segunda-feira, 15 de julho de 2024

Cidades caipiras do interior leste americano

Longe de NYC. Primeira parada para dormir em Hamburg, Pensilvânia, 120 milhas distante de NYC, cidadezinha que dizem ter uns 4.500 habitantes, oficialmente 4.197 habitantes.

Primeira impressão foi o almoço num restaurante italiano (?) onde todos eram de todos lugares menos Itália. Fomos para o hotel, dormimos, acordamos bem cedo para lavar as roupas. Lavanderia aberta de 6:00 às 24:00. Cidade ainda vazia; ao lado da lavanderia vi um supermercado, Weis, que de fora é discreto. Lá dentro é uma loucura, umas duas ou três vezes o tamanho e a quantidade de produtos se comparado com o Pão de Açúcar da Oscar Freire com Ministro, ponto chique de São Paulo. Quase caí de costas com tudo aquilo. O gerente passou por mim e perguntei se não era grande para o tamanho da cidade. "Não é. Tem gente que reclama que é pequeno e faltam produtos". Como? Este foi o meu "bem vindo ao interior dos Estados Unidos".

Hamburg é rica? Não. É uma cidadezinha americana como tantas que encontramos pelo caminho. Já longe de Hamburg descobri que o Weis não é o único supermercado e nem o maior. Na outra ponta da pequena cidade tem o Redner's, muito maior, com setores de brinquedos, eletrodomésticos, roupas, etc... Espalhados pela cidade ainda tem pequenos mercadinhos que não cheguei a ver abertos. Hamburg pode não ser rica, mas o volume de dinheiro circula por lá tem que ser grande, pelo menos se comparado com o que vivemos por aqui.

Enquanto as roupas estavam na máquina saímos para caminhar para achar um lugar para tomar café da manhã. Toda cidade fechada, inclusive o "melhor" café da manhã local, segundo uma simpática moradora. As quartas-feiras fecha. Voltamos e aí entramos no "pequeno" Weis para pegar alguma coisa. Escolher no meio de tudo aquilo é difícil.

Como esperado, zero lixo nas ruas, zero pixação, zero coisas quebradas ou depredadas, ônibus escolares impecáveis circulando, a maioria dos sobradinhos bem cuidados, um córrego de águas límpidas com muitos peixinhos, uns poucos carros nas ruas, um movimento que até o fim da lavagem das roupas aumentou um pouco, mas nada demais. E todos poucos cidadãos que encontramos pelas ruas imediatamente davam um sorridente bom dia.

Em Hamburg recebi as boas vindas do interior leste dos Estados Unidos.

O que veio pela frente? As cidadezinhas são muito organizadas, limpas, as casinhas são uma graça, meio padrão, um pouco maior ou menor, mas todas parecidas, sem muros, grades, com gramados bem cuidados em volta, com um centrinho comercial pequeno em uma única rua, algumas vezes em um ou dois quarteirões, com pequenos negócios. Via de regra, fora do centrinho, um pouco distante da cidade, um supermercado grande e muito variado. Próximo da estrada principal sempre se encontra alguns fast foods, McDonalds quase em todos lugares. Fast food ou restaurante mexicano aos montes e em tudo quanto é lugar, isto me assustou.

Uma das razões para viajar pelo interior seria comer a comida local ou típica, que não é fácil de encontrar. Mas tive mágicas experiências, uma em Owingsville e outra no meio do caminho para Atlanta, no pequeno e delicioso Dizzy Lee Dinner. Entrei em Owingsville porque precisava almoçar. A cidade é mínima, a menor pela qual passei nesta viagem. O único restaurante que encontrei foi um barracão pintado de vermelho com uma grande e fumegante churrasqueira metálica sobre rodas. Parei, fomos servidos por uma senhora curva, de óculos, com cabelos brancos perfeitamente arrumados, que seguramente estava na casa dos 90, típica personagem de filme. Lá de fora, vindos da churrasqueira, entraram dois carregando duas enormes bandejas com umas costelas maravilhosas. Pedi costelas, é claro, mas a senhora disse que ainda precisavam de mais umas duas horas para ficarem prontas. Hambúrguer, que seja. Foi, e maravilhoso.

O Dizzy Lee Dinner encontrei por pura sorte. Parei um pouco antes para por gasolina, abri o maps, "restaurante", e veio o Dizzy Lee como o melhor da região. Toca para lá. Coisa de filme, construído lá pelos anos 70, talvez 60, a foto diz tudo. Hambúrguer com fritas e Coca Cola. Me convida que volto já. Genial! Entramos quando o povo das redondezas estava terminando, pagando a conta e saindo. A rednec que nos serviu disparou a falar seu caipira, não entendemos nada, pedimos para desacelerar, ela deu risada, pediu desculpas e o resto da conversa foi uma delícia.

fish and ships, divino
Não me lembro onde, tenho que procurar nas fotos, num terceiro restaurante típico local comi fish and ships muito, mas muito bem feito. O ambiente também era meio de filme.
E na despedida , em Newnan, mais hambúrguer delicioso, típico da região. No dia seguinte eu deveria ter ido no "Rednec Gourmet", bem típico da região, mas não deu tempo.

De típico só tem hambúrguer? Não, mas é o mais fácil de encontrar, não de rede de fast food, é lógico. Os hambúrgueres que comi eram feitos a mão, meio disformes, batatas fritas caseiras, e o mais importante: não me causaram azia, caíram bem.

Eu queria ter comido um milho como o que tenho na memória, macio e muito doce, mas não consegui. O único que comi lambuzou as mãos, mas não o coração.

A boa surpresa foram as comidas asiáticas. O restaurante chinês foi puro acidente, e dos deuses. Eu procurava um restaurante em Nashville típico do Kentucky com ótimas referências. Quando cheguei estava fechado por conta de uma grande obra na rua. O chinês era ao lado, não era bem o que eu queria e gostaria de comer aquela hora, mas era o que tinha e foi uma delícia, tanto o noodle, de longe o melhor que comi na vida, quanto o arroz. Outra surpresa foi o tailandês de Newnan, o melhor curry que já experimentei, apimentado no ponto certo, muito saboroso, e sem qualquer efeito retardado, principalmente aziaque 

As cidades médias tem mais variedade, com uma ou outra coisa interessante, mas tenha certeza que se você não
dirigindo um carro você não é gente. Em Harrisonville ficamos na esquina oposta dos restaurantes,  todos fast-food, e algumas lojas de departamento. A primeira vez, com receio de atravessar as avenidas largas, fomos de carro, depois criamos coragem e fomos a pé, o que é uma experiência muito estranha. A sensação é que você é um alienígena, aliás,  para dizer a verdade, um bosta. Pelo menos tinha calçada e semáforo para pedestre que fica avisando algo como "vai logo, cruza logo" (Urgent! Walk! Urgent!). Em Newnan fiquei num motel, que lá é um hotel de estrada e não motel tipo brasileiro. Tive que ir até a farmácia que ficava a 500 metros na mesma calçada. O detalhe é que não tem calçada. Você que ande pela grama ou no acostamento. Vida de turista cucaracha só funciona num carro. That's the american way of life.

Espero que não, mas é possível que tenha sido minha última viagem para lá. Espero que não. O interior americano é muito legal, e espero um dia voltar e ir mais para dentro, a procura de comidas locais e algo mais.

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