segunda-feira, 4 de junho de 2018

2+2=5? Como mentir com estatística.



Hoje tive que explicar para Maria Clara, de 12 anos, o que significa 2+2=5. Não foi difícil. Uma mulher diz que só compra calças tamanho 38 porque vai emagrecer e seu número sempre foi 38. A questão é que ela usava 38 a uns 10 anos e como qualquer ser humano normal seu corpo mudou. Hoje todas as calças 38 que ela experimenta ficam apertadas, deixam o corpo feio, principalmente olhando por trás. Ninguém tem um retrato fiel da própria bunda porque é humanamente impossível ter. Espelho, espelho meu... não dá! Por comentário ou foto tirado por outro ou outra? Duvido. Cada um tem o corpinho que acha que tem e ninguém muda esta verdade! Voltando; uma das vendedoras sugere que ela leve uma calça tamanho 40, ou mesmo 42, que lhe cairá bem e que em casa corte a etiqueta. "Não! Eu só compro tamanho 38!" A numeração é mais importante que o vestir apropriado, assim como para muitos princípios e ideologia são muitíssimo mais importantes que um resultado sensato. Este é o 2+2=5 que está pululando em corações e mentes brasileiros: a matemática do populismo. Não vai dar certo porque a história prova que nunca deu bom resultado. Pode até dar certo no início, quando ela sai da loja feliz da vida com a calça 38, mas sempre acaba em ruína, por melhor que sejam os propósitos. No primeiro peido a costura vai abrir.
Resultado de imagem para como mentir com estatisticaÉ possível transformar qualquer coisa em verdade. O clássico "Como mentir com estatística" de Darrell Huff, publicado pela primeira vez em 1959 e sucesso de vendas desde então, dá aulas sobre como se pode fazer ou alcançar qualquer coisa usando números corretos e comprovados, bastando fazer a demonstração dos fatos até o ponto a partir do qual a verdade não favoreça o objetivo desejado. Lembrou de "política"? Políticos somos todos, sem nenhuma exceção, porque sem política não existe convívio social, portanto não existe sociedade e sem ela a humanidade jamais teria chegado onde chegou. Querendo sim ou não ninguém escapa da política, que pode ser benéfica ou maléfica, e esta sim é uma opção individual e coletiva. Mente-se com estatísticas por comodidade, preguiça, desinformação. A busca pela compreensão do que os outros dizem e a formação do ponto de equilíbrio dos fatos pode cansar porque demanda interesse e tempo.
A greve dos caminhoneiros colocou em pauta um Brasil que vem rodando numa estrada muito mais cheia de problemas que se podia imaginar. Quem tem um mínimo de interesse sério por este país está tendo a oportunidade de conseguir informações que até então não eram colocadas em pauta nem pela própria imprensa. Diferente do rompimento da barragem de rejeitos de Mariana, uma tragédia anunciada de resultados absurdos, extensos mas localizados, a greve dos caminhoneiros pegou todos os brasileiros de calças curtas porque a enxurrada atingiu todo o país. Tal como qualquer tragédia deveria deixar alguma lição, algum aprendizado. 

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