Tenho que fazer funcionar um tablet de uma prima que tem Alzheimer. Parecia simples até descobrir que ela esqueceu as senhas das duas contas que tem no Google. Uma foi relativamente fácil de recuperar, a outra está quase no terreno do impossível. Sem as senhas não consigo transferir os arquivos do celular para o novo tablet.
Não é a primeira vez que passo por esta situação. Tenho uma amiga que também fez uma confusão e pediu ajuda. Não consegui resolver e chamei uma fera no negócio, que da primeira vez num passe de mágica resolveu colocando tudo para funcionar, mas na segunda não. O irmão de minha amiga trocou o celular dela, aparelho e número, e aí não se conseguia mais certificar que a conta era dela mesmo. Dançou a conta de E-mail com todos os endereços e dados juntos.
Um dia, já faz tempo, cheguei no apartamento de um grande amigo e encontrei ele e o filho tentando corrigir um problema grave de funcionamento do computador. O pai sempre teve computadores, desde os primeiros dias que o "treco" apareceu, ou seja, sabe o que faz. O filho desde cedo já se mostrava um pequeno gênio no assunto. Os dois enlouquecidos porque não conseguiam resolver o mal funcionamento. Entrei e fiquei quieto sentado no meu canto, a bem da verdade me divertindo com a situação. O pai, meu grande amigo, sempre que eu fazia perguntas (ignorantes) sobre o mundo digital tirava um sarro da minha cara me chamando de imbecil, o que de fato e sem dúvida era, a bem da verdade continuo sendo, um pouco menos hoje, mas não tanto. A confusão dos dois na frente da telinha era grande com o pai furioso porque tinha que trabalhar. Estourei na gargalhada quando num dos acessos de fúria ele se auto declarou "imbecil". Fui posto para fora do apartamento e, expulso, saí as gargalhadas. Nossa amizade continua forte, afinal, imbecis unidos jamais serão vencidos.
Este texto já estava pronto na minha cabeça e foi catapultado pela ligação ontem de um outro grande amigo e pelo ótimo texto do Leandro Karnal "A vangarda do que nos aguarda", subtítulo "A tecnologia é uma máquina de exclusão etária. E um celular tocar sem pré-aviso no Whats é crime" publicado no O Estado de São Paulo / Cultura & Comportamento / C8 / 14 de setembro de 2022.
Meu grande amigo que ligou ontem conhece como poucos todos estes trecos da era digital. Na mão dele vi o primeiro computador, com sua tela pequena em tons de verde que precisava ser programada para funcionar, para mim uma mágica inexplicável. Ele ligou para perguntar se o número do novo celular dele aparecia no meu celular. O número não, mas o nome dele sim; portabilidade concluída. No meio da conversa disse, ou confessou, não sei bem, que está apanhando da Microsoft, desconhecida para ele que usa produtos Apple. Somos todos humanos.
O que tenho certeza é que este maravilhoso mundo digital pode ser excludente não só para idosos. Tudo funciona maravilhosamente bem até que você faz alguma coisa que o sistema não gosta ou não entende. Aí somos todos iguais. Ou seremos. Vivo dizendo para meus netos que um dia vão ficar velhos e também não vão enxergar as malditas minúsculas letrinhas do celular. "Você não precisa ler, basta falar (que o celular responde)" me dizem. Ri muito quando a besta ( querido neto) que me falou isto ficou rouco e o maldito sistema não reconheceu a nova voz dele simplesmente se recusando a funcionar. Admirável mundo novo.
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