terça-feira, 17 de outubro de 2017

Pedalar correto

Sai aqui em São José dos Campos para pedalar com um amigo, Zé. Ele estava a três meses parado e uns quilos mais pesado. "Vamos até a represa, que vai dar uns 40 km". Já estou escolado e imaginei como seria: saímos às 7:30 h e voltamos às 14:30 h, total 55 km. Bem antes do meio do caminho fiz delicadamente a pergunta óbvia: "Não seria bom voltar daqui", e recebi a resposta típica "Fica tranquilo, estou bem". Óbvio, mais uns quilômetros e ouvi um resmungar baixinho "Tô sentindo câimbra". Isto debaixo de um sol de mais de 35º C. 
Para praticamente tudo há uma técnica esportiva, inclusive para quando já deu pau. Paramos, ele desceu da bicicleta, pedi que ele desse muros suaves na musculatura dolorida, dei algo para ele comer, um pouco doce e um pouco salgado, tomou água, fez um leve alongamento e em seguida nos pusemos a caminhar. A situação melhorou, mas pela expressão dele eu sabia que era bem precária. De volta ao pedal.
Antes de outras dicas que ajudam nesta situação deixo a recomendação para que se respeite seu próprio limite. Se quiser ir até o limite é necessário conhecimento, prática e uso de várias técnicas esportivas que se aprendem principalmente lendo. Mas... quer saber, nunca chegue ao seu limite, principalmente se você não for um esportista profissional. Começou a sentir que vai complicar pára, descansa e se for o caso não tenha vergonha de fazer o caminho mais fácil e curto de volta. No caso ele foi sábio e intercalou pedalar e caminhar, principalmente nas subidas mais fortes.
Recomendo a leitura dos textos de Jeff Galloway, que criou uma técnica para corredores, a Run Walk Run. Os princípios servem bem para ciclistas amadores. Zé é experiente, pedala bem, é forte, resistente, só está enferrujado e neste caso algumas dicas de Jeff Galloway que conheço ajudaram muito.  
Outras dicas:
Ciclismo é a arte de preservar energia. Pedalando em qualquer situação a técnica mais preciosa é preservar energia. Quanto menos energia você gasta mais longe você vai. E dependendo de sua técnica, mais rápido também. Use e abuse do câmbio. Marcha, marcha, marcha, marcha... Marcha! A cada variação de cadência troque de marcha para manter o giro correto, entre 60 (mínimo) e 90 giros por minutos para amadores.  Use as marchas para manter sua musculatura trabalhando o mais suave possível. Na subida faça a troca de marchas de forma que sua musculatura vá aumentando aos poucos o esforço. Isto faz com que coração e pulmões também aumentem seus trabalhos suavemente. Use o peso da perna para girar os pedais, nas subidas isto significa girar um pouco mais rápido os pedais, nas descidas um pouco mais lento. 
Importante: mesmo que esteja muito cansado e sentindo a musculatura continue a pedalar depois da subida, mesmo que girando em falso, o que faz respirar a musculatura e limpar as toxinas. 
Controle sua ansiedade. Ansiedade cansa mais do que se possa imaginar. Limpe os pensamentos negativos da cabeça, tipo "onde esta subida termina, quanto falta ainda..." Olhe a natureza, converse, cante...
Quanto mais liso e menos inclinado for o trajeto menos esforço. Poucos se preocupam com os detalhes da chão por onde estão passando, seja terra ou mesmo asfalto. A maioria faz uma linha reta, não importando se está passando por pequenas imperfeições, buraquinhos, pedrinhas, areia... O melhor é ficar atento ao trajeto e sempre buscar o piso que faça o rodar mais fácil. Não precisa exagerar e ficar fazendo zig-zag, basta prestar atenção no que está na frente da bicicleta. Procure a melhor linha reta. Na terra pedalar por fora de uma curva costuma ser mais liso, um pouco mais longo, mas menos inclinado. Quando tem costela de vaca um dos bordes pode ser o melhor caminho.
Ciclistas inexperientes na estrada:
Indo de São José dos Campos para Aparecida do Norte peguei dois ciclistas sofrendo muito. O primeiro com uma bicicleta de supermercado barata, pesada, pneus de baixa pressão, e, pior, com suspensão traseira, completamente errada. Prefiro não falar do selim duro e com ponta para cima (ai meu saco!) porque vai que o sujeito estava pagando penitência. Ah!, sim!, a bicicleta era muito pequena para o ciclista. Enfim, uma cascata de erros, um pior que o outro. Que dica eu dou para este caso? Abandona a bicicleta no acostamento, pede carona, volta para casa e vai dormir. Ou carrega uma cruz de penitência até Aparecida que é mais fácil. 
O segundo ciclista estava com uma 29 correta para o tamanho dele, mas ele só tinha 3 meses de pedal, ou seja, não sabia pedalar. Cheguei muito rápido nele, recomendei que usasse mais as marchas, ele resmungou algo como "mas estou usando as marchas". E respondi "Não, não está. Tenho uns 30 anos a mais e estou com pelo menos uns 15 quilos mais pesado (alforges), e mesmo assim estou indo mais rápido. Usa as marchas que vai ser mais fácil". Ele me acompanhou por uns 20 km, emparelhou e confessou que iria parar porque estava morto. Qual a dica aqui: vai no teu ritmo, não se importe com os outros. 
Pedalar não é pagar penitência. Pedalar é arte de preservar energia. Preserva-se energia quando se sabe usa-la bem. Dai o respeito que se deve ter às técnicas, a ciência.

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