sexta-feira, 15 de julho de 2022

Museu: polo atrativo de público

"Você pega os museus fora do Brasil e em praticamente todos o número de visitantes brasileiros está entre os mais altos. Aqui no Brasil brasileiro não vai ao museu. Este é o problema (para a sobrevivência dos museus no Brasil)."

Confesso que cansei de ver reclamação sobre cobrança de ingresso na porta de museu. Muitos consideram um absurdo a visita não ser grátis. Mas o problema maior é sem dúvida a falta de público muito em parte pelo puro desconhecimento da existência do museu. A sinalização ou inexiste ou é ruim. As cidades não trabalham seus museus como polo atrativo de público.

Europa, Estados Unidos e Canada
As cidades acabam sendo um museu a céu aberto por causa das placas indicativas e explicativas coladas em muros, casas, praças ou mesmo em postes de ruas, tipo “Nesta casa morou o escritor...”, “Aqui foi lançado o...”

A sinalização indicando os museus e pontos de interesse histórico da cidade estão devidamente espalhadas pelas vias principais e levam o turista ou visitante até a porta do museu, quando não indicam com perfeição onde está a entrada e a bilheteria.

França
No meio do nada no sul da França achei em precioso museu de motos e bicicletas. Entrei porque vi sinalização bem posicionada na estrada, Musée de la Moto e du Velo, ou Musée de Bosc entre Nimes e Orange. É um palacete no meio de um grande terreno, com um jardim muito bem cuidado, uma recepção simples onde se cobra uma entrada, não me lembro quanto, nem estou preocupado com isto, e se ouve alguma explicação. Dentro há um impressionante acervo de bicicletas, várias ainda do século XIX, draisianas e biciclos originais, e motos. É uma coleção de respeito, e como é, distribuída pelos cômodos do palacete. Não faço ideia de qual é o número de visitantes que recebem, mas o site, https://www.bosc-musees.fr/, deixa claro o quanto a coleção é levada a sério. Detalhe: olhando agora o site descobri que o museu tem aviões, o que não vi ou ainda não estava lá. Adoraria ter visto o MIG 17 que um dia montei em plastimodelo. Saí de lá pensando como sustentam e mantém aquele impressionante acervo. Uma coisa é certa: tem o apoio do Governo Francês.

Florida
No meio do caminho entre Saint Petersburg e Orlando, Florida, tem um museu aeronáutico de cair o queixo, o Fantasy of Flight, que recomendo muito. Pela estrada vão aparecendo grandes placas tentadoras convidativas para uma visita que se torna realidade quando se vê uma placa indicando que em tantas milhas tem uma saída, também sinalizada, para o museu. Da estrada principal para o museu a sinalização é clara, sem deixar qualquer dúvida até cruzar a porteira e estacionar o carro. A recepção no museu é simples, formal, agradável e direta. Já nos primeiros momentos você sabe o que vai encontrar ali e o quanto pode se divertir. Confesso que fui às lágrimas quando vi um Grumman Wildcat ligar os motores, decolar e fazer um show aéreo para o ansioso público. Cada dia voam com um dos inúmeros aviões da coleção. Pagando um extra é oferecida uma visita ao hangar onde restauram ou reconstroem os aviões. Pagando um pouco mais é possível voar num dos biplanos da coleção.

Musée de Bosc e o Fantasy of Flight são sustentados por entidades privadas e muito provavelmente devem ter algum estímulo financeiro dos governos.

Europeu e americanos aprenderam que a propaganda é a alma do negócio, daí a sinalização de estradas e ruas normalmente ser clara e não dar margem a erros ou ficar perdido.

Aqui é muito comum você entrar numa cidade de interior, seguir a placa "centro" e no meio do caminho se perder. Aconteceu comigo neste fim de semana. Fiz voltas para chegar próximo do centro e mais ainda para chegar na praça da igreja da matriz. Só cheguei na igreja porque dava para vê-la de longe. A sinalização falha ou inexistente é fato comum. Provavelmente quem determina o local das placas é da cidade e fez o "caminho que todos fazem", leia-se todos da cidade, não um forasteiro.

Joinville
O museu das bicicletas de Joinville é (ou foi) um dos principais polos atrativos da cidade. Enquanto estava sob o comando de Valter Busto o MuBI chegou a receber até 8.000 visitantes / mês, pelo que foi dito mais que todos outros museus da cidade juntos. Isto sem nenhuma placa ou sinalização na estrada, a BR 101, uma das mais movimentadas do país. A posição do museu na cidade é boa, no final de uma avenida e numa praça de onde se vê a antiga e restaurada estação ferroviária. Mesmo para quem nunca esteve em Joinville é fácil de chegar até lá e estacionar o carro. Próximo do museu há locais bons para comer e um pequeno shopping center. Ou seja, o entorno ajuda.

Socorro
Em Socorro está o CCM, Centro Cultural Movimento, um museu dedicado a história da moto com um acervo incrível sobre o motociclismo de competição brasileiro, provavelmente o único acervo deste porte no Brasil. Por se tratar de um acervo de duas rodas tem algumas bicicletas, mas o foco mesmo é sobre motos e volto a dizer que é impressionante. Tudo está dentro de uma recém-restaurada estação ferroviária. Junto foi restaurado o entorno direto da estação criando um espaço público agradável.
Socorro está entre Bragança Paulista e Águas da Prata. A estrada é estreita, mão dupla, e no trecho para Bragança o pavimento está bem ruim, bem ruim. Para quem vem de São Paulo é uma viagem relativamente longa não na distância, mas no tempo de viagem: segundo o maps.google pelo menos 2h36m para 164 km. Dependendo por onde se vá é um pinga-pinga de cidadezinha em cidadezinha com curva não acaba mais.

Socorro é uma cidade cortada por um rio com uma topografia bem acidentada, o que fez com o recorte urbano seja irregular e circular pela cidade não seja algo fluído. O CCM está próximo do centro, o pouco significa como ponto de referência. Dependendo por onde se entre na cidade é um tanto complicado chegar ao museu; aliás, é um tanto complicado chegar até o centro da cidade, que por sua vez não está concentrado num ponto só da cidade, mas dispersado em praças e ruas umas 'distantes' das outras, quando não por subidas íngremes. A estrada contorna por um dos lados da área central com alguns acessos para a cidade. A sinalização nas entradas também não ajuda, muito menos para se chegar no CCM.
Estacionar em volta do CCM de moto é fácil, de carro nem tanto, ou não é, dependendo se o supermercado em frente está ou não aberto. Se não encontrar vaga e tiver que dar a volta para procurar lugar para estacionar existe a chance de se perder, situação pela qual passei.

O CCM foi aberto a pouco, uns seis meses, e há por parte das autoridades vontade de ver o museu decolar para valer. Veremos.
O CCM tem um acervo com uma qualidade que se vê em raríssimos museus ou coleções mundo a fora. Merece ser conhecido, aliás, imperdível.

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