terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

O uso de notebooks em padarias e cafés

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

A confusão gerada pelo uso de notebook em padarias e cafés remete a confusão que fazemos em relação ao que é propriedade, em primeiro lugar, e o direito ao seu uso. O que nos remete ao terceiro ponto, que deveria ser amplamente discutido em nossa sociedade: a definição legal e prática do privado de uso público. Basta um olhar rápido para nossas ruas e fica estampado nossa falta de senso coletivo, ou desprezo pelo que é público, ou o desrespeito pelo que deveria ser de bom uso por e para todos. Eu pago, portanto tenho direito. Sentar-se numa mesa para tomar café da manhã numa padaria é uma troca entre o cliente e a padaria. A oferta de Internet é um benefício, não um direito adquirido do cliente. O espaço da padaria de certa forma é público, mas não privado do cliente, que não passa de um invasor muito bem vindo. A falta de limites do uso de notebooks remete a outras tantas situações identificas, como estacionar indevidamente em vaga de deficiente ou idoso. Talvez muitos dos que fazem reuniões em padaria se imaginam num café da Europa ou Estados Unidos, mas se esquecem que lá a consciência da importância do público, ou seja, do coletivo, foi conquistada com respeito às leis, o que permite que sente seguro no meio de uma praça pública e se realize uma reunião sem medo de assaltos. Lá, caso o proprietário coloque limites, que são dele e de sua casa, é de bom tom pedir desculpas, o que raramente acontece porque a consciência coletiva fala muito mais alto. O coletivo, no público e privado, deve ser elemento básico e primordial de convivência. Eu pago, portanto tenho direito; definitivamente não funciona. O Brasil é prova disto.


Meu caro amigo Zé ABC se recusou a entrar num café. Estava furioso porque um dia o gerente foi até ele e disse "O senhor vai pedir algo? Se não for, peço que dê lugar para outros". Ele saiu furioso. Não preciso ir a fundo na história. Zé entrou no café, como ele fazia todos dias, ligou o notebook e como todo bom workaholic esqueceu a existência do planeta lá fora. 
É o que vários negócios vêm enfrentando faz tempo. Em alguns horários do dia que o movimento é baixo o café ou padaria pode ser benevolente e deixar o sujeito no planeta dele. Em outros não dá porque o prejuízo é certo. Não é só com notebooks, mas com celulares também, e não precisa estar num café ou padaria, é em todos lugares. Vai me dizer que você que lê esta nunca teve que parar para não bater na pessoa que vem pela calçada nariz enterrado no celular?

Deixo aqui uma justa homenagem ao Zé ABC. Se soubessem quem ele foi, sua capacidade e qualidade de trabalho, o teriam deixado em paz e até servido café de cortesia. Em boas épocas isto aconteceu com várias celebridades, que então eram de fato celebridades. Hoje, quem se importa quem o outro é?

Selfie na cabeça! e não me incomodem. Eu pago, eu tenho direito!

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