Qual é o seu símbolo máximo da sociedade do desperdício? Para mim o guarda-chuva vagabundo vendido com facilidade no desespero da população frente a chuva. Comprou, ventou, quebrou. Se não ventar quebra também. Interessante que não é um fenômeno de país pobre. Em NY e Paris é trivial encontrar algum deles entupindo as lixeiras. Um crime em nome de tentar chegar em casa seco. Fosse só este...
De jeitinho em jeitinho foi criada a humanidade. Os bons jeitinhos foram assumidos por razões obvias e viraram padrão. Mas a lógica não caminha por ai e tem muita porcaria que não tem jeito que continua em nossa vida. A quantidade de bens que temos em casa hoje em dia é absurda se comparada com menos de um século atrás, muitas destas "recordações" sequer funcionam ou um dia funcionaram.
Bom produto é prático, funcional, usável por qualquer idiota. Sim por qualquer idiota. Se o produto precisa de um gênio para funcionar não é prático. Colocar na tomada, ligar, funcionar. Não precisa manual, basta agir; e aí está o perigo: desperdício, o risco desconhecido, não calculado.
Não li o manual da bateria nova de meu computador e estúpido de não tê-lo lido provavelmente a danifiquei. Foi então que li o bendito manual. Estúpido! Dormi logo em seguida e tive pesadelos com a burrice, acordei no meio da noite angustiado. Luz acesa, procurei um livro para pegar no sono novamente e dei de cara com "Against the Gods. The remarkable story of risk" de Peter L. Bernstein; que pelas primeiras páginas já sei que vou me divertir. Duas páginas lidas, não paro de pensar, vou até o computador, ligo, deixo carregar a bateria e descubro que - felizmente - a bateria não foi danificada. Vai entender?
Estamos na era do vencedor de desafios, do perdedor e da maioria, a boiada. Produtos bons são criados para a boiada. Tem que vender, então não adianta criar para minorias. A questão é que a boiada, faço parte dela, não tem saco para ler as instruções de como funciona.
Porque ler o manual da bateria nova? Não é, ou não deveria ser, ligar na tomada e deixar carregar? Sim, plug and play; dot! Você já leu o manual de sua bicicleta? "Como assim? Bicicleta tem manual?" Se não tem, melhor, se não lhe foi entregue é por falha de quem vendeu. Por lei tem que ter, mas a lei, ora a lei...
Uns dias depois tive pesadelos, agora com a corrente 9 marchas que mesmo nova já deu problema duas vezes. Errei na montagem? Pode até ser, duvido, mas não sou um idiota no assunto, imagino eu, mas mais um trouxa do mercado feito de tentações. Não li o manual, simples assim, pau na minha burrice de olhos arregalados no meio da noite. Pesadelo com corrente de bicicleta. Preciso de um psiquiatra, líquido e certo. "Ler manual de corrente, está louco?"
A padronização dos utensílios usados pela humanidade sempre teve um processo natural de evolução ligado aos usos e costumes de cada local e momento da história. Mesmo um machado de pedra lascada foi criado levando em consideração a dureza e tamanho do que é necessário cortar, o tamanho da mão e força de seu usuário, ou simplesmente não teria utilidade. Cortar um arbusto é uma coisa, atacar um animal é outra, portanto machadinhas diferentes. Mas os tempos são outros, funcionalidade é coisa do passado. Precisa de manual? Se tiver instruções sobre como cortar melhor aquele galho de árvore talvez seja uma boa ideia, mas quem vai pensar nisto?
"Vou comprar um computador, qual eu compro?" e a amiga respondeu "Para que quer usar?". "Não interessa para que eu quero usar. Quero saber qual é o melhor?" e conversa encerrada. Computador comprado, fios ligados, ligados na tomada, caixa descartada com o manual dentro, e... e... e...
02:00 h da madrugada, toca o telefone. Depois de um tempo ele levanta da cama quentinha e vai atender achando que alguém morreu
- Preciso de uma ajuda tua...
- O que houve? Você está bem?
- Não consigo fazer o computador funcionar...
- Me acordou para isto? Porra meu! Leia o manual.
Tudo tem seu manual de instruções, o que não deixa de ser só as referências corretas para o bom uso do produto. Hoje temos informação de boa qualidade para tudo relativo a nossas vidas, até para o que vai dar depois das eleições. Não tenha pesadelos nem se arrependa depois. O estrago pode ser muito mais alto que você possa imaginar.
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