No cruzamento um motorista parou para que três senhoras cruzassem a rua. O motorista que estava atrás disparou a buzina e não parou até que o carro saísse de sua frente. Ainda abriu a janela e gritou sei lá o que aos montes. Ultrapassei o desagradável incidente e sinalizei com a mão que o outro carro estava parado por causa dos pedestres. O motorista furioso acelerou em minha direção, emparelhou, abriu a janela, empurrou com brutalidade a senhora sentada no banco de passageiros que fez uma cara de apavorada, e voltou gritar coisas que confesso não entendi (de verdade), acelerou e parou logo a frente noutro semáforo. Eu voltei a ultrapassa-lo e sua janela estava aberta com o homem gordo aos gritos. Olhei pelo para-brisa e vi a expressão de terror da senhora, não comigo, mas com o motorista. Não houve de minha parte xingamento, só o movimento com a mão pedindo calma. Talvez a forma de fazê-lo. Por precaução parei do lado esquerdo da esquina, longe daquele homem com ataque de TPM. Abriu o sinal, ele fechou a janela, dobrou a direita e se foi. Infelizmente nada a fazer.
Fosse em um país civilizado eu teria chamado a polícia. Provavelmente com rapidez teria chegado um carro policial, ou moto, teria abordado o furibundo para saber o que estava acontecendo. Vi isto acontecer em vários países e a eficiência da polícia é impressionante. Eu teria pedido providências ao policial principalmente por causa da agressão dele contra a senhora que viajava com ele, provavelmente sua mulher. Como estamos aqui neste Brasil de guerra civil oficialmente não declarada*, e mesmo estando numa das pouquíssimas áreas que tem padrão de segurança aceito pela UNESCO, é uma perda de tempo chamar a polícia que tem mais o que fazer. Entre parar um histérico ou um ladrão, fico com a opção do ladrão.
A velhice me trouxe sabedoria. Fosse no passado eu teria armado o maior barraco no meio da rua que não serviria para nada além de provar a mim mesmo que sou justo, que tenho bons propósitos, que consigo combater o mal que aflige nossa sociedade. Hoje tenho certeza absoluta que isto é uma besteira que não tem tamanho, uma atitude completamente contraprodutiva. Para mudar de verdade não se combate o efeito, mas as causas.
Há pesquisas e estatísticas que provam sem qualquer sombra de dúvida que ter um chilique no meio do trânsito diminui muito a segurança de todos em volta, principalmente a segurança de quem teve o chilique. Paz no trânsito vai muito muito além de uma simples frase publicitária.
Quer ajudar a melhorar o trânsito e a vida de todos? Controle-se, tenha autorrespeito. Só o autorrespeito leva ao respeito coletivo. Dar bom exemplo faz milagres.
*Ontem foi "publicado um informe da Small Arms Survey, referência mundial para a questão da violência armada que aponta o Brasil com 12,5% das mortes violentas no mundo em 2016, ou, O Brasil tem maior número de mortes violentas do mundo" (tirado da matéria de Jamil Chade em O Estado de São Paulo, A14, Metrópole, 08 de Dezembro de 2017). Quem se importa?
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