que não concordo em grau, gênero e número. Completa burrice.

Alguém já ouviu falar de Mahatma Gandhi?

Faz muito que deveríamos ter controlado a violência generalizada que afeta em cheio as populações de baixa renda, que em sua maioria é de origem africana. Uma hora iria ter uma gota d'água e o assassinato de João Beto no dia da Consciência Negra foi um balde de sangue transmitido por todas as mídias. 

Estávamos tendo um segundo turno tranquilo aqui em São Paulo com Boulos e Covas propondo e discutindo com civilidade. É óbvio que o acontecido no Carrefour Pamplona terá efeito na campanha de Boulos e mesmo não sendo eleitor dele fico muito triste. Para sair desta baderna que vivemos necessitamos de diálogo, de troca de ideias, de sensatez. Não concordo com alguns posicionamentos de Boulos, em especial o apoio a invasão de áreas públicas, mas concordo em grau, gênero e número que se deve dar mais atenção ao pessoal mais vulnerável, incluindo ai a classe C. 

Escrevi sobre minha tristeza com a não eleição de Renata Falzoni e o tema vem a calhar agora. Renata não foi eleita porque teve muita gente que não votou nela porque a candidatura veio pelo PV e não em partidos de esquerda mais puros (?). Não tenho dúvida que não votar em Renata foi um erro estratégico. Aos ideológicos lembro ou aviso, como queiram: "Em bicicleta se vai ao socialismo". Quem não entendeu perdeu. Um dos elementos básicos usados para a transformação dos cidadãos e suas cidades mundo afora foi, é e continuará sendo a bicicleta porque ela leva os cidadãos a comportamentos sociais e ambientais que sempre foram e continuam sendo elementos básicos da proposta de equilíbrio e justiça social, linha mestre do socialismo. Pela mais pura falta de maturidade ou mesmo burrice trocaram o fim almejado pela ideologia sonhada numa noite de verão carioca. Estranho porque o discurso é ‘a bicicleta pela bicicleta para a bicicleta’ e quando tiveram a chance de alavancar esta posição optaram pelo "é..., mas...". 

Não dá para manter o problema racial nesta loucura. Felizmente toda a sociedade está abrindo-se para uma discussão sadia e busca de soluções, mas discussão sadia e produtiva só chega a resultados produtivos sem agressões. 

Muito dos problemas que se agravam vem do péssimo exemplo vindo do Governo Federal, mas não só. Vem de toda a sociedade, sem exceção, sem exceção. Há uma gritaria contra o obscurantismo, contra os que negam a ciência, sim há, mas é gritaria e gritaria é na maioria das vezes improdutiva. Falta bom senso, técnica imprescindível para a existência de qualquer ciência.

Atirar pedras, mesmo em nome de uma causa justíssima, sem olhar o próprio telhado de vidro, nada mais estúpido.

Burrice é o que sobra neste país, de todas as partes. Não temos memória, não nos interessamos pela história – verdadeira, não nos interessamos pelas referências, “foda-se, eu quero agora, eu quero já!, eu quero da minha forma!”. Assim não dá!

É de uma burrice sem tamanho manter a panela de pressão em fogo alto. Estamos quase percebendo que há muito interesse em ter discurso político correto e não fazer nada. Há décadas a violência é insuportável e se passaram vários governos de esquerda que não conseguiram unificar os procedimentos e dados das polícias, básico do básico para o controle da violência endêmica que afeta pobres e negros, prendendo quem realmente deve ser preso, ou agilizar a justiça para diminuir a vergonha de ter mais de 30% de pobres e negros presos sem apoio da lei. Todos governos – eleitos, diga-se de passagem – não fizeram nada de efetivo, direita, esquerda, centro; e principalmente a população que os elegeu.

Empresas de segurança patrimonial são sucesso absoluto de mercado faz décadas não importando se há crise ou não. Interessante é que quanto mais estas empresas crescem e ganham mercado, mais problemas temos com segurança pública, mais gente discriminada, mais distanciamento social, mais... Alguém fala algo? Não interessa. Silêncio geral, direita, centro e esquerda. Tem que exterminar estas empresas de segurança patrimonial? Não, tem que controlar, tem que mostrar que existe Estado, representante do povo, presente. Quem se interessa?

E viajo eu, o maluco: não é a polícia, é tirar muros; não é segurança privada, é olhar para o outro e respeita-lo; não é a ciclovia, é a cidade; não é gritar, é tentar pensar...
Espero que a oportunidade que esta eleição nos dá não vá para o saco de lixo com o quebra-quebra no Carrefour.

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