sexta-feira, 31 de maio de 2024

A despedida final de NY

Com muita dor no coração, sei que saindo deste quarto do Arthouse Hotel, na 77stW com Broadway, estou me despedindo definitivamente de NY. Confesso que se pudesse viveria aqui, pelo menos durante os meses quentes. Dizem que o inverno aqui é de lascar. Não faço ideia, só vivendo para saber.
NY é deliciosa, cheia de vida, vem a décadas corrigindo seus problemas da maneira correta. NY é inesquecível.

Vou sentir saudades dos "banhos de civilidade", como costumávamos chamar estas viagens para o hemisfério norte, Europa ou Estados Unidos. Quem já as fez sabe que é um sonho se sentir um cidadão civilizado. Simples. Poder tirar fotos com o celular sem a mais remota preocupação de ser assaltado. Poder caminhar em calçadas lisas, em prefeitas condições e limpas, sem um papelzinho jogado, com guias rebaixadas nas esquinas que cadeirantes transpassam sem sobressaltos. Do trânsito ser muito mais silencioso que em nossas cidades. De poder usar a mesma camiseta por vários dias sem que ela fique com a gola preta por causa da poluição. Das pessoas conversarem em voz baixa nos bares, cafés e restaurantes, estações e dentro do metrô. Ouvir bom dia, boa tarde, boa noite, posso ajudar, como você está hoje?... Da prestação de serviço ser uma prestação de serviço, o atendimento ser atendimento, não ter que esperar que terminem a conversa para te atender com cara de "que saco!". Da informação pedida vir com precisão. Das pessoas entrarem e esperarem na fila com paciência. De poder entrar cachorro onde bem entender, metrô, ônibus, café, restaurante, farmácias e até supermercados.

Loja do Ralph Loren Up East Side

Banho de civilização mesmo, visitar museus que são bem cuidados, que nunca pegaram fogo, entrar em lojas caríssimas sem ser tratado como cidadão de quinta categoria por não ter poder aquisitivo. Poder fazer pipi no banheiro de um hotel de sei lá quantas estrelas sem ser barrado na porta...
Sentir se gente. 
Ver mendigo sendo tratado com respeito.

metrô
Vou sentir saudades de civilidade, dos pequenos detalhes que fazem e confirmam o respeito ao próximo.

Vou sentir saudades dos supermercados da Broadway Ave, em especial o Fairway Market, uma loucura de intermináveis variedades.

Aliás, esqueci de um ponto importantíssimo: durante os dias que estive em NY, não tive que parar, desviar ou extender o braço como um para-choque para não ser atropelado por quem quer que seja que estivesse falando ou digitando no celular, o que acontece com um frequência irritante em São Paulo. Gente falando ou digitando no celular por aqui, NY ou USA? Óbvio que sim, aos montes, mas eles não cagam e andam para o próximo, nem podem porque se fizerem pode acabar como um problemão com a polícia ou até justiça. Calçadas largas e sem obstáculos ajudam, mas o respeito pelo outro impera.

NY não é Estados Unidos. Para esta viagem foram reservados uns bons dias para conhecer os Estados Unidos mais por dentro, longe das grandes cidades litorâneas. Peguei um carro em NY e fui dirigindo até Atlanta, passando uns dias em Nashville. Foi esclarecedor, agradabilíssimo. 


Como é este Estados Unidos interiorano? O choque comparativo com nossa realidade é mais forte ainda. A "caipirada" americana pode ser o que quiser, mas eles tem um padrão de vida ótimo, mesmo para os que ganham menos e tem vida dura. A diferença para o que somos está nas cidades que deixam claro que o espaço urbano, o público e o privado, serve para o convívio coletivo.


Vou sentir saudades de NY, mas não só dela. Infelizmente sei que esta festa acabou. 

A única coisa que não vou sentir saudades é do papel higiênico americano, no geral fura bolo.



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