Minha ansiedade vai aumentando. Está chegando o Ano Novo, ou ano novo, como queiram. Ansiedade não pela festa de passagem, os fogos de artifício, o estourar da champagne (que eu não gosto), o abraço dos amigos, os votos de um ano feliz e toda esta papagaiada. Estou ansioso porque o "primeiro de Janeiro, o dia mais morto do ano", segundo Tereza, verdade verdadeira indubitável, é também sem a mais remota dúvida o melhor dia do ano para se pedalar. Ruas completamente vazias, silêncio completo, ouve-se passarinhos e com um pouco de atenção roncos com bafo de mé. Dá para deitar no meio da rua e tirar uma soneca. Me lembro dos meus primeiros anos de pedal, final dos anos 70, quando chegava domingo, eu acordava cedo e saía para a rua, e era uma paz... Paz! E não é só o não ter carros circulando e toda a tranquilidade que isto dá, é não ter ninguém por perto; solidão abençoada, pelo menos por uns momentos.
Aqui em São Paulo este será o primeiro réveillon que o espetáculo dos jogos de artifício da Paulista será silencioso, só cores explodindo, o que é um indício muito promissor. Quem teve cachorro ou qualquer bicho sabe bem o estrago que o tiroteio de fogos faz. Em nome da passarinhada, que toda meia noite de ano novo era a primeira coisa que me vinha na cabeça, agradeço. Ainda vai demorar um tempo para o povão aderir, mas estamos caminhando.
Falando nisto, tenho uma goiabeira num pequeno vazo que está na hora de ser plantada numa praça. Será hoje. Despedida de um ano velho muito estranho e triste, muito triste. E votos de muitas goiabas bicadas por passarinhos, além da esperança que os goiabas podres caiam.
Faz um bom tempo passei o ano novo em Ilha Bela. Acordamos cedo cedo e fomos pegar pão e leite para o café da manha da família que estava dormindo. A pequena cidade e suas estradinhas estreitas para o norte e sul que no dia anterior estavam intransitáveis, infernais, estavam vazias, quietas, uma delícia, paraíso puro. O centrinho já estava praticamente todo varrido, limpo, brilhando, o que nos foi uma gratíssima surpresa, um indício palpável que aquele poderia ser um ótimo ano novo. Varrer a sujeira é tudo que este país quer.
Feliz Ano Novo a todos - literalmente.
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