SP Reclama
O Estado de São Paulo
Qual é a imagem que temos do transporte coletivo de São Paulo? Mesmo com o trânsito completamente caótico da cidade, você deixaria seu carro pelo transporte coletivo? Nosso transporte coletivo oferece conforto, respeita horários, é rápido e eficiente, não cria problemas ambientais? Você moraria onde o barulho e pó negro vindos da rua fosse uma constante? Eu sei bem o que é isto. E os constantes assaltos em pontos de ônibus? Metrô? Dá para ir para onde quiser? Quais são os horários que se consegue embarcar e viajar com qualidade nas poucas linhas de metrô que temos?
O plano diretor de São Paulo foi estabelecido para estimular que mais pessoas adotem o transporte coletivo e abandonem seus veículos particulares. Todos os problemas da cidade vão melhorar se mais gente usar o sistema de transporte coletivo? Permitir a explosão e edifícios nas proximidades do transporte coletivo é uma ideia simplória sem tamanho. Aceitar passivamente esta estratégia demonstra uma falta de noção dos paulistanos do que pode e deve ser viver com qualidade numa cidade. A cidade que se está construindo com este Plano Diretor tem tudo para aprofundar os problemas e o abismo social que temos hoje. O disparate é tamanho que sequer sabem o que fazer com o transporte coletivo: gratuito ou não.
Os edifícios estão sendo erguidos próximos aos corredores de ônibus, mas...
Fui entregar uma bicicleta no Tremembé, a exatos 20 km de minha casa, 1:20 h pedalando com calma, média de velocidade 15 km/h. A volta em transporte coletivo estava prevista no aplicativo para as mesmas 1:20 h de tempo de viagem, sem contar o tempo de sair de onde estava, caminhar até o ponto de ônibus, mais tempo de espera e o tempo de viagem até a integração com o metrô, sair da estação e caminhar até minha casa. De bicicleta o tempo é porta a porta, ou seja, exatas 1:20 h de viagem. Às 11:10 h o aplicativo do transporte coletivo apontava que, no ponto de ônibus, a demora para embarque seria de 8 minutos, mas passados 15 minutos nada. O primeiro ônibus, metrô Santana, chegou lotado e optei por não embarcar. O próximo para Santana demorou, optei por pegar um para o metrô Tucuruvi, mais mais longe, mas que acabou sendo melhor. A estação / Shopping Tucuruvi estava movimentada, mas não lotada, o vagão estava vazio, viajei sentado. Em Santana uma multidão esperava para entrar e nem todos conseguiram. Fiz conexão na estação Paraíso e saí do metrô depois de 1:40 h de viagem. Uma caminhada de 10 minutos e cheguei na casa de uma amiga. Mais 4.5 km chegaria em minha casa, de onde pela manhã tinha saído pedalando.
Terminado almoço, experimento de novo o transporte coletivo para minha casa, ou mais 4.5 km, com opção ônibus ou metrô. Optei pelo ônibus, que me deixa mais a mão. Demorou exatos 35 minutos para aparecer, e só esperei por que queria ver no que dava, quanto demoraria. Fiz parte do trajeto, uns 1.5 km ou mais, a pé seguindo a linha do ônibus. Se não estivesse garoando forte seguiria em frente e chegaria a pé em casa antes do ônibus. Fiz várias vezes o mesmo trecho a pé e meu tempo normalmente é mais rápido que no ônibus, sei porque li várias vezes o número do ônibus na Augusta e depois fiquei esperando o mesmo no terminal Pinheiros.
É só a questão do tempo de viagem para derrubar o desejo, ou o prazer, de se transportar por ônibus? Não só. O ônibus Tremembé - Tucuruvi era dos de carroceria montada em chassis de caminhão, que não deveriam mais circular. Alto para os passageiros, principalmente idosos, crianças, obesos e pessoas com problemas de mobilidade. Transmissão manual, mas bem conservado e muito bem dirigido, motorista muito cuidadoso com os passageiros e com o trânsito, o que fez a viagem bem agradável. O da área nobre, que peguei nos Jardins e fui até o Terminal Pinheiros, era dos ditos novos, carroceira moderna, baixo, de fácil acesso, câmbio automático, aceleração mais suave, mas barulhento, batendo lata ao passar pelas menores irregularidades que são uma constante do nosso pavimento, e dirigido por um motorista com baixo treinamento que freava brusco e fazia curvas rápido, um balancê completo, viagem desagradável.
Nos dois trajetos, o da Zona Norte e dos Jardins, os motoristas tiveram que praticamente parar os ônibus para passar por crateras do asfalto. Aliás, incomoda muito a baixa qualidade do pavimento por onde passam os ônibus. É comum ver asfalto bom para os carros e em péssimo estado para os ônibus. Os passageiros que chacoalhem infelizes.
Sempre gostei de viajar em ônibus e por isto tenho que reconhecer que fora dos horários de pico, quando os ônibus estão vazios, melhorou, a não ser pela completa falta de previsão de quando vai aparecer um e pela falta de treinamento adequado de alguns motoristas É muito comum que depois de um tempão venham dois ou três juntos, o que é profundamente irritante. Nos dias de trabalho e horário de pico usar o transporte coletivo só por obrigação.
Um político disse que vão transformar São Paulo numa Manhattan. Que bobagem! São Paulo é São Paulo, ter edifícios altos não significa nada, a não ser que teremos privilegiados com uma bela vista de seus apartamentos, e nada mais. Fora isto, o delírio só vai melhorar o bolso de alguns. Manhattan, a dita referência, vem melhorando porque é respeitado um plano de recuperação da qualidade de vida que foi estabelecido há décadas e que não trata só de concentrar a população em volta do transporte de massa. Todas as cidades do mundo que melhoraram sua qualidade de vida pensam, criam e respeitam um planejamento o mais abrangente possível, e não ideias geniais oportunistas. Lembro que estas cidades tem uma vasta transporte coletivo e ou rede de metrô que são funcionais, o que aqui, pelo andar da carruagem e dos burros que constroem, demoraremos anos luz para chegar perto.
Plano Diretor da Cidade de São Paulo: Me engana que eu gosto. Estamos muito mal.
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