segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Sem Ciclo Faixa de Domingo

Museu Casa Sertanista, Caxingui
Faz tempo que São Paulo está sem Ciclo Faixa de Domingo. Não faço ideia do que está achando a população, mas deve ter muita gente sentindo falta. Volta ou não, eis a questão. Acho que a Ciclo Faixa de Domingo cumpriu sua missão com louvor e é hora de dar um passo a frente. São Paulo é muito mais mágica e interessante que a imensa maioria da população consegue imaginar. Há muito por descobrir. Ficar pedalando sempre nos mesmos trajetos não ajuda em nada a cidade. São Paulo é talvez a cidade com maior diversidade de arquitetura no mundo. Por outro lado, o número de usuários vinha diminuindo a olhos vistos. A pergunta decisória do volta ou não volta pode ser o que diminuiu, o número de ciclistas na Ciclo Faixa de Domingo ou o número de ciclistas pedalando aos domingos e feriados, o que sinceramente duvido.
Para estabelecer uma política pública é necessário ter dados, saber o que está acontecendo, e buscar caminhos que levem o coletivo ao bem comum. Esporte e lazer são importantíssimos não só para a saúde pública, mas para a estabilidade social. É muito provável que o Bradesco, patrocinador da Ciclo Faixa de Domingo tenha estes dados. Se os tem é um direito mante-los fechados, mesmo sendo de interesse público. Duvido que a Prefeitura tenha dados precisos porque a coisa pública não tem a tradição desta coleta de dados e nestes últimos anos provavelmente não deve ter tido dinheiro para fazer as contagens. As administrações públicas mal tem dinheiro para o que prioritário. Lazer é prioritário, bicicleta tem que ser política pública, mas isto não implica em que a cidade tenha que ter um gasto alto com o lazer para ciclistas. Usando a inteligência há outras alternativas a meu ver muito mais interessantes.  
Os primeiros números que vi a respeito eram do que acontecia dentro do Parque Ibirapuera antes da instalação da ciclo faixa separando ciclistas de pedestres e a situação era bastante feia, com um monte de acidentes, principalmente envolvendo crianças. Quando a Caloi mudou de mãos, Musa, o novo proprietário, fez uma pesquisa e deu um milhão pedalando em fins de semana com dias ensolarados. Um pouco depois a SVMA fez outra pesquisa e contaram 700 mil ciclistas por domingo nas ruas. A metodologia das duas contagens / pesquisas era a mesma. Tentei encontrar algum dado na Internet sobre a Ciclo Faixa de Domingo e não consegui encontrar, mas isto não quer dizer muito porque em algum lugar deve haver.

Num domingo destes fui guia de um pequeno passeio onde uma das ciclistas, também guia de passeios, adorou os caminhos alternativos que fiz, pedalando o máximo possível por dentro dos bairros e longe das avenidas. Levei o grupo para o Morumbi tendo algumas ciclistas pouco preparadas num circuito praticamente sem subida e pedal em avenidas. Comemorei 30 anos como guia de passeios de bicicleta, tenho experiência o suficiente para dizer que o interior dos bairros de São Paulo é sempre uma boa surpresa. Nenhum dos que estavam no passeio sabiam da existência do Museu Casa Sertanista, muito menos das outras casas coloniais de taipa. A maioria nunca tinham pedalado no interno do bairro de classe média Caxingui e suas praças, nem nas ruas do rico Morumbi; Estádio do São Paulo, Colégio Porto Seguro, Colégio Pio XI, até Ponte Morumbi por onde atravessamos pela calçada. Como não é o caminho do automóvel, não é o caminho mais comum, precisa saber por onde vai, ou ir errando e acertando, o que é bem divertido e instrutivo. São Paulo é um mar de belas e vivas ilhas cercadas por vias expressas, avenidas e ruas de movimento pesado. Sabendo usar a topografia é possível evitar as piores subidas.


O pior momento da bicicleta em São Paulo? Por que? Esta é a questão. Dar um passo atrás não me preocupa. Persistir em alguns erros sim. Mesmo que não sejam erros, repensar, buscar novas alternativas, aceitar uma mudança faz bem. Buenos Aires repensou, deu um passo atrás, e entrou num caminho muito melhor; e este é só um exemplo.


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