O Pedal Anchieta 2019 foi
muito mais divertido que o do ano passado. Para começar não ter aquelas
barreiras que ninguém me tira da cabeça que eram caixas de retenção para
controle de fluxo. Fluxo livre funcionou perfeitamente. O único ponto que parou
e todos tiveram que empurrar foi num estrangulamento da Anchieta um pouco antes
da VW, mas aí há um problema de engenharia, uma pilastra de ponte para lá de esquisita
estreitando o caminho, e não situação provocada pela organização. Também
resolveram de maneira inteligente a entrada em Santos, que no ano passado
obrigava a massa de ciclistas a seguir pela estreita ciclovia do canteiro
central provocando congestionamento. Este ano a CET Santos interditou para os
ciclistas a avenida Visconde de São Leopoldo no sentido Valongo - Anchieta,
medida para lá de sábia. Tirando a descida pela Imigrantes, que foi loucura
total, um show de irresponsabilidade e falta de civilidade, tudo correu muito
melhor que eu esperava.
Em São Paulo a presença da CET
foi bem menor que no ano passado. Os primeiros km na Anchieta, da Estação Metro
Sacomã até o km 9,5, início oficial do passeio, a presença da CET SP foi muito discreta
e restrita aos cruzamentos. Todo resto foi feito por colaboradores
uniformizados com coletes. Passei pelo Metro Sacomã exatamente às 7:30 h, meia
hora mais tarde que no ano passado, e a fluidez parecia indicar que teríamos
menos ciclistas no passeio. A mesma sensação que nos primeiros km já da estrada
Anchieta. Ledo engano. Fluidez espalha o pessoal o que dá uma falsa sensação de
ter menos gente pedalando. A imprensa deu 40 mil, bem possível. Fora o pequeno
trecho de estrangulamento causado pela pilastra, fluiu bem até Santos, o que é
um imenso prazer.
Quem acompanhou a organização
deste Pedal Anchieta 2019 sabe que até o último minuto havia incertezas sobre
se e como aconteceria o evento. Pasqualini e o grupo Bicicreteiro assumiram a
organização e no final das contas realizaram um ótimo evento. Levantou-se muita
poeira, falaram muitas coisas, discordaram sobre a organização e as posições,
mais uma vez dividiram. A sensação é que o personalismo segue firme e forte.
Somos o Brasil do "sabe com quem está falando" que é repetido por
todos e de todas as formas, mesmo as que não parecem ser.
Não há dúvida que ninguém mais
consegue parar este evento nos próximos anos, mesmo que queira. Pelo que me
contaram sobre as reuniões com as autoridades, em especial as do Governo do
Estado de São Paulo, houve uma má vontade sem tamanho para tentar melar o
evento. Até entendo e de certa forma concordo com a posição do Doria e sua
tropa em querer que eventos de lazer e esportivos sejam organizados e pagos
pela sociedade civil, mas no caso específico da bicicleta ainda não dá para
pensar desta forma. Não só não dá, não é inteligente pensar assim. Cicloturismo
é uma novidade que cresce rapidamente e quase sem controle e não se pode cair
na mesma burrice do passado de negar a realidade. Por outro lado, a bicicleta
querendo ou não faz parte do futuro, é a base da mobilidade ativa e deve ser
vista como investimento principalmente pelas autoridades. Doria é inteligente e
deve saber que não dá mais para negar ou fazer corpo mole neste ponto. Que seja
inteligente e não cabeça dura.
O fato é que o Pedal Anchieta
de 2020 tem que começar a ser organizado desde já. Não dá para ter tantas
incertezas e confusões como as que tivemos este ano. Não dá para ficar na mão
de um ou de uma ONG, mesmo que estes tenham mais que boa vontade e força de
trabalho. O Poder Público tem que estar presente e atuante porque é ele que
estabelece e regulamenta a política de transporte, lazer e esporte.
O Pedal Anchieta 2019 não só
saiu, como foi muito bom. Mas concordo com Vera Penteado: não se pode usar as
palavras largada e desafio num evento que é um passeio de lazer. Não se pode
dar qualquer trela a maluco e gente sem noção das coisas e ou civilidade. Uns
poucos não tem direito de criar problemas para a maioria ordeira e
principalmente para uma causa para lá de justa e necessária. É saída e é
passeio. Deixemos “largada e desafio” competições.
Uma coisa me intrigou: O que
estavam fazendo alguns PMs com metralhadoras no meio caminho? Qual o propósito?
Qual a razão? Para que fim? Por infeliz ironia do destino na favela Paraisópolis
uma ação da PM saiu completamente fora do controle na madrugada do mesmo dia do
Pedal Anchieta 2019 deixando nove mortos e mais umas dezenas de feridos. O que
aconteceu em Paraisópolis as investigações dirão (espero). O que interessa aqui
é o Pedal Anchieta 2019. Se o ano passado tinha muito policiamento, o que é
bom, mas não vi metralhadora, que é uma arma intimidatória, para enfrentamento,
confronto pesado. Muito estranho, muito estranho.
Fico feliz que não tenha
havido nenhuma fatalidade. A informação que tive, do SAMU Santos, foram 52
atendimentos total, 37 casos de trauma e 15 casos de desidratação. Boa parte dos
traumas devem sido causados por falta de noção do que é pedalar uma bicicleta,
o que é notório num passeio destes. Educação no trânsito de brasileiro é ruim,
como provam os números, e não poderia ser diferente com ciclistas. Sobre
desidratação, a SABESP esteve presente, poderia estar em mais pontos, mas sair
para um passeio longo sem água é completa falta de noção do que é saúde por
parte de quem desidratou. De novo caímos na educação, sempre a educação.
A falta de civilidade de todo
tipo não poucos tem que ser freada. Três ciclistas abrindo passagem com uma
sirene idêntica a das ambulâncias, ciclista uniformizado de um numeroso pelotão
uniformizado jogando a caramanhola no meio do mato, pai distante do filho
deixando a criança pequena na frente de ambulância, ciclistas decidindo parar
no acostamento cruzando na frente de todo mundo sem olhar para trás ou
sinalizar, ciclista parado quase no acostamento atrapalhando os que vinham, uns
apostando corrida e costurando e, o pior, uma cambada de imbecis descendo a Imigrantes a
milhão apavorando.
Foram vários os acidentes na
descida. Passei por um destes quando a situação já estava controlada e depois
vi o que aconteceu num filme. O idiota que provocou os acidentes em cadeia não
faz a mais remota ideia do que seja pedalar, muito menos descer. No filme fica
claro que quando percebeu que tinha cometido um erro, que ele não conseguiria ultrapassar
o outro ciclista perto da parede ele simplesmente tira os pés dos pedais mete a
mão no freio, capota, e derruba o ciclista que estava à frente descendo
tranquilo. Este se machucou. O idiota, que foi filmado, ainda quis argumentar.
E enquanto o bate-boca rolava a bicicleta ficou no meio do caminho e os que vieram
atrás também foram para o chão.
Se fossemos um país sério o
dito cujo idiota seria localizado e responsabilizado criminalmente pelo
acidente, mas como estamos no país do futebol de torcida única, ninguém vai
fazer nada. Aliás vão: vão dizer que estou louco por fazer um comentário destes.
Será? Só lembrando: em 2018 morreu um. Ele foi atropelado por trás e jogado no
chão. Não foi o único. Boa parte dos atendimentos médicos de 2018 e deste ano foram
causados exatamente pela mesma situação: um louco que veio por trás. É dar
muito pano para manga de quem quer melar o Pedal Anchieta, ou vocês acham que
as autoridades contrárias ao evento não vão usar isto?
Maravilha de texto. Também gostei muito, deixou alguns pontos a desejar, mas em qual momento não deixou ou deixaria. Falando em organização, quem que a fizesse, não receberia criticas. Poderia ser ao turma do lado B ou lado A, que teríamos sempre gente criticando. Mal de brasileiro. Ajudar ninguém quer, só tacar pedra. Sem comentários quanto as pessoas sem noção, eu vi um pai com uma filha de pé na garupa da bicicleta e mais rápido do que eu...
ResponderExcluirConcordo texto maravilhoso, alguns pontos a desejar pessoas sem noção principalmente nos túneis, mas críticas não iriam faltar falar mal é fácil.
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