terça-feira, 13 de setembro de 2022

Usos, costumes, adaptação, comodidades e padronização. Sensemaker

O texto abaixo é muito mais um bate papo onde jogo ideias, pensamentos que tive enquanto estava ouvindo ou lendo notícias variadas sobre como andam nossas cidades.

Qual é a ciência ou as ciências que estudam os usos costumes, adaptação, comodidades e padronização? A bem da verdade não sei exatamente, mesmo tentando imaginar quais possam ser. Uma coisa é clara, é um assunto complexo ligado a vários setores da ciência e cultura das áreas de exatas e humanas. Conclusões devem cruzar dados e informações para ter alguma assertividade.

A base de nossa sociedade está toda estruturada em usos, costumes, adaptação, comodidades, padronização, e porque não dizer vícios. Dependendo de como cada um destes fatores atua sobre a sociedade, portanto sobre seus cidadãos, que são indivíduos com suas peculiaridades, o caminho para o bem comum fica mais fácil ou difícil de ser percorrido. Muitas das soluções que estão sendo apresentadas nestes tempos de campanha eleitoral levam em conta o que mais convém dispensando fatores inconvenientes ou difíceis de explicar, o famoso "eu prometo que vou fazer...".
Resolver problemas demanda evoluir, adaptar ou detonar usos, costumes, comodidades e padronizações. O hábito de jogar lixo e descartar entulho na rua tem que ser detonado, por exemplo.

A maioria das necessidades que o animal bípede hoje conhecido como ser humano teve com o tempo se transformaram em comodidades, algumas benéficas por um determinado tempo, depois nem tanto ou definitivamente não mais. Muitas das necessidades básicas acabaram sendo repensadas para melhor resultado. É muito mais fácil criar animais que sair para caçar. É muito mais fácil pagar uma conta via internet que na boca do caixa. Tomar banho hoje em dia é regra, mas já foi visto como algo que fazia mal para a saúde.

A vida é um passar de chapéu, ou, nada se cria tudo se copia. Melhor diria, nada se cria tudo evolui. Evolução demanda tentativa e erro para se chegar a um conhecimento, a transmissão deste conhecimento e posterior educação e treinamento de todos para o futuro uso correto da novidade. Exemplo: qualquer criança, por mais pobre que seja, sabe acionar o Tik Tok, mas não entende a importância de manter a higiene coletiva cuidando da prevenção na saúde pública e individual. Jogar lixo na rua não é exclusividade dos pobres, mas infeliz mania da maioria dos brasileiros. Deveriam ser de conhecimento de todos, talvez o seja, mas não é aplicado, portanto não funciona. 
Quanto mais complexo for o bom conhecimento, mais difícil é vender a ideia para aplica-la. Edifícios altos espelhados têm, entre outros, dois graves problemas: são um crime contra os pássaros e mudam tanto a insolação quanto a ventilação do entorno, mas como ninguém consegue perceber estes edifícios são considerados lindos.

Fome, frio, calor, chuvas..., enfim, instinto de sobrevivência levou e segue levando a busca de soluções, que se forem boas se transformam em padrão ou não. É incrível que não se use técnicas de construção e uso de espaço coletivo para ter uma melhor condição de salubridade no interior das moradias. Ar condicionado segue como uma solução mesmo tendo se tornado um imenso problema de consumo de energia, portanto ambiental. Erro de posicionamento das janelas dificulta a ventilação e insolação o que gera ambientes insalubres. O poder público se ausenta aí como regulador das boas práticas e o individualismo solto piora a situação. Quem paga a conta é o sistema de saúde público, ou seja, todos.  

Hoje, nesta vida fácil que vivemos, e nunca foi tão fácil e cômodo viver, as vontades individuais praticamente imperam e ditam muitos de nossos padrões; o vício do prazer da comodidade. O ambiente onde vivemos tem uma importância enorme no direcionamento destas vontades, consumos e vícios individuais. A cidade, sua segurança, comodidade e facilidade para encontrar o que é necessário para viver são referências básicas de nosso tempo. Não é por menos que a maioria da população mundial vive em área urbana.

Por uma série de razões as cidades entraram em crise financeira e com ela crise estrutural. Os usos que se faziam das cidades até a década de 60 mudaram em razão da explosão populacional, fazendo que os geradores de empregos, principalmente indústrias, saíssem do meio urbano para dar lugar a moradias, o que por sua vez mudou o fluxo do dinheiro e os custos de manutenção da mesma cidade. A maioria das cidades do planeta tem dificuldade em manter suas contas no azul.

Algumas das soluções para esta crise administrativa fizeram com que a qualidade de vida na cidade tenha melhorado, o que por sua vez aumentou o custo do metro quadrado nas áreas que receberam as melhorias, o que acabou sendo um problema para as populações de baixa renda gerando uma movimentação destes para fora de suas áreas tradicionais de residência e vida. Com isto vastas áreas urbanas perderam sua memória, o que normalmente é um gerador de problemas futuros. 
É necessário perenizar os bons progressos, mas isto leva tempo. Moradores recém chegados a um local têm menos vínculo com os usos e costumes locais, o que os faz mais suscetíveis a novas mudanças, algumas pouco viáveis para a estabilidade social.      

A parada forçada pelo coronavírus fez muitos terem um olhar mais claro do que pode ser a cidade sem o automóvel, uma demanda urgente nas cidades grandes ou metrópoles. Os costumes diários, muitos deles já vícios, foram postos em cheque. Passado o medo do contágio, o desagrado causado pela abstinência nos fez voltar ao quase normal de antes. Perdemos uma oportunidade única para repensar os erros de nossas vidas, o que era esperado porque uma vez viciado para sempre viciado.
Apresente o elemento viciante a um viciado e veja o resultado. Mesmo consciente que o problema é sério há a possibilidade de ele voltar ao maléfico vício. O menor deslize e de volta ao vício. 

Vício social só foi interrompido em países onde a educação, o treinamento e a imposição mudaram a população e isto demorou décadas, fruto de concordância e esforço coletivo. 
No nosso caso, do Brasil, mais que combater o vício é necessário mudar o carácter coletivo, que pode, mas não deve, ser confundido com vício. Precisamos nos desvencilhar de atitudes predatórias colonialistas que foram entronizadas pela própria população brasileira, os colonizados, como sendo inerentes ao caráter brasileiro. É o que nos dificulta ou impede a adaptação aos melhores processos civilizatórios que a humanidade alcançou. 



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