sexta-feira, 7 de abril de 2023

Planejamento, as cidades e o tempo perdido

Este bairro era até pouco industrial e de pequenas residências. Crescimento ordenado?

Ninguém neste Brasil tem a mais remota dúvida que o que nos falta é planejamento, como ninguém tem dúvida que temos um país largado, obras paradas, coisas mal feitas, precárias, que não atendem ao interesse real da população. Como é um escândalo a distorção social que temos, em todos sentidos.
Não é desenvolvimento a qualquer custo, definitivamente não é. Muito pelo contrário, no meio de um caos, de uma situação muito complexa como a que vivemos, é necessário um planejamento detalhado ou se cai nos planos milagrosos, a solução de todos os problemas, tão comuns em nossas pastagens.

Comecei a escrever este texto ainda em 2022. Publico agora porque o choque de realidade é muito grande quando se volta de uma organizada Europa, no caso Itália e França. A baderna urbana que estamos vivendo é literalmente impensável lá ou em qualquer país minimamente civilizado.
Já pensei e repensei o que escrever, meus pontos de vista, o que vi e aprendi nas viagens. Não consigo terminar o texto, e assim vai subir.

Texto de origem:

Brasil é cíclico em repetir suas tragédias - Felipe Moura Brasil.

O texto de João Lara Mesquita fala sobre a barbárie que vem a muito acontecendo nas cidades do litoral norte paulista onde a especulação imobiliária corre solta. O contundente artigo de João a meu ver é aplicável num contexto muito mais amplo deste Brasil desenfreado. O que vem acontecendo na cidade de São Paulo é de uma selvageria indescritível e não é de hoje, mas nunca foi tão agressiva como é agora.

.... Upa!!!, não, você jura? Só agora, em 2023? Parabéns ao Governo pela ação, mas espero que não seja mais uma populista, eleitoreira, para os mané vê

Primeira pergunta: Quem sabe o que é o Plano Diretor do Município?
Segunda pergunta: Para que serve? ou melhor, Para quem serve?
Terceira: No que os planos diretores passados mudaram sua vida e no que mudará este que aí vem?
A resposta para todas estas perguntas pode ser resumida em que a maioria dos cidadãos não faz ideia do que é o Plano Diretor e o que vai acontecer em consequência. Provavelmente também não sabe o que foram os Planos Diretores passados e no que nossas vidas mudaram para melhor ou pior por causa deles. Confesso que estou no meio desta maioria, mesmo me preocupando. Trato, ou tratava de saber por alto o que se pretendia.
Fato é que cansei de reagir, como está cansada a maioria. Minha pergunta hoje é como combater a barbárie.
Ontem numa conversa com amigos do mercado de capitais eu disse que o que está acontecendo aqui em São Paulo com esta explosão de novo imóveis não interessa sequer ao capital, ao dinheiro. Concordaram.

Já faz tempo que muitos estão assustados com o número de prédios que vem subindo às alturas na cidade. Vi um Youtube com críticas sobre novas construções na av. Rebouças, coisas que não tinha pensado. Para mim o primeiro problema é a brutal deformação da paisagem urbana, a perda de identidade. Não resta dúvida que é resultado do "a classe média vai ao paraíso".

Estenderam a data final para a entrega do novo Plano Diretor do Município de São Paulo. Soube que o Plano Diretor seria revisto, mas só agora, através de uma notícia acabei sabendo que está quase pronto e que foi dado mais tempo para palpites e acertos finais. Não entendi.
O futuro Plano Diretor, qualquer um que tenha sido aprovado, não pode reverter o que já foi feito e a barbárie que vem sendo feita sob a assinatura do direito adquirido.

No meio do bairro Cidade Jardim, do lado direito de quem sobe a avenida Oscar Americano, está um conjunto de edifícios de altíssimo padrão. Estão atrás do hospital. Pelo que me lembro o então Prefeito Jânio Quadros mudou o zoneamento da área, deu ok legal para a construção de todos edifícios, e meses depois voltou atrás na decisão, mas as construtoras já tinham direito adquirido e os prédios foram erguidos mesmo contra tudo e contra todos. É assim que funciona.
(Direito adquirido é o termo utilizado pela Constituição Federal para evidenciar a incorporação de uma expectativa de direito (a existência do potencial de conquista de uma vantagem legal) como direito efetivo em favor do titular, pelo preenchimento de determinadas circunstâncias exigidos na lei.)

Não está aqui uma lamentação de um paulistano velho e saudosista, mas de um cidadão com experiência de vida e leitura suficiente para saber que há limites para a velocidade que se imprime em qualquer mudança de vida ou social, na urbana nem dizer. Mudanças radicais só tem bons resultados quando devidamente preparadas, o que não é o caso.

Até onde sei a justificativa para a barbárie é concentrar pessoas próximo do sistema de transporte de massa, como foi feito em Curitiba a partir da década de 70 com Jaime Lerner. A princípio parece sensato, mas tem um pequeno detalhe: Lerner redefiniu Curitiba na década de 70, dando um crescimento ordenado para seu futuro. Tentar fazer o mesmo aqui em São Paulo num momento da história no qual ninguém sabe ao certo onde vamos parar, como vai ficar a questão das mobilidades, apostando só na derrocada do uso irracional do automóvel, pode fazer sentido, mas tem muito para dar errado, e está. O mínimo que já está acontecendo é a deformação da paisagem urbana e de sua personalidade. O que não vai acontecer, disto tenho certeza, é um dia irem atrás de quem ganhou rios de dinheiro com esta brincadeira.

Brasil é cíclico em repetir suas tragédias - Felipe Moura Brasil.

Paris tem 25% de suas propriedades desocupadas. As causas são várias, mas muita especulação imobiliária e muito RB&B, aluguel para turistas. 
Não faço ideia de qual é o índice de propriedades desocupadas em São Paulo, mas já foram divulgados os números de inadimplência e definitivamente são preocupantes.

Milão na pandemia parou e pensou o que será o futuro. 

Principalmente com a pandemia as cidades entraram num processo pós crise econômica e social que não deve terminar tão cedo. Mesmo em cidades que vinham caminhando para uma melhora de qualidade de vida já ocorriam uma série de problemas não tão aparentes, principalmente com as populações de baixa renda. A fórmula de progresso baseada em recuperação de áreas degradadas acabou valorizando estas mesmas áreas e excluindo ou empurrando para fora as famílias e comunidades de menor renda. Parece um contrassenso, mas infelizmente não é, acaba preponderando a lei do mais forte, da economia de mercado, e não se vê no horizonte outra perspectiva.

The environmental outcomes offer a sliver of “good news from this terrible situation” and may guide thinking “about what could be the future of the globe and our cities,” Pelizzaro said.

“We need to rethink our way of moving; we need to rethink the economy,” he commented. “And there is a huge opportunity to create a huge programme of investment in renewable energy and energy efficiency,” which could help with recovery and meeting environmental goals.

“We don’t have to look only at technology or health. We [must look at] emotional and psychological action at the same level of importance,” he commented.

Ruas sustentáveis de NY - Sérgio Abranches - vídeo de 2007


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