quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Capitalismo selvagem comercial urbano não interessa nem ao próprio capitalismo

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Foram incontáveis as construções de valor histórico demolidas pelo Brasil afora para a construção de agências de bancos, farmácias, magazines, lanchonetes, e outras cadeias, cada uma delas atendendo o padrão arquitetônico de sua marca. Não é uma exclusividade deles, mas um grosseiro vício de linguagem comercial que já vem de longe. Em várias partes da Europa estas deformações urbanas são proibidas tendo como base argumentos sólidos, o primeiro deles 'respeito'. Ainda conheci a Joinville típica, respeitosa a sua história, com uma personalidade delicada cativante e deliciosamente particular. Em pouquíssimo tempo Joinville sofreu uma brutal transformação e, para eles, modernizou se (?) com a demolição (prefiro 'devastação') de sua respeitável história. Pipocaram construções padrão, caixotes comerciais de ampla testada e vidraçaria, e escandalosa comunicação visual, transformando-se numa cidade qualquer, igualzinha a qualquer outra cidade. Joinville e outras cidades catarinenses foram completamente descaracterizadas. Valerá a pena crescer a qualquer custo? Quem conheceu e quem conhece a Joinville de hoje pode responder. Estive em Holambra, outra cidade de origem europeia, que até aqui continua meio que preserva, infelizmente com algumas belíssimas casas originais sendo descaracterizadas ou sendo colocadas abaixo para servir de estacionamento. O que assustou e muito foi terem permitido a construção de uma loja CEM imensa, gritante, destoante, quadrada, toda em ladrilhos laranjas, em completo desacordo com o entorno. Nada contra as Lojas CEM em particular ou qualquer outra instituição comercial, mas tudo contra a pobreza estética, aliás, tudo contra esta forma de agressividade urbana. São Paulo deu um imenso passo civilizatório quando aprovou e impôs o "Cidade Limpa", cortando pela raiz a poluição visual e, porque não, reorganizando a vida da população com a volta de sua imponente história. Infelizmente não se estabeleceu nesta São Paulo exemplo regras para as construções, que passaram a funcionar como outdoors em si. 
A falta de limites, o capitalismo selvagem, não interessa sequer á saúde do próprio capitalismo. Um negócio que olha seus caminhos na truculência para alcançar lucro e vantagens unilaterais gera resultados diretos ou indiretos duvidosos ou negativos, a médio ou longo prazo, como está cada dia mais claro. Economias estáveis já descobriram que quando todos crescem as vantagens são enormes, principalmente no que diz respeito a estabilidade social. 

Tentar alertar sobre os perigos de uma modernização desenfreada pode ser perigoso. Falo por experiência própria. Infelizmente a cidade virou instrumento para o "meu negócio, os meus lucros", não para uma vida sadia coletiva.
Holambra: casas originais








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