Wagner mandou um Whatsapp pedindo para eu dar uma revisada na sua bicicleta. Faz tempo, não sei mais quanto, a com a pandemia perdi a noção de tempo, orientei a compra da bicicleta e fiz uma regulagem fina depois que a tirou da loja. Modelo básico, 21 marchas, aro 26, suspensão simples, sem segredos. Na primeira sexta-feira marcada para a revisão Wagner não veio por conta da chuva; apareceu ontem. Mesmo de longe pude ver que a bicicleta está inteira, bem cuidada. Cumprimentei ele enquanto ainda estava com o capacete laranja que combinava com o blusão vistoso. Entrou em casa, tirou o blusão quente, e quando foi pendurar vi que era da monitoria das Olimpíadas no Rio que ele fez. Tive uma discreta inveja.
Enquanto olhava feliz e admirado a excelente condição da MTB urbana básica, Wagner foi contando o que aconteceu com a bicicleta nestes sete meses que está pedalando. Nada demais: calibrou o pneu praticamente todos dias que saía, teve dois furos no pneu traseiro e um no dianteiro, e uma única reclamação: a corrente não está descendo com facilidade da coroa do meio para a pequena.
Mãos a obra.
Fiz a centragem fina das duas rodas por puro capricho; tinham com uma diferença mínima, muito bom sinal. Lubrifiquei e sequei a corrente explicando como fazer e deixando claro que não precisaria repetir a lubrificação por um bom tempo. Chequei como estavam os apertos de todos os parafusos e todos normais, bem apertados. Não precisou de mais nada.
- Meu senhor, sua filha está ótima.
- A menina se chama Marilia Pera.
- Belo nome, está ótima, parabéns.
- Obrigado.
- É possível ver como o ciclista pedala pelo estado da bicicleta. Principalmente os aros denunciam como pelada o ciclista. Estes pedais são ruins, nacionais, de um plástico frágil que quebra com facilidade. Se você pedalasse pesado, descendo guia na porrada, dando trancos no pedal, despreocupado com buracos, provavelmente já teriam quebrado. A bem da verdade é um espanto terem durado todos estes 7 meses. Você está de parabéns, é um ótimo ciclista; disse eu com toda sinceridade.
Marilia Pera, a bicicleta, é básica, com aros folha simples e V brake. É fácil saber se o ciclista freia bruscamente ou usa muito os freios, um erro para qualquer ciclista. "Ciclismo é a arte da suavidade". Os aros da bicicleta de Wagner estão muito pouco arranhados, mesmo ele tendo rodado bem. Fiz um cálculo muito por cima e ele rodou algo em torno de 100 km / semana, ou mais, o que em 7 meses dá uns 2.800 km, nada mal. Os aros estão ótimos. A bicicleta impecável.
Hoje não mais, mas num passado não muito distante eu ficava possuído quando via uma bicicleta maltratada, e é o que mais tem por aí. Não estou falando de ciclista que toda vez que chega em casa passa um paninho, de certa forma também um erro, mas daqueles que não tem a mais remota preocupação em cuidar do que tem, seja a bicicleta ou o que quer que for. Tudo esculhambado, dane-se. Eu não aguento.
A bicicleta pode estar suja, o que é até bom por afastar ladrões, mas a parte mecânica tem que estar impecável.
"Wagner, meus parabéns! Não pelo estado da bicicleta, mas porque olhando para ela sei que você é um ciclista seguro no trânsito. Do jeito que você pedala, e está escrito na bicicleta, a possibilidade de você sofrer um acidente é muito baixa, quase zero. Parabéns!"
E hoje fui consertar a bicicleta de uma amiga que gosto muito. Posso chorar? É a terceira vez que ela arranca a gancheira do câmbio. "Não fiz nada!" As pastilhas do freio a disco terminaram em 3 meses. "Não fiz nada!" Conversa vai, conversa vem descobri o erro. "Não fiz nada! Só pedalei sem óculos". É provável que nem perceba os erros que faz. Não adianta explicar. Posso chorar? Que seja! Agora, neste momento, ou pelo menos no momento que deixei a bicicleta ela estava funcionando. Bom... até a próxima. Ai! Ai! Ai! como é mesmo o cântico zen para acalmar? aum........aum........aum.......aummmmmmmmm.............
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