Entra na bicicletaria o sujeito meio gordinho, roupas maltratadas, empurrando respeitosamente uma bicicleta básica e já um tanto surrada. De dentro do balcão todos, mecânicos e vendedor levantam os olhos, mas voltam imediatamente aos seus trabalhos desprezando o cliente.
- Bom dia, fala alegre o gordinho.
Ouve se um "bom dia" abafado perdido pela bicicletaria vindo de duas cabeças baixas. O gordinho vai entrando, olhando as bicicletas, esticando os olhos para a vitrine de peças. Pergunta por uma peça, repete a pergunta e novamente ouve se uma resposta cabeça baixa que quase se perde. O gordinho não entende; repete a pergunta. A cabeça se ergue e deixando transparecer impaciência diz "Desculpe, não entendi". Paciente o gordinho pergunta novamente. Disfarçando alguma educação, mas mais impaciente ainda, o vendedor pergunta "O que?". O gordinho mal vestido aponta para a vitrine e recebe uma resposta cabeça baixa, desinteressada de onde praticamente se lê na testa não enche; "R$ 150,00". O gordinho encosta com muito cuidado sua bicicleta na parede e passa a olhar as bicicletas novas. É esquecido por todos.
- E esta bicicleta aqui, quanto custa?
Levanta se a cabeça, olha enfadonho e responde já abaixando a cabeça "Esta aí custa 7 mil".
- Só tem desta cor?
Um tanto irritado pela interrupção de seu trabalho a cabeça se levanta, toma um longo e visível fôlego.
- Temos em vermelha.
- Quero uma.
A resposta muda o clima na bicicletaria, uns começando a prestar atenção, outros com vontade de rir. O vendedor se move um pouco e completa;
- Esta só podemos parcelar em 3 vezes.
- Não tem problema. Pago a vista. Tem para mulher? Preciso uma para minha esposa mais duas para as filhas.
Todos levantam a cabeça e há um hiato. As expressões denunciam 'como assim?'. Um comentário sarcástico é disparado entre os mecânicos e escapa uma risada. O vendedor muda de cara.
O conto acima é baseado tantas histórias reais frequentes em várias bicicletarias, principalmente as voltadas para público exclusivo, seja lá o que isto signifique. Uma marca americana, em especial, parece desinteressada em público chinfrim, seja lá o que isto signifique. Eu próprio procurando uma peça já passei por situações semelhantes, das quais guardo com desgosto duas, uma próxima do Metro Vila Madalena, e outra em Santos, bem grosseira, quando o funcionário contornou uma indelicadeza (?!?) do proprietário; dentre outras.
Muitas destas bicicletarias sobrevivem ou porque tem público fiel ou são a moda da vez. Os clientes destas são os mesmos que te olham horrorizados quando você pedala com uma bicicleta obsoleta, barata, fora de moda...
Divertido é ver estes ciclistas(?) tomando pau de pé de chinelo, ou seja, pião de sandália Havaiana pedalando bicicleta remendada. Ninguém segura eles, nem a bicicleta caríssima comprada em mil vezes no cartão de crédito no vermelho. Status é outra cousa.
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