A ideia deste texto veio depois que li
dia 31 de Outubro de 2019 no Espaço aberto do O Estado de São Paulo o texto
"Responsabilidade social das empresas" de autoria do Roberto Teixeira
da Costa.
Escrevo este texto sobre
responsabilidade social das empresas, esperando não cometer deslizes. A
bicicleta deveria estar completamente inserida neste contexto de
responsabilidade tanto social quanto empresarial.
O início da história da revolução industrial, do início de 1700 até quase 1900, mostra, em linhas muito simplistas, dois lados: por um lado trabalhadores quase escravizados e fábricas poluindo sem limites; por outro acabou dando a possibilidade de que cada dia mais e mais pessoas tivessem acesso a produtos e benefícios que melhoraram e muito a qualidade de vida. Dizia-se que os benefícios gerais justificam os custos, o que fazia algum sentindo até mesmo porque então não se levava em consideração uma série de fatores que entraram no cálculo do custo/benefício recentemente.
A bicicleta teve um papel importantíssimo
na luta dos direitos individuais de trabalhadores na virada do século XIX para
o XX, quando trabalhar, principalmente numa indústria, era estar sujeito a um
sistema que se pode considerar escravagista remunerado, num ambiente
desagradável, hostil, com turnos longuíssimos, de domingo a domingo, com altos
índices de acidente de trabalho, salários de fome e sem qualquer garantia
individual. Começava ali uma longa luta pelo que hoje se chama responsabilidade
social.
A poluição no meio ambiente, ou seja,
no ambiente externo às indústrias, passou a ser levada a sério quando Londres
teve uma inversão térmica e a poluição, não só das indústrias, acabou
matando 12 mil e deixando doentes mais de 100 mil, fenômeno que ficou conhecido
como Big Smoke. Não foi a primeira vez
que o problema ocorreu, mas foi o basta.
Nestas últimas décadas a
responsabilidade das empresas tem se ampliado, evoluindo da responsabilidade
com seus funcionários para a responsabilidade ambiental e por consequência para
a responsabilidade com toda a sociedade, país e planeta. Os custos dos mais
diversos problemas gerados pela falta de cuidado ou mesmo atenção com o social
chegaram a um ponto que não permitia outra alternativa que não fosse mergulhar
no que se chama qualidade total (e aqui uso o termo de maneira livre).
Um dos empecilhos para reverter
processos danosos é a falta de consciência da própria população que quer
produtos baratos, não importando as consequências do custo não aparente.
"O que não vejo não é comigo..." Um produto com custo irreal, como
exemplo os 1,99, só é possível pulando etapas de qualidade ou sonegando
impostos. A maioria destes produtos acabam sendo descartados rapidamente, o que
gera um custo ambiental imenso. Ótimo exemplo são os guarda-chuvas baratinhos
que no primeiro vento terminar no lixo ou entupindo bueiros.
O conceito responsabilidade social
incorretamente compreendido traz deformações para todo o sistema (de um setor
econômico e social), impactando inclusive nas tomadas de posição das empresas.
Concorrência desleal torna impossível sobreviver jogando limpo. Contam que a
fabricante inglesa de bicicletas Phillips, de alta qualidade, que rodavam
décadas sem dar problemas, acabou morrendo porque se recusou a fabricar
bicicletas frágeis num momento que o importava era o preço.
A matemática correta da
responsabilidade social só chega quando a população sabe o que esta realmente
significa e sabe o que é correto para seu futuro. Quando isto acontece a
empresa que não for responsável, ou melhor, que não cumprir seus deveres vai
perder mercado, podendo até desaparecer.
Empresas só conseguem sobreviver
jogando o jogo e ao ritmo do baile. Se o país é uma baderna, as leis confusas,
se a sociedade não sabe o que quer, ou quer errado, se a sociedade não
responde, se os que pressionam pela responsabilidade o fazem por outros
interesses, se..., se..., se..., fica difícil ou até impossível chegar à
responsabilidade social.
"Pense globalmente, aja localmente"
começa a ser a lógica atual. Hoje diz respeito a pequenas ações individuais que
podem, repito, podem levar a uma melhora global. Pesquisando descobri que o "Think globally, act locally" é
de 1915, pensamento e posicionamento criado pelo biologista, sociólogo, filântropo
e planejador urbano escocês Patric Geddes. 1915! "Ao socialismo se vai em bicicleta" é mais
ou menos da mesma época.
Ter resultados globais não significa
agir localmente varrendo para debaixo do tapete o que não interessa
individualmente ou para um determinado coletivo. Também não significa o que
leva a resultados imediatos e que por estar desajustado cria problemas futuros,
o que aqui no Brasil é comum. De boa intenção o inferno está lotado.
Consegue-se resultados de fato quando
há qualidade, quando todos os pontos convergem para o melhor resultado.
Qualidade total, responsabilidade social.
A bicicleta teve seu pior momento no
fim entre o final da década de 60 e começo dos anos 80, muito pela baixa
qualidade oferecida. Ela só ressurge quando ganha qualidade e durabilidade.
Bicicleta diz muito sobre
responsabilidade social.
Como está a qualidade da maioria das
bicicletas, peças e acessórios fabricados e vendidos no Brasil, a maioria de
preço popular?
Qual é o custo real de uma bicicleta
para a população de baixa renda (custo linear)?
Qual é o índice de defeitos e falhas
mecânicas das bicicletas populares vendidas no Brasil?
Qual é a responsabilidade social do
setor da bicicleta?
Qual é a responsabilidade social neste
processo dos atores civis pró bicicleta?
Mais bicicletas circulando, mais
ciclistas nas ruas, melhor a responsabilidade social?
Mais ciclovias melhor será a
responsabilidade social?
Mais ciclovias, mais ciclistas,
verdade?
Responsabilidade social envolve um
número alto de fatores, uns óbvios, outros nem tanto, e mais outros bem
complexos. Nada a ver com análise simplista.
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