quinta-feira, 1 de junho de 2023

...quero que o diabo o carregue...

Quem não teve vontade de tonar fato o famoso "quero que o diabo o carregue"? Morto, enterrado, assunto encerrado, não seria melhor assim? O problema é quando sequer o diabo quer ver por perto o maldito. Pois então... durma-se com esta, mas que o diabo o carregue e já vai bem tarde.

Não sei de que filme é, mas tem um italiano que abre com a câmera no caixão, um morto, o som de mulheres chorando, carpideiras, a imagem passa por elas e termina focada numa bela mulher que está na cabeceira do caixão, a única que não chora. Sequência ela se levanta, sai para o terraço, para olhando para o horizonte. Atrás dela surge uma das carpideiras que lhe põe a mão sobre os ombros e diz "Por que você não está chorando? Você tem que chorar. É seu marido" e recebe como resposta rápida, cortante, mal humorada "... aquele filho da puta...." Ela se dá volta e sai do velório. Eu estourei na gargalhada e não podia parar. 

Por que não podemos amaldiçoar o outro? Por que temos que ter bons pensamentos do pobre coitado, melhor, do que o diabo não carrega que sempre nos perturbou a vida? Todos sabemos, dependendo de quem o "que o diabo que o carregue...", a bem pensar, coitado do diabo, não é justo sequer com ele. Talvez fosse mais digno entregar o maldito para São Pedro ou pessoalmente para Deus reclamando defeito congênito e irremediável de fabricação. Tenha certeza, o diabo abriria um sorriso e faria um pouco discreto ufaa!!!!, e pensaria aliviado "E eu com isto?".

Família, família, ó família, que delícia! "Você é filho...", jogam a responsabilidade para ti. Ou mais trivial, comum e aplicado "Você é filha...", afinal você é mulher e mulher é para estas coisas. A sequência destas sagradas palavras, ditas como uma homilia, "...é tua responsabilidade cuidar". Não precisa ser filho ou filha, pode ser mãe, o mais corriqueiro. "Toma, que o filho é teu", trocando em miúdos: (dois pontos) "Foda-se! Estou tirando o meu da reta. Até logo, fui!" Dá vontade de esganar, mas a vida é assim. Como assim? A vida de quem é assim?
  
Como sair desta? Como fugir do que o diabo insiste em não carregar, a bem da verdade ele também tira o dele da reta? Entre a forca da convivência social, o suicídio pessoal, a morte viva, e o buscar uma saída qualquer, não esgane, não envie pelas próprias mãos para o diabo, dá cana, anos de prisão, não vale a pena, só piora. Mas vontade não falta, opa! isto não falta. Quantas vezes saímos de lá, a casa que o maldito diabo não carrega, imaginando como fazer desaparecer dos próprios pesadelos dando gargalhadas, não maldosas, mas necessárias, sobre as inúmeras possibilidades. 

Seja pragmático. Saia correndo, opte por dar uma de louco, mas sem exagero para não ser internado. Se por um acaso for internado descobrirá que lá, no hospício, tem um monte de gente absolutamente normal, mas que não teve inteligência emocional para se livrar do maldito karma que sequer o diabo quer carregar. Coitado do diabo, não o culpo, muito pelo contrário. Burrice de quem parou lá.

Evite mandar seus queridos parentes enfiar aquele o diabo não carrega no meio do cu. Costuma ser solução inócua, espelho da sua ingênua maldade. "Filho da puta" também não serve para nada. O que mais temos feito neste país é chamar o outro, aquele que não atende a nossos interesses, de filho da puta. Tem até aquele bordão "Vote nas putas. Nos filhos das putas você já votou e não deu em nada". Aos (filhos da puta) que recomendam que você cuide bem de quem o diabo não carrega recomendo desprezo, e que resmungue em voz inaudível "Que o diabo o carregue". Vai que com as bençãos dos céus ou do inferno o negócio funcione; um a menos, não será quem queres que o diabo carregue, mas será um a menos, bom negócio. 

Enfim, que pecado há em desejar ver o outro carregado pelo diabo? Legalmente há, não vou entrar de novo na questão, então que pecado há em desejar se livrar do outro? O diabo que o carregue é a melhor solução, a responsabilidade é dele, diabo, não sua. Enquanto o desejo não se realizar dá uma de louco.

Eu quero abrir uma agência de turismo funerário pró ou turismo pró funerário, ainda não defini. Vou comprar um rabecão com reboque. O cliente vai poder escolher se quer levar seu ente querido com porta traseira aberta ou fechada. Em cima vou colocar rack para umas cadeiras de roda. No reboque de soalho metálico e liso vou dar opção aos clientes para carregar cama hospitalar ou mais cadeiras de roda. Vou oferecer vários pacotes, começando pela descida da Serra Velha de Santos. 







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