terça-feira, 2 de junho de 2020

Não tenho mais espaço para as bicicletas e não ganho na Mega Sena

Não tiro na Mega Sena e não me desfaço das bicicletas que lotam um dos quartos e mais as que estão na sala, uma conta que não dá certo porque um dia acabo dormindo na rua para as bicicletas ficarem bem abrigadas. Acho que tem alguma coisa errada: eu. O que me consola é que não sou o único, tenho um monte de amigos que tem o mesmo problema, não tiram na Mega Sena e tem que ficar numa briga eterna com a família por causa do monte de bicicletas espalhadas pela casa. Fora as peças e acessórios. Pior é quando você vicia o ou a companheira e acaba com duas coleções de bicicletas. Faz um bom tempo recebi um Whatsapp de um cara deitado na cama de casal abraçado com sua bicicleta. Mais ou menos por aí. A briga acaba sendo para ver quem dorme no chão abraçado com sua bicicleta. Como já dormi na calçada debaixo de chuva agarrado a duas bicicletas sei como é.
No meio desta pandemia, saindo de casa pouco, estou começando a ficar preocupado com o número absurdo de bicicletas paradas dentro de casa. Para que quero tantas? Pergunta idiota. Só me pergunto porque não posso pedala-las ao mesmo tempo, esta é a verdade. Para cada uma delas tenho um sonho, um desejo de pedal, de trilha, estrada ou viagem que no meio deste isolamento ficam mais vivos e reforçados pela presença de cada uma delas. Fiz a subida do Desafio da Serra do Rastro com minha amada Haro Flight Line 26 em homenagem aos anos, mais de década, de prazer que ela me deu - e continua dando. Parada ao lado dela minha KHS Vitamin A híbrida que me levou em algumas viagens longas. A velha KHS de cromo-molibdênio de estrada saiu faz pouco e é tratada com deferência. A Groove 29 já elogiada aqui que me levou pelo Caminho da Fé. A Trek híbrida 7100 preta pronta para dias de chuva, para-lamas e bagageiro, toda preta, jeito de Europa, chiquérrima. Nas minhas costas está minha Btwin de estrada pronta para fugir agora, neste exato instante. Faço a cama e sumo. Fui, sigo quando voltar.

Desço a escada com a Btwin no ombro. É leve, tão leve quanto qualquer estradeira de marca dita chique da mesma faixa de preço, só que mais barata e muito menos chamativa. No tubo de selim está um selo "designed and tested Flandes" que não dei importância até que um amigo ex ciclista profissional fazer um teste e elogiar muito esta Btwin Triban 500. O significado do selo: alta qualidade. Simplificando: segundo publicações europeias de longe o melhor custo benefício do mercado na época que a comprei.
Todas minhas meninas são assim, deliciosas, não por ser minhas meninas, mas porque são - deliciosas. Duvida? Quer testar?

Em pouco tempo entrei na Anhanguera um tanto assustado com o movimento de carros, muito maior que há alguns dias e nada bom para controlar a pandemia. Pedalei feito uma lesma, olhei de perto o Pico do Jaraguá, ícone de tantos bons sentimentos, e dei meia volta no viaduto SBT.  "As perna num vai". Decisão sábia. Sair com a bicicleta de estrada e voltar depois de 10k é duro, mas muito mais inteligente que machucar um músculo. Ontem já estava com as pernas doloridas, cansadas, e tinha pensado em dar um ou mais dias de descanso para elas, mas quem segura a coceira? A ideia era ir até a balança de Jordanesia e voltar, 30 km ida, 30 km volta, mas seria irresponsável. Conhecer e respeitar os limites é uma benção da maturidade. 

Na volta saí da Anhanguera pelo caminho sinalizado para Mutinga - Osasco, que desconhecia. Curiosidade mata! Passa por uma acanhada avenida de mão dupla, cheia de gente e negócios abertos, nada bom para quem quer manter o isolamento a sério. Pelo menos tinha carros estacionados dos dois lados. Consegui passar longe de todos pedalando forte no meio da rua. Isolamento, isolamento! Um pouco depois cheguei à avenida que ladeia um córrego (av. Onix, depois Av. Brasil) e a angústia deixou de ser as pessoas por perto e passou a ser o horror do córrego completamente poluído, drama muito pior que a pandemia. Cruzo o rio Tiete pela passarela vazia, pedalo mais um pouco e felizmente entro no tranquilo bairro residencial Presidente Altino. Daí para frente pedal isolado até voltar para casa. 

Pelo sim, pelo não, foi um ótimo treino. Minhas pernas doem.

E se tirar a Mega Sena o que faço da vida? Pedalar com certeza, mas o que mais? Faz sentido ter todas estas bicicletas? Compro ou não compro uma casa maior? Que tal pensar em viver? Vale mais a pena. A pandemia e o isolamento me fazem olhar em volta e pensar de outra forma o que quero desta vida. Pedalar para liberdade é uma coisa, ter um monte de bicicletas cheias de sonhos é outra. O que fazer?

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