sexta-feira, 15 de junho de 2018

pequenas referências que fazem um país



Esta é Beethovenstraat, em Amsterdam. A motorista do Fiesta errou a entrada numa rua e ficou parada no meio da passagem dos ciclistas sem saber o que fazer. Todo trânsito do fim de tarde parou até que ela se ajeitasse, o que demorou um bom tempo. Foi mais uma pequena e absolutamente normal referência de quem são os holandeses.

Um país se constrói com referências, algumas insignificantes, mas profundamente expressivas. Via de regra a construção destas referências é fruto de elites...
Origem   ⊙ ETIM fr. élite 'o que há de melhor'
 
Voltando: ...elite cultural, musical, esportiva, educacional, política, social, economica, religiosa, gastronômica, comunitária...  de todas as crenças, credos, ideologias e pensamentos Elite: os melhores. Acho necessário dar esta explicação porque quando se fala "elite" no Brasil é líquido e certo que alguém vai ter um ataque histérico na defesa ou ataque das elites. Nós, brasileiros, conseguimos elevar a palavra "elite" ao patamar do politicamente correto, sem dúvida um feito. Ou do pecado, como queira. Brilhante! De uma inteligência...

Mas só se ouve e dá a devida atenção ao valor das elites (bem dito, as verdadeiras, as que tem  essência) quando os ouvintes tem um mínimo de civilidade.

civilidade
substantivo feminino
  1. 1.
    conjunto de formalidades, de palavras e atos que os cidadãos adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração; boas maneiras, cortesia, polidez.
  2. 2.
    o fato e a maneira de observar essas formalidades.

Fomos tomar café numa padaria. Do lado de fora tinha uma mesa livre mas só com uma cadeira. Ao lado estavam sentados em duas mesas um casal com seu cachorro, uma amiga e duas bolsas, cada qual em sua cadeira. Fiquei em pé ao lado da mesa, eles olharam, não deram bola. Seguiram  conversando sobre a maravilhosa viagem a uma praia do Caribe, cada qual abundado em sua cadeira: uma mulher numa cadeira, a segunda mulher noutra cadeira, homem noutra cadeira, cachorro que latia sem parar aboletado em sua cadeira; as duas bolsas em silêncio, cada qual também em sua cadeira. Cada qual em sua cadeira. E eu em pé sem cadeira. E assim fiquei até o dono da padaria vir lá de dentro com uma cadeira e pedir desculpas pela falta de civilidade dos três. Ou serão seis? Meu complexo de inferioridade me diz que tenho menos valor que uma bolsa.
Moral da história: o outro simplesmente não existe. Salve-se quem puder.
Elite. Elite?

A comparação entre as duas situações é raza e inadequada? Pode ser, mas a frequência com que se vê falta de civilidade aqui no Brasil é espantosa, começando pelo lixo espalhado por todas partes. Nossas referências são pobres, são ruins, são perigosas. Perdemos a referência do coletivo, o que é uma tragédia sem tamanho.


Não temos só um problema de educação formal, aquela da escola, mas do que se pode chamar de educação social, coletiva: bom dia, boa tarde, boa noite, por favor, a senhora quer sentar, posso ajudar?..., uma espécie de educação empírica que se estabelece por acordo histórico social, um cooperativismo espontâneo, digamos assim. Civilidade.

"Sabe com quem está falando?" lembra que povo? Precisamos urgente mudar este país e muito se fala de escola como salvação, mas escola não resolverá. Ou estabelecemos um acordo social ou o Brasil acabou - literalmente!

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