O filho tira notas baixas no colégio. Em reação a mãe entra furiosa na diretoria e grita "Eu pago esta merda então vocês não podem fazer isto com meu filho".
Não vou dar tratos a estas linhas, alongar a história, florear, porque é absolutamente corriqueira, a maioria já soube de situações como esta. Mais, é uma das mais precisas definições deste Brasil que vivemos hoje.
Não vivemos no meio da violência. Permitimos a violência. Somos a violência.
Quem é o culpado? Definir a culpa, ou a responsabilidade, na maioria dos casos é fácil, principalmente quando o erro cometido foi incontestável. Mesmo assim aqui no Brasil não raro a coisa não funciona desta forma. Até em boa parte dos casos que a história acaba na justiça o culpado sai leve, livre, solto e fagueiro.
Os casos de impunidade são inúmeros. Gente pega por câmera de segurança, que teve sua agressão gravada, rosto marcado como foto 3 por 4, e os meandros de nossas leis permitem que advogados façam uma confusão danada.
Outro ponto que luta contra a punição é o corporativismo de todas as formas e razões. A história da humanidade está repleta destes casos, mas por aqui conseguimos ir um pouco mais além. O nosso jeitinho brasileiro faz milagres, todos sabemos.
Escrevo estas linhas depois que recebi um artigo em inglês, que publico abaixo, que fala sobre a decisão das autoridades inglesas de punir forte os ciclistas que cometerem infrações graves ou causarem lesões ou mesmo morte por imprudência.
Logo que recebi o artigo enviei para um amigo que é ligado ao movimento do cicloatismo. A reação dele foi de um susto discordante, o que tenho certeza que seria o mesmo por parte de muitos outros. "Como, punir ciclistas? Eles sempre são as vítimas". Não, não, este meu amigo não falou isto, mas talvez tenha pensado. Já ouvi este tipo de besteira, não só de ciclista, mas de tudo é tipo de gente, e conheço um monte que acha que tem quem não deva ser punido.
Pensar que a mudança desejada se fará fazendo vista grossa nos delitos dos mais fracos só leva a continuação do absurdo que vivemos. Se ainda não percebeu, aviso: o que está aí, incluindo a forma de pensar, só aumenta o abismo social. Pergunte a quem está por baixo se ele gosta do não punir, do deixar barato para os iguais que os roubam, assaltam, ameaçam, expulssam...
Vivemos no meio da violência. Permitimos a violência. Portanto resta a pergunta: de quem é a culpa?
Melhor: que tal começar a discutir o que é culpa?
Sobre o artigo abaixo;
Na noite de quarta-feira, os deputados votaram a favor de uma alteração ao Projeto de Lei de Justiça Criminal que criaria três novos crimes: causar a morte por andar de bicicleta perigoso; causando ferimentos graves ao andar de bicicleta perigoso e causando a morte ao andar de bicicleta descuidado ou imprudente.
Concordo em grau, gênero e número. Aliás, quando enviei propostas de leis para o novo CTB, este que está aí, pedia punição pesada para infratores que causassem acidentes, inclusive nos acidentes em que eles fossem a própria e única vítima.
Se a bicicleta é, pelo CTB, um veículo como qualquer outro, por que o ciclista não tem que ser punido como qualquer outro? Por que a condução do veículo bicicleta não requer Carta de Habilitação? A educação de ciclistas não é responsabilidade do poder público? Então que se puna alguém, mas que não se deixe elas por elas.
Mas vai punir o pobre entregador também? Vai. E digo isto para aqueles que defendem a não punição dos entregadores em nome da responsabilidade social, mas fazem questão de ter a pizza em casa o mais rápido possível.
Interessante, tem gente que bate o martelo em certas posições até a coisa virar contra ele, daí a mudança de entendimento é imediata.
A única forma de termos justiça social neste país é termos justiça. "Mas a justiça só funciona para os mais pobres". É uma triste realidade, triste não, deprimente. Muito da responsabilidade deste estado de coisa é de todos nós que temos medo que com a justiça rápida e justa sejamos pegos e tenhamos que pagar quando jogarmos lixo na rua, por exemplo. Ou quando nosso filhote for pego pixando o muro do vizinho. E daí para fora.
Hoje pela manhã teve uma reunião de representantes de Paraisópolis com a Secretaria de Segurança Pública para pedir ações que parem a violência policial e a violência das gangs e traficantes do bairro.
É deprimente que muitos ainda confundam justiça com ditadura ou Santa Inquizição. Santa Inquizição e ditaduras só perduraram porque o povo permitiu. Silêncio mata!
Violência só está no meio de nós porque aceitamos.
Novamente, de quem é a culpa?
Melhor, o que é culpa?
Sky News
New 'death by dangerous cycling' offence after MPs back law change
Updated Wed, 15 May 2024 at 7:40 pm GMT-4
3-min read
Dangerous cycling that causes death could land people up to 14 years in prison after the House of Commons backed a proposed change to the law.
On Wednesday night, MPs voted in favour of an amendment to the Criminal Justice Bill that would create three new offences: causing death by dangerous cycling; causing serious injury by dangerous cycling and causing death by careless or inconsiderate cycling.
The amendment, put forward by former minister and Tory party leader Sir Iain Duncan Smith, was supported by the government and will now form part of the bill.
Speaking in the Commons, Sir Ian described the new law as "urgent" and added: "This is not, as is often accused by people who say anything about it, anti-cycling.
"Quite the opposite, it's about making sure this takes place in a safe and reasonable manner."
Politics latest: Gordon Brown says UK seeing 'destitution we haven't seen for years'
During his speech, Sir Ian made reference to Matthew Briggs, whose wife Kim died aged 44 after a cyclist collided with her in Old Street, east London.
The bicycle did not have a front brake and the 44-year-old suffered "catastrophic" head injuries - dying in hospital a week after the crash in February 2016.
The cyclist, Charlie Alliston, was jailed for 18 months after he was found guilty at the Old Bailey of "wanton or furious driving", but was cleared of manslaughter.
Sir Iain said: "(Mr Briggs') attempt to get a cyclist prosecuted after his wife was killed in central London in 2016 involved a legal process that was so convoluted and difficult even the presiding judge has said afterwards, since she's retired, that this made a mockery and therefore it needed to be addressed - that the laws do not cover what happened to his wife and is happening to lots of other people."
He added: "The amendment, I believe, will achieve equal accountability, just as drivers are held accountable for dangerous driving that results in death, cyclists I think should face similar consequences for reckless behaviour that leads to fatalities."
Transport Secretary Mark Harper, responding to the approval of the amendment, said in a statement: "Most cyclists, like most drivers, are responsible and considerate. But it's only right that the tiny minority who recklessly disregard others face the full weight of the law for doing so."
Dangerous cycling is already laid out in the Road Traffic Act, which includes riding in a way which "falls far below what would be expected of a competent and careful cyclist" and which "would be obvious to a competent and careful cyclist that riding in that way would be dangerous".
The proposed law would require cyclists to make sure their vehicle "is equipped and maintained" in a legal way, including by keeping brakes in working order.
It would apply to incidents involving pedal cycles, e-bikes, e-scooters and e-unicycles.
Current laws state that causing death or serious injury by dangerous, careless or inconsiderate driving are already offences, but the vehicle involved must be "mechanically propelled
Nenhum comentário:
Postar um comentário