A primeira imagem que vi de um
V brake, publicada na Bicycling
em 1993. Então novidade total.
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Um dia Tomas Rose apareceu com uma revista alemã especializada em bicicletas que trazia um teste comparativo entre uma dúzia de freios Vbrakes, novidade então. Coisa de alemão. Mesmo gostando de ler e me informar nunca me havia passado pela cabeça todas as variantes que aquele teste alemão expunha. Comparavam o poder de frenagem de um Vbrake com um determinado aro, depois com outro, e outro mais e tabulavam tudo. Aí comparavam Vbrake com um manete, depois com outro e outro mais e tabulavam. As a sapatas eram trocadas e tudo de novo. Colocaram a variante de terreno, asfalto, terra batida, cascalho... ciclista normal, esportista, tudo tabulado, tudo comentado. Nunca tinha visto nada igual.
Conhece o https://www.sheldonbrown.com/? Abre. A primeira vez que abri senti que depois de tudo que fiz para aprender algo nesta vida ainda sou um analfabeto funcional, não faço a mais remota ideia do que é uma bicicleta. Quanto mais sei, mais sei que nada sei.
Tenho uma formação bem eclética o que me deu uma vantagem grande para conseguir entender e consertar uma bicicleta, que aliás é uma máquina muito simples, literalmente básica. Depois da uniformização dos padrões de medidas e ajustes (anos 80 e 90) tudo ficou muito mais simples ainda e virou brincadeira. Os manuais técnicos são muito fáceis de serem entendidos e trocas de peças e ajustes são realizáveis por qualquer um com um mínimo de habilidade, paciência e vontade. Eu sou qualquer um, não passo disso.
A diferença que tenho para a maioria, e não só eu, é que tenho tempo para fazer as coisas. E minha curiosidade e o não aceitar com facilidade regras e normas me fazem mexer e remexer, algumas vezes até quebrar de vez para compreender um pouco mais profundamente como funciona e o que pode ser feito para melhorar. E aqui tenho que defender os mecânicos profissionais, mesmo os melhores e mais curiosos: eles precisam ganhar dinheiro, tempo é dinheiro, não dá para ficar dando jeitinho, realinhando e trocando as polias de um câmbio traseiro para estender sua vida útil, desamassar um aro, fazer voltar funcionar um passador de marchas meio travado... Se fizerem isso vão à falência. Trocar uma peça é mais rápido e lucrativo. Também não chegam ao ponto do jeitinho porque são poucos os que vão dar real valor ao minucioso trabalho. A maioria vai sair feito pedalando sem cuidado, vai arrebentar o conserto feito com amor, e ainda vão voltar para bicicletaria e colocar o dedo no nariz do mecânico pedindo uma peça nova grátis.
Tudo é uma questão de educação. Quanto mais educado se é, mais curioso, menos seguro das verdades. Quanto mais educado mais valor se dá a finesse.
Temos 12 milhões de desempregados, mas o mercado não consegue preencher as cada dia mais numerosas vagas disponíveis por falta de mão de obra especializada, leia-se minimamente qualificada.
Muitas das vagas de trabalho, destas normais, sem grande especialização, não são preenchidas porque o pessoal quer começar por cima, quer moleza, está interessado num bom salário e ponto final. Neste sentido e dentro do espírito nacional os detalhes são chatice completamente dispensável.
Nos falta educação para entender que são os detalhes que fazem qualquer coisa funcionar bem.
Nos falta educação para entender que são os detalhes que fazem qualquer coisa funcionar bem.
Ter tudo pronto, não duvidar, não experimentar, ter medo de errar, ou pior, não querer errar, não tentar de novo, não insistir, é tiro no pé.
Aceitar que não sabe nada é o caminho para a verdadeira liberdade. Experimente.
Quanto mais sei, mais sei que nada sei.
Quanto mais sei, mais sei que nada sei.
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