sexta-feira, 29 de novembro de 2019

As melhores cidades para motoristas, e o efeito para ciclistas


As melhores cidades para motoristas? O que isto tem a ver com o ciclista? Tudo, absolutamente tudo. Dependendo dos critérios colocados na pesquisa quando melhor as condições para o motorista melhor é a cidade não só para os motoristas, mas para absolutamente todos, sem exceção.
O correto é ter uma cidade melhor e não melhor para este ou aquele. Não há outra forma porque a cidade engloba tudo e todos. É lógico que a sardinha pode ser puxada para cá ou para lá, mas com equação puxa-puxa nunca se chega ao melhor. Um semáforo que demora muito para abrir para pedestres (mais de 45 segundos) induz o pedestre a cruzar com o sinal vermelho, e aí o tempo maior para motoristas pode causar atropelamentos e consequentes congestionamentos, e congestionamentos são péssimos para não só para motoristas, mas para todos. Portanto apostar ou apoiar só na fluidez dos motorizados, por exemplo, acaba sendo um tiro no pé.

Foi publicada a pesquisa sobre as 100 melhores cidades do mundo para os motoristas e duas cidades brasileiras aparecem lá no fundão, Rio de Janeiro em 92ª e São Paulo em 94ª. Pensando raso como ciclista isto pode ser bom por um lado para a bicicleta e outras mobilidades ativas porque com o motorista encalacrado no congestionamento ele vai sofrer e vai ficar com vontade de largar o carro no meio da rua e sair correndo. Pior ainda quando vê um ciclista leve e solto passar e ir embora. Pelo sim ou pelo não acaba sendo um estímulo para experimentar outros transportes, qualquer um, ônibus, táxi, Uber, bicicleta, patinete, caminhar. Mas por outro lado, se a vida do motorista for ruim a vida do ciclista também não poderá ser?

A questão é que não se sabe bem como levar a vida sem o automóvel. São tantas as perguntas sem resposta que a cidade utópica dos ciclistas, a cidade sem carro, está longe de nossa realidade imediata. Ok, tem pequenas cidades na Holanda e em várias partes do planeta que conseguiram o feito, pelo menos em seus centros, porque nas bordas os carros existem, estão lá, e são necessários. E são pequenas, o que faz toda diferença.
Carros são e serão necessários por um bom tempo ou para sempre só o futuro dirá. Quem sabe desapareça num futuro muito distante, mas pelo quanto está aí – ponto final. Eu aposto que o carro nunca deixará de existir e ser usado porque é imprescindível. De imediato precisamos reorganizar seu uso até através de restrições, já que o carro deixou de ser ferramenta de transporte racional e virou vício epidêmico.
Se o carro não vai desaparecer, pelo menos tão cedo, porque não ter cidades que sejam melhores para seus motoristas? "Isto vai vender mais carros, vamos ter mais motoristas, e cidades piores para quem não é motorista". Para quem pensa assim seria bom ver o índice de automóveis por habitante na Holanda, por exemplo. Cidades melhores para motoristas não tem nada a ver com a cidade que vivemos hoje. Não é uma cidade com mais fluidez, mais velocidade, mais estacionamento, mais avenidas, viadutos, custos menores para o proprietário do automóvel e facilidades para os motoristas. Esta solução está provada que só piora a vida do motorista.
Quer ver uma criança infeliz? Dê a ela tudo que ela quer, da forma que ela quer, no momento que ela quer. Você terá uma criança mimada, um adolescente mimado, um adulto mimado, e infeliz. Diz o budismo que não existe liberdade sem disciplina, o que se pode traduzir em felicidade sem restrições, sem limites, sem contratempos. 
A cidade melhor tem regras, restrições, limites, para todos, incluindo motoristas, e porque não dizer ciclistas.

Errata: infelizmente foi publicado e ficou no ar uns dias um croqui de texto não revisado. Peço desculpas pelo erro. 

A matéria em português e a tabela nos links abaixo. 
https://www.panrotas.com.br/mercado/pesquisas-e-estatisticas/2019/11/estudo-revela-as-100-melhores-e-piores-cidades-para-dirigir_169164.html

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