quinta-feira, 6 de abril de 2023

Breves histórias sobre papel higiênico

Aconteceu, acontece com todo mundo, abro a porta do armarinho do banheiro e não tem papel higiênico, acabou. E por que não escrever breves histórias sobre papel higiênico?

Entro no apartamento de dois quartos, dois banheiros, um praticamente escondido no quarto do casal, procuro por alguém, ninguém. Paz, santa paz! Vou fazer pipi, lavo as mãos, vou tomar um copo de água, uma voz baixa se faz sentir lá no fundo. Olho pela janela, vejo os meninos da igreja jogando vôlei lá em baixo, fazendo uma discreta algazarra. Coloco a cabeça para dentro e volto a ouvir um som surdo vindo sei lá de onde. Ponho a cabeça de volta para fora, vejo as crianças brincando e não entendo de onde vem o som. Saio da cozinha, caminho pelo apartamento, passo na porta do quarto do adolescente,  procuro, ninguém, vou a sala, ninguém. O som persiste. Paro no meio do apartamento pronto para ir até as janelas da sala no outro lado do apartamento e procurar de onde vem, quando ouço em alto e bom som "ô surdo! Traz papel higiênico!". Volto para o meio do apartamento, lembro do banheiro escondido, vejo uma cabeça a meia porta. Corro em socorro, entrego a mercadoria, não recebo um muito obrigado, e a porta de correr se fecha numa forte batida. São as delícias de se ter netos. 

O apartamento alugado em Paris era horroroso, inabitável. A sensação foi imediata ao abrir a porta. Sento na cama, melhor, no miserável sofá-cama aberto e já com o lençol esticado, e fico olhando em volta até esquecido que antes de entrar estava desesperado para ir no banheiro. A porta do pequeno banheiro está aberta, a luz apagada, mas é um banheiro, e lá vou eu. Ligo a luz e descubro que a única coisa que se salva no apartamento é o pequeno banheiro. Sento no trono deprimido. Aqui eu não fico. Na corriqueira posição "o pensador" de Rodin decido que vou procurar imediatamente um hotel para ficar. Olho o papel higiênico cor de rosa, "Que horror! Cor-de-rosa? Só faltava esta. Fazer o que? É o que temos". Nem chuveirinho tinha a porcaria. Que medão das lembranças dos papeis cor-de-rosa do Brasil. Mas, para minha gratíssima surpresa o papel higiênico é muito bom, mesmo sendo cor-de-rosa.   
Não foi complicado explicar para o proprietário e a locadora porque não fiquei no horroroso apartamento. Estava pago para uma semana e fiquei se tanto uma hora. Quero meu dinheiro de volta. Depois de conversas um tanto truncadas, recebi metade do que paguei. Aí pude fazer comentários no site.
O que você mais gostou: O papel higiênico, feio, cor de rosa, mas muito eficiente.

Londres: o clima estava frio e muito seco, para caminhar ótimo, o melhor possível, para o intestino nem um pouco. Ir para a rua, caminhar e pelo menos de hora em hora parar para um café expresso e um líquido, água ou suco. Comer o mais saudável possível, saladas, grãos, yogurts, frutas, mesmo assim o intestino fica seco, um horror para aquelas horas de "o pensador" de Rodin. Hoje sei o que é um parto, mas este não é o ponto. Depois da experiência tenebrosa mais água, mais yogurt, mais pimenta, enfim mais qualquer coisa para evitar... que seja. E finalmente de volta ao normal; as funções intestinais, bem entendido. Foi então e só então que descobri as delícias do papel higiênico da Rainha da Inglaterra, sim porque aquele papel higiênico tinha que ser o usado pela Rainha da Inglaterra. Deus salve o papel higiênico da Rainha da Inglaterra! No dia seguinte joguei um bom dinheiro na loteria inglesa. Se um dia entrarem na minha casa e o papel higiênico for inglês, aquele daquele hotel, estejam certos que tirei na loteria. Será o único sinal que darei sobre minha mudança de vida. Que delícia! Deus salve a Rainha!

Não me lembro onde, nem quero me lembrar. O preço estava ótimo, imperdível, e fui parar num hotel dito e escrito de luxo. Entrada clássica, recepção bacana de onde se via uma sala de estar muito bem arrumada com um bar ao fundo, o barman preparando um drink para um dos silenciosos hóspedes que lia jornal estendido na confortável poltrona. O recepcionista nos atende com raro esmero, faz os tramites, nos entrega as chaves desejando boa estada e ao mesmo tempo chamando o bellboy para carregar as malas e nos levar até o quarto. Elevador moderno, corredor acarpetado sem cheiro de mofo com belas gravuras nas paredes e alguns aparadores com flores naturais. Opa! Isto aqui vai ser muito bom. O quarto ótimo, janela com um boa vista, cama macia, presentinho sobre o travesseiro. Upa! isto é que é vida, banheiro grande com banheira e tudo mais. Deito um pouco no delicioso lençol, olho em volta feliz, pouco depois vem o ziriguidum da barriga e lá vou eu "pensar". No trono, naquele hotel onde de fato o vaso deve ser chamado de trono, feliz da vida... até o fura bolo.

Fui pego por uma gripe com muita coriza e diarreia, conto de terror para quem está no meio de uma viagem de férias. Para minha felicidade o banheiro do hotel tinha um rolo de papel higiênico na parede e mais dois outros extras prontos para serem usados. Foram todos no primeiro dia, todos no segundo, e quando fui sair para a rua no terceiro dia, já com a situação sobre controle, passo pela recepção e com muito jeitinho da gerente do hotel veio a pergunta onde estava indo tanto papel higiênico. Pedi desculpas, dei as razões, disse que estava melhor e me despedi agradecendo muito a atenção. Virei para a porta, dei um passo e soltei silencioso, mas muito cheiroso peido. Pergunto: com que cara se volta para hotel?

Chuveirinho, chuveirinho, santo chuveirinho.  

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