Um dos livros que gostaria de ter encontrado e lido é a história da população europeia na reconstrução de suas vidas pós a completa devastação causada pela Segunda Guerra Mundial. O que é fácil encontrar fotos; em algumas, principalmente onde ruas já tinham sido desentulhadas (literalmente), é possível ver bicicletas e ciclistas circulando e perceber a sua importância. Até em situações extremas destes mais de 150 anos a bicicleta mostrou-se crucial como alternativa para melhorar a condição de vida da população e auxiliar na reconstrução da normalidade.
A primeira história que me chamou atenção sobre os efeitos da Segunda Guerra Mundial foi contada por minha tia, Maria Elena, a descrição do viu na primeira vez que foi acompanhando meu tio Mino para a Alemanha, a trabalho, isto lá por volta de 1960, ou seja, 15 anos depois do fim da guerra. Maria Elena entrou numa doceria e pediu um pedaço de bolo e lhe foi servido 1/4 do bolo, uma fatia imensa se comparada ao que serviam em Buenos Aires, sua cidade natal, ou mesmo em São Paulo, onde casada vivia. Curiosa, perguntou para a alemã que acompanhava porque fatias tão grandes. "Durante a guerra todos nós passamos muita fome".
Fala-se muito sobre as bombas atômicas, mas nos dias finais algumas cidades alemãs foram tão bombardeadas que o poder destrutivo foi maior que das bombas atômicas. Muitas cidades foram colocadas no chão, dizimadas, deixando um claro recado que uma terceira guerra mundial seria inaceitável, para resumir o drama.
Vi num documentário sobre a reconstrução da Alemanha que foi colocado que todos, sem exceção, tinham que ajudar na reconstrução das cidades, no pegar tijolo por tijolo, no limpar as ruas, recolher cadáveres, fazer o que tinha que ser feito para bem o coletivo. Se descobrissem que uma criança ou adolescente escondido, principalmente da juventude nazista, estava escondida para não ajudar a população a pegava e fuzilava no meio da rua para deixar claro que ninguém podia ficar de fora do esforço de reconstrução.
Neste exato momento sinto um vazio de nunca ter lido nada mais profundo sobre situações extremas da humanidade, não a guerra em si, mas o efeito e as ações individuais e coletivas para manter e retomar suas vidas. Ninguém sabe ainda o que vai acontecer após o coronavírus, mas todos sabem que é definitivamente um ponto de flexão histórico. Vamos mudar, disto não tenham dúvidas.
Meu caro amigo Álvaro me deu o delicioso "Armas, germes e aço; o destino das sociedades humanas", de Jared Diamond, livro ganhador do Prêmio Pulitzer. Boa ironia do destino ganhei faz tempo e entrou na fila de leituras, acabando por ser aberto uns dias antes desta crise pandêmica do coronavírus. Recomendo.
É crucial que esta gravíssima crise seja documentada em todos seus aspectos. É necessário que seja analisada por especialistas que deem respostas produtivas.
Estamos nos primeiros dias de uma mudança profunda, individual e coletiva. Pelo quanto tudo está meio que em ritmo de festa, mas a coisa vai ficar pesada e não vai demorar muito. Este primeiro momento mostra que o brasileiro quer e muito fazer a coisa certa, ter futuro, respeitar comandos. É bom mantermos assim. Os que tem cultura, os que pensam, os que tem dados ou informações de qualidade, tem o dever de agir pelo bem comum. Dever de agir!
Está morrendo e vai continuar morrendo muita gente. É um bom momento para discutir morte, o que tenho dito. Mortes no Brasil, de todo tipo e forma, é coisa tão banal quanto comprar banana na esquina. A verdade é que não faz diferença, mas faz e toda. Chama-se respeito, essencial.
Uma excelente e rápida leitura é "A metamorfose" de Franz Kafka, outro que só li agora, também uns dias antes do coronavírus.
Para terminar: se você tem um mínimo de condição financeira reparta, dê esmolas, ajude. Os miseráveis estão completamente desprotegidos. Infelizmente a parca rede de proteção que tinham deve entrar ou já entrou em colapso.
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