sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A cidade, a cidade brasileira, e a indústria automobilística

Folha de São Paulo \ Opinião \

Como tudo neste país os rumos dos próximos 15 anos do setor automotivo no Brasil teve lei aprovada pelo Senado sem que a população saiba exatamente o que vai acontecer. O assunto é a princípio macro economia, envolve uma série de dados e números complexos, mesmo assim é possível que exista alguma forma de se dar ao público o que vem pela frente.
Fico feliz de ter deixado este texto na gaveta porque ouvi e li comentaristas descendo o pau e outros  dizendo que é um bom negócio. Não faço ideia do que realmente seja, até porque num país instável como o Brasil é muito difícil fazer projeções e acertar. Mas tem coisas ai que me incomodam.

Os rumos da indústria automobilística no mundo estão mudando. Como leigo, mas interessado, me parece que mesmo nos países de primeiro mundo este futuro ainda gera muita incerteza. É um setor econômico muito importante na geração de empregos e impostos, e crucial na logística urbana. Não existe alternativa com tanta eficiência para a logística de distribuição de mercadorias.
Fala-se muito sobre os problemas ambientais causados pelos automóveis, que são reais e devem ser atacados imediatamente, mas o discurso é tão insistente que parece cortina de fumaça para outros pontos importantes.
Resultado de imagem para popular mechanics 1960Para resolver todos os males do meio ambiente dizem que a solução são os automóveis autônomos movidos a energia elétrica. Solução simplória. Fazem lembrar as imagens mágicas que se via nas Popular Mechanics do final dos anos 50, ilustradas com fotos e desenhos de carros do futuro, uns movidos a jato, outros que voavam, e até os que se moviam sozinhos. Viajávamos naqueles sonhos a maioria simplesmente inexequível. E em 1962 surge os Jetsons, série de TV em desenho animado. fantasia pura, leve, divertido, mas mais que isto, enganação pura. Aula magna de como tirar o foco da realidade do seria o futuro das cidades. O que interessa, o que é mais importante, o automóvel ou a cidade?Não resta dúvida que o automóvel do futuro está ai. Provavelmente não será exatamente como os protótipos apresentados nos principais salões do automóvel, mas sem dúvida será um veículo com altíssima tecnologia embarcada. Aí nós, brasileiros, nos danamos. A indústria e principalmente a mão de obra brasileira são obsoletas e vão continuar obsoletas. Mesmo que tivéssemos capacidade de investimento valeria a pena renovar todo parque industrial do setor automobilístico? Não seríamos concorrentes ao parque industrial do primeiro mundo, que aliás é de onde vem as matrizes? Como fica o nosso setor energético? O que fazer com nosso pré sal? E os elétricos, o futuro do automóvel, não demanda pesados investimentos e reorganização do setor elétrico? Dá para entrar numa nova era sem educar e treinar a população, o que demanda muito tempo. Mais do que isto, é necessário mudar a mentalidade de todo o Brasil, que hoje fala muito em direitos e muito pouco em deveres. Nosso índice de produtividade é nossa qualidade são baixíssimos, patéticos. Ou seja, não creio que o futuro da nova indústria automobilística passe pelo Brasil.

Resultado de imagem para lada 1500É crucial para as montadoras ter onde desovar tecnologias obsoletas. Para quem não sabe, na década de 60 a Fiat foi salva por uma jogada genial quando convenceu a União Soviética a comprar plantas industriais obsoletas de modelos que estavam saindo do mercado europeu, leia-se entre outros Fiat 125 ou Laka 1500, tão conhecido aqui no Brasil, dentre outros.  
Não demora muito estes carros que circulam nas nossas esburacadas ruas serão coisa do passado lá fora; muitos deles proibidos de circular, como já vem acontecendo em várias cidades do mundo civilizado. As plantas industriais destes modelos hoje produzindo em países de primeiro mundo vão parar onde? Vão para o lixo? Pode o setor automobilístico sobreviver sem diluir custos de produção?

E quando falei dos Jetsons citei o que mais me incomoda nesta história toda: a cidade. Está provado que a partir de um número de veículos motorizados circulando os problemas para a cidade e população se multiplicam, dos custos operacionais ao aumento da violência, passando pela rápida degradação urbana. A qualidade da cidade tem tudo a ver com o grau de violência geral. 
E em todos comentários que li e vi sobre esta lei aprovada não vi uma linha, uma palavra, sobre a cidade. Ai o bicho pega.

Como diz Eric Ferreira: o carro não vai desaparecer. Isto é certo. Sendo assim é necessário pensar e usar o carro com inteligência, bom senso, e isto só é possível mantendo constantemente a qualidade de vida na cidade como norte.


https://www.noticiasautomotivas.com.br/
Listas de montadoras de veículos por estado no Brasil

Amazonas – Amazonas Motocicletas Especiais, BMW (motos), Dafra, Harley-Davidson, Honda (motos), Haobao, Indian Motorcicle, Kasinski, Kawasaki, Traxx, Sundown, Suzuki (motos) e Yamaha.
Bahia – Ford.
Ceará – Troller.
Goiás – CAOA Hyundai, John Deere, Suzuki e Mitsubishi.
Minas Gerais – CNH New Holland, FCA, Iveco, XCMG e Mercedes-Benz.
Paraná – FCA, Caterpillar, CNH New Holland, DAF, Audi, Nissan, Renault, VW e Volvo.
Pernambuco – FCA
Rio de Janeiro – Nissan, Land Rover, MAN “VWCO” e PSA Peugeot-Citroën.
Rio Grande do Sul – AGCO “Massey Ferguson”, Foton, Mahindra, Agrale, Chevrolet, Valtra, International e John Deere.
Santa Catarina – BMW e Chevrolet.
São Paulo – AGCO, Caterpillar, CNH New Holland, Chery, Ford, Chevrolet, Honda, Hyundai, Komatsu, Mercedes-Benz, Scania, Toyota, Valtra, VW, John Deere.

 
IHS - Five Critical Challenges Facing the Automotive Industry

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