domingo, 10 de novembro de 2019

As empresas e a responsabilidade social


A ideia deste texto veio depois que li dia 31 de Outubro de 2019 no Espaço aberto do O Estado de São Paulo o texto "Responsabilidade social das empresas" de autoria do Roberto Teixeira da Costa.
Escrevo este texto sobre responsabilidade social das empresas, esperando não cometer deslizes. A bicicleta deveria estar completamente inserida neste contexto de responsabilidade tanto social quanto empresarial.

O início da história da revolução industrial, do início de 1700 até quase 1900, mostra, em linhas muito simplistas, dois lados: por um lado trabalhadores quase escravizados e fábricas poluindo sem limites; por outro acabou dando a possibilidade de que cada dia mais e mais pessoas tivessem acesso a produtos e benefícios que melhoraram e muito a qualidade de vida. Dizia-se que os benefícios gerais justificam os custos, o que fazia algum sentindo até mesmo porque então não se levava em consideração uma série de fatores que entraram no cálculo do custo/benefício recentemente. 
A bicicleta teve um papel importantíssimo na luta dos direitos individuais de trabalhadores na virada do século XIX para o XX, quando trabalhar, principalmente numa indústria, era estar sujeito a um sistema que se pode considerar escravagista remunerado, num ambiente desagradável, hostil, com turnos longuíssimos, de domingo a domingo, com altos índices de acidente de trabalho, salários de fome e sem qualquer garantia individual. Começava ali uma longa luta pelo que hoje se chama responsabilidade social. 
A poluição no meio ambiente, ou seja, no ambiente externo às indústrias, passou a ser levada a sério quando Londres teve uma inversão térmica e a poluição, não só das indústrias, acabou matando 12 mil e deixando doentes mais de 100 mil, fenômeno que ficou conhecido como Big Smoke. Não foi a primeira vez que o problema ocorreu, mas foi o basta. 
Nestas últimas décadas a responsabilidade das empresas tem se ampliado, evoluindo da responsabilidade com seus funcionários para a responsabilidade ambiental e por consequência para a responsabilidade com toda a sociedade, país e planeta. Os custos dos mais diversos problemas gerados pela falta de cuidado ou mesmo atenção com o social chegaram a um ponto que não permitia outra alternativa que não fosse mergulhar no que se chama qualidade total (e aqui uso o termo de maneira livre).
Um dos empecilhos para reverter processos danosos é a falta de consciência da própria população que quer produtos baratos, não importando as consequências do custo não aparente. "O que não vejo não é comigo..." Um produto com custo irreal, como exemplo os 1,99, só é possível pulando etapas de qualidade ou sonegando impostos. A maioria destes produtos acabam sendo descartados rapidamente, o que gera um custo ambiental imenso. Ótimo exemplo são os guarda-chuvas baratinhos que no primeiro vento terminar no lixo ou entupindo bueiros. 
O conceito responsabilidade social incorretamente compreendido traz deformações para todo o sistema (de um setor econômico e social), impactando inclusive nas tomadas de posição das empresas. Concorrência desleal torna impossível sobreviver jogando limpo. Contam que a fabricante inglesa de bicicletas Phillips, de alta qualidade, que rodavam décadas sem dar problemas, acabou morrendo porque se recusou a fabricar bicicletas frágeis num momento que o importava era o preço.
A matemática correta da responsabilidade social só chega quando a população sabe o que esta realmente significa e sabe o que é correto para seu futuro. Quando isto acontece a empresa que não for responsável, ou melhor, que não cumprir seus deveres vai perder mercado, podendo até desaparecer. 
Empresas só conseguem sobreviver jogando o jogo e ao ritmo do baile. Se o país é uma baderna, as leis confusas, se a sociedade não sabe o que quer, ou quer errado, se a sociedade não responde, se os que pressionam pela responsabilidade o fazem por outros interesses, se..., se..., se..., fica difícil ou até impossível chegar à responsabilidade social.

"Pense globalmente, aja localmente" começa a ser a lógica atual. Hoje diz respeito a pequenas ações individuais que podem, repito, podem levar a uma melhora global. Pesquisando descobri que o "Think globally, act locally" é de 1915, pensamento e posicionamento criado pelo biologista, sociólogo, filântropo e planejador urbano escocês Patric Geddes. 1915! "Ao socialismo se vai em bicicleta" é mais ou menos da mesma época.

Ter resultados globais não significa agir localmente varrendo para debaixo do tapete o que não interessa individualmente ou para um determinado coletivo. Também não significa o que leva a resultados imediatos e que por estar desajustado cria problemas futuros, o que aqui no Brasil é comum. De boa intenção o inferno está lotado.
Consegue-se resultados de fato quando há qualidade, quando todos os pontos convergem para o melhor resultado. Qualidade total, responsabilidade social.

A bicicleta teve seu pior momento no fim entre o final da década de 60 e começo dos anos 80, muito pela baixa qualidade oferecida. Ela só ressurge quando ganha qualidade e durabilidade.

Bicicleta diz muito sobre responsabilidade social.
Como está a qualidade da maioria das bicicletas, peças e acessórios fabricados e vendidos no Brasil, a maioria de preço popular? 
Qual é o custo real de uma bicicleta para a população de baixa renda (custo linear)? 
Qual é o índice de defeitos e falhas mecânicas das bicicletas populares vendidas no Brasil?
Qual é a responsabilidade social do setor da bicicleta?
Qual é a responsabilidade social neste processo dos atores civis pró bicicleta?

Mais bicicletas circulando, mais ciclistas nas ruas, melhor a responsabilidade social? 
Mais ciclovias melhor será a responsabilidade social?
Mais ciclovias, mais ciclistas, verdade?

Responsabilidade social envolve um número alto de fatores, uns óbvios, outros nem tanto, e mais outros bem complexos. Nada a ver com análise simplista.

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