terça-feira, 31 de outubro de 2017

educação, formalidade, e o convívio social

Em 1975 me foi dada oportunidade de ir para os Estados Unidos em navio cargueiro, três meses de viagem, ida e volta, uma experiência única que mudou minha forma de ver a vida. No meio do oceano, a perder de vista da terra, sem absolutamente nada em volta e sem interferência da iluminação das cidades o céu de estrelas é pleno, infinito, e podemos ter um pouco de noção de nossa pequenez, insignificância. Tivesse eu tido filhos teria feito o possível e impossível para que tivessem a mesma experiência.
Minha falta de educação e ou timidez fizeram que eu não agradecesse a tio Francisco, quem me havia dado a viagem. Pior, anos depois descobri que uma atitude infantil minha no porto de Baton Rouge fechara as portas para todos que vieram depois querendo fazer a mesma viagem. Nada justifica que não tenha tido o mínimo de educação e formalidade para ir agradecer imediatamente tio Francisco. Por mais que naquele momento no íntimo o tenha agradecido muito, e sei quanto o fiz internamente, não o fiz pessoalmente; uma falta sem tamanho. Burrice!
Esta história me voltou a tona quando um jovem adulto muito bem educado teve uma atitude parecida com a que tive com Tio Francisco. Por pura falta de experiência na vida não devolveu uma chave da forma como havia sido combinado. Coisa boba, coisa de uma geração que acha que rede social resolve tudo. Ele agiu dentro dos parâmetros bit/digitais, normal para sua geração, mas a chave não chegou nas mãos devidas e fechou portas.

Bom dia; boa tarde; boa noite; por favor; com sua licença; como vai?; posso ajudar?; e outras pequenas ações que valem ouro. Tão simples. Formalidades ou pequenas gentilezas que aplicadas ao dia a dia transformam para melhor tudo. 
Atualmente tenho que controlar meu vulcão, felizmente quase extinto (uma das poucas vantagens da velhice), para não lançar larvas ferventes sobre esta geração rede social que não tira a cara do celular. Me sinto como na viagem de navio para os Estados Unidos só que ao contrário, completamente certado de vidas iguais a mim em volta, mas completamente solitário. Quando a civilização vai aportar novamente no porto da vida? Pelo quanto estão no mar digital buscando direção num GPS aparentemente funcionando bem. Será? Eu prefiro ficar olhando as estrelas. 
Bom dia; boa tarde; boa noite; por favor... olhos nos olhos. Funcionou, funciona e continuará funcionando. Somos humanos, temos história, construímos uma civilização olhos nos olhos, conversa franca, longa e ao vivo. Tem seus erros, mas está ai cheia de boas coisas. Educação, formalidade, convívio sempre foi o caminho.
Andy Warhol não sabia, mas os minutos de fama para todo mundo se transformaram em bits cada vez mais rápidos e insignificantes. Agora fama e superpoderes está a disposição de qualquer um, basta estar na rede. Mas..., adianta dizer bom dia para um fone de ouvido?
Ande, pedale, viva olhando a vida. A vida é um mar de estrelas infinitas, linda, riquíssima. Viva!

2 comentários:

  1. O que aconteceu no porto de Baton Rouge ?

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  2. Éramos três os agraciados com a viagem, eu, o ex namorado de minha prima Luiza, e Argos. O ex deveria embarcar num avião para NY e levar documentos de meu tio. Houve uma demora em atracar o navio e ele perderia o voo. Tentei conseguir com o comandante uma lancha para que eles desembarcassem imediatamente e ele não autorizou. Conversei com o ex Argos e decidimos pedir a lancha sem autorização do comandante, e eu, o bobo da corte, subi na ponte e fiz a besteira de passar por cima da autoridade do comandante. Os outros ficaram quietos. A questão é que havia algum problema sério dentro da tripulação e para não configurar motim acharam um bode expiatório, o bobo da corte. Como não fui agradecer imediatamente a viagem a meu tio Francisco não soube da história com a situação ainda quente e quando soube já tinha sido estabelecido que eu era o único culpado por todos males da viagem. Triste.

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