"É uma questão de educação..." é a fórmula mágica para todos os males da humanidade e do planeta. Não resta dúvida que resolve muito, mas nem tudo. A maioria dos educados trazem consigo os vícios do grupo social e ambiente no qual vivem. Se a regra geral for "faz e está feito", sem menção aos cuidados no fazer e sem preocupação com a qualidade do produto final, como faz muito tem sido regra no Brasil, a educação não chegará a seu fim.
Educação, formação ou treinamento?
Não, educação não é a solução de todos males. Porquê o resultado final vem de um conjunto de situações ambientais, sociais e individuais. Quando um destes fatores não funciona bem os outros estão fadados a não desenvolver seu pleno potencial.
Educação ou tradição ambiental?
Educação ou tradição social?
Educação ou caráter pessoal?
Educação e tradição juntos, creio exceto quando entra o caráter, que no caso individual é genético, portanto imutável.
É possível disciplinar e limitar os problemas de mal caráter, mas o caráter individual é imutável. Os aditos às ideologias dizem o contrário, mas o resultado que imaginam conseguir vem pela força bruta, não pelas qualidades da educação.
Para complicar, a tradição é formada pelo conjunto de caráter e a forma como estes interagem. E a formação do caráter por sua vez tem relação direta com o meio ambiente onde vivem.
"Tem que fazer o ciclo completo (de educação), incluindo faculdade". Desculpem, mas que puta asneira. Tem que oferecer educação da melhor qualidade possível, principalmente a básica, o b a ba. Não é o topo da pirâmide, mas a base.
Tenho alguns amigos que são professores universitários. Todos, sem exceção, continuam dando aulas porque precisam ganhar o pão nosso de cada dia. Todos, sem exceção, não aguentam mais o despreparo, o desinteresse, a falta de noção da imensa maioria de seus alunos. A primeira reclamação neste sentido que ouvi foi de meu irmão, morto faz mais de uma década, professor de uma das mais concorridas faculdades de arquitetura do país. Murillo contou um dia ter perdido a paciência em classe com a completa apatia dos alunos. Ele parou a aula e passou a gritar "Sonhem! Sonhem! Sonhem!...". Não serviu para nada, não entenderam nada, não faziam ideia o porque da reação de seu professor, continuaram os mesmos.
Nestes últimos anos é trivial ouvir depoimentos de professores universitários sobre o baixíssimo nível de preparo dos alunos que entram na faculdade. Já ouvi sobre faculdades que optaram por dar reforço de matemática básica para os calouros, do contrário é impossível seguir em frente com a educação.
Recentemente a imprensa denunciou que algumas matérias não podem ser levadas a frente porque alunos completamente despreparados não querem ou não permitem que se toque em certos assuntos. O terraplanismo neste ponto confunde-se com o politicamente correto ortodoxo.
"Os alunos não levam mais caneta e papel para anotar a aula. Eles ficam com o celular na mão olhando para a tela e não importa o que você, professor, esteja falando, não prestam atenção. Não dão a mínima. Querem o diploma e só. Saem da faculdade sem saber nada, sem ter noção do que aprenderam ou o que poderiam ter aprendido" diz uma professora exausta de uma das mais conceituadas faculdades do país.
Está feito... (tenho o diploma)
Você é o que veste.
Mesmo com uma educação bem acima do brasileiro médio veste-se com a moda atual, o que quer que se possa chamar esta "moda". "Vale tudo", diz uma especialista. O corte e a costura mal feitos de propósito, "é a moda". As cores são opacas, tudo para parecer que já foi muito usado, "é a moda, você não entende...".
Antes desta moda aconteceu um fato interessante: madames compravam malas Louis Vuitton, as mais caras e chiques, jogavam dentro do porta-malas do carro e lá deixavam até ficarem bem machucadas, como se tivessem sido muito viajadas. Porque? Para mostrar para as amigas que elas, as donas das malas, era muito viajadas. Chiquérrimo.
E tem a história dos jeans rasgados: uma das mais famosas marcas de roupas descobriu que um imenso lote de jeans iria ser descartado porque tinha rasgos. A famosa marca foi lá e comprou tudo por preço de banana, colocou sua etiqueta e vendeu a preço de ouro. E a moda dos rasgados, desbotados, stone washed e outros mais que façam a roupa parecer muito usada pegou e está aí.
Hoje é moda estampas relacionadas com problemas sociais e ambientais, morte, violência, caveiras, peles de bichos, onças, cobras, animais em extinção, este é o chique entre ricos, médios e pobres. O conjunto faz pensar que se trata de uma forma compensatória para a vergonha do nosso brutal abismo social. "Eu sou um igual", o novo socialismo?
A composição do vestir é inexistente; equilíbrio estético é coisa do passado (não só na moda). Os velhos princípios de estética são opressores, coisa de quem não entende a paisagem social deteriorada pelo abandono e a urbana degradada, mas decorada pelas assinaturas irreconhecíveis e irracionais das amontoadas pixações. Está tudo refletido nesta nova moda. Um olhar mais apurado, neutro e comparativo desta nova moda, deste novo vestir (será vestir?) está relacionado com o incomodo que os pobres, miseráveis e mendigos causam e ao fato de que quem se veste assim não sabe como fazer algo para mudar a pobreza. A moda, não deixa dúvida, é "in" parecer com os abandonados pela sociedade. Será que dão esmolas?
A diferença destes para o verdadeiros miseráveis está nas lojas onde compram, no preço das peças e dependendo de onde se gasta o rico dinheirinho na seleção que um forte segurança faz na porta; ele que sabe bem quem pode ou não comprar o que quiser, quem é tem ou quem é miserável. Quem pode fica chique e igual aos outros, que a partir de lá serão seus iguais.
Ele que se veste na moda chega ao encontro ao mesmo tempo enfurecido e muito consternado. Algum cidadão de bom coração quis lhe dar uma esmola. (Fato verídico)
Quem gosta de pobreza é intelectual" dizia com sabedoria Joãozinho Trinta.
- Você pensa como velho. Não entende o que está acontecendo; já ouvi isto em várias versões. Conflito de geração sempre houve, não é nenhuma novidade, é o que leva a humanidade para frente. Evoluímos no capricho? Pode até ser, mas no sentido do bem feito, do bem acabado.
O "Quem gosta de pobreza é intelectual" de Joãozinho Trinta acredito que não faria sentido hoje em dia, primeiro porque o conceito pobreza ganhou novos ares e talvez tenha perdido um pouco de sentido, e depois e mais importante, "intelectual", o que será um intelectual nestes tempos de selfie? Não perguntei quem será um intelectual, o que será um intelectual? O que, não quem.
Está feito... é uma discussão semântica? Definitivamente não é, por uma simples razão: é literalmente impossível encontrar uma saída para a gravíssima situação que vive o planeta sem regras mínimas de convivência, comportamento e ação. Está feito..., ou seja, de qualquer jeito, não tem mais lugar. Não diz respeito a entender as coisas e fazer o melhor possível para obter o melhor. Chegamos onde chegamos porque até as gerações passadas foram displicentes, quando não muito displicentes, com o bem fazer.
Não há mais espaço para o "Está feito..."
Muito menos para "vocês não entendem..."
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